Homilia Terça-feira da IV Semana da Páscoa |Ano A

Terça-feira da 4ª semana da Páscoa, 02/05/2023 – Jo 10,22-30

  • Santo Atanásio, um bom pastor

Hoje aparece no Santo Evangelho uma expressão que explica muito bem a defesa da fé que Santo Atanásio realizou: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30). Efetivamente, o Filho de Deus é “Deus de Deus, luz de luz, Deus invisível de Deus invisível; gerado, não criado; consubstancial ao Pai, por ele todas as coisas foram feitas” (Credo niceno-constantinopolitano).

Ário (256-336) foi um sacerdote que fazia parte da Diocese de Alexandria e o seu bispo era o Dom Alexandre (312-328), que tinha ao seu lado o diácono Atanásio (295-373). Ário pensava que somente o Pai é Deus, consequentemente o Filho dele não seria Deus, mas tão somente uma criatura do Pai. O padre Ário polemizou tanto com o seu bispo e com o diácono Atanásio, que escreveu a “Thaleia” (Banquete), obra na qual defende suas ideias. O imperador Constantino viu que a polêmica não era apenas local, mas que se estendia por todo o império, por isso convocou um Concílio na cidade de Nicéia, no ano 325. Ao concílio compareceu vários bispos, entre eles Dom Alexandre acompanhado do seu diácono Atanásio; também o padre Ário estava presente. A fé católica venceu no concílio de Nicéia e foi proclamada a doutrina verdadeira de que Jesus Cristo, Filho de Deus, ele mesmo é Deus, assim como o Pai é Deus. A doutrina da Trindade Santíssima ficou a salvo em toda a Igreja: há um só Deus em três pessoas. Ário morreu um dia antes de sua reconciliação com a Igreja, que se daria no ano 336. Dom Alexandre, o bispo de Alexandria também morreu no ano 336. Seu diácono, Atanásio, com apenas 31 anos, foi ordenado bispo em seu lugar para a Igreja em Alexandria, governando-a por 46 anos.

Diante da morte do dom Alexandre e do padre Ário, o bispo Eusébio de Nicomédia, ariano, conseguiu convencer o imperador de que os culpados da falta de unidade no império eram os católicos que tinham a fé do concílio de Nicéia e que a melhor maneira de conseguir a paz seria emitir profissões de fé vagas o suficientes para que tanto católicos como ariano pudessem assiná-la. Os imperadores seguintes seguiram esta política. Santo Atanásio, porém, não quis seguir esta maneira vazia de viver a fé e, por isto, foi perseguido por ser católico, a tal ponto que teve de fugir de sua diocese por cinco vezes, refugiando-se em diversas cidade e no deserto, governando sua Igreja desde esses ambientes. A crise na Igreja foi tão forte que a maioria dos bispos se converteu ao erro ariano, especialmente a partir do ano 359, e nenhum deles ousava defender Santo Atanásio, que era o principal católico do Oriente. São Jerônimo chegou a escrever, com grande dor, que “a terra inteira gemeu e descobriu com surpresa que era ariana”. Somente no começo do século V, a Igreja voltará a ter um episcopado católico, conforme a fé do Concílio de Niceia.

Santo Atanásio havia defendido a fé católica como grande acerto, unção e argumentação no ano 325, sendo apenas diácono. A firmeza e as obras escritas deste santo doutor refletem que ele era realmente um bom pastor que falava em nome de Jesus Cristo, o supremo pastor dos fiéis. Enquanto os arianos defendiam um Deus transcendente, que não se mistura com este mundo, mas que precisa criar um semi-deus para criar tudo o que existe, Santo Atanásio defendeu que o Filho de Deus é gerado, não criado, que é Deus, mas é Deus próximo a cada um de nós, pois ele se encarnou, se fez homem, para que os homens pudessem ser elevados pela graça do mesmo Deus. Deus é transcendente e ao mesmo tempo é próximo, por isto vemos Santo Atanásio se dirigir aos simples cristãos, às virgens e aos monges, pessoas que vivem sua vida cristã na fé verdadeira. Realmente, a afirmação de Jesus de que ele e o Pai são um só Deus foi catolicamente defendida por Santo Atanásio, o qual a Igreja celebra no dia de hoje.

Pe. Françoá Costa

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