Ladrões do divino
Terça-feira- II Quaresma – C – Is 1,10-20; Sl 49; Mt 23,1-12
Jesus Cristo afirma que os fariseus “usam largos filactérios e longas franjas” (Mt 23,5) e diz que a finalidade dessas coisas exteriores era parecer piedosos diante dos outros seres humanos e assim se exaltarem. Você sabe o que são esses filactérios e essas franjas? Os judeus colocavam no braço ou na testa pequenos estojos com frases da Lei. Esses eram os filactérios. Efetivamente, em Dt 6,8 se lê: “Tu as atarás também à tua mão como um sinal, e serão como um frontal entre os teus olhos”. Também se lê em Nm 15,38 que os filhos de Israel deveriam fazer “borlas nas pontas das suas vestes” e que pusessem “um fio de púrpura violeta na borla da ponta”. Essas borlas eram as chamadas “franjas”. Esses detalhes materiais tinham como objetivo que o povo se lembrasse dos mandamentos do Senhor.
Essas coisas podem ser feitas, porém vejamos a diferença de objetivos. A Lei antiga os prescrevia para que o Povo se lembrasse de Deus; os fariseus do tempo de Jesus tinham, porém, como objetivo a vaidade, aparecer piedosos diante dos outros.
Nós também temos vários sinais externos, os quais não são condenados por Cristo. E, contudo, ele quer que tenhamos uma intenção reta na utilização dos sinais externos: Terços, Bíblias, correntes de consagração, hábitos e roupas religiosas não devem ser utilizados como objetos de ostentação, mas como lembretes de Deus na nossa vida. Esses objetos devem ter como fim o recordar-nos do Senhor, de suas leis e do grande amor que ele tem para conosco.
Longe de nós procurar a nossa própria glória utilizando as coisas de Deus. Se isso acontecesse, estaríamos cometendo um roubo sacrílego, pois estaríamos roubando a glória que a Deus pertence. Vamos dizer no dia de hoje, porém de maneira mais interior, mais convicta: para Deus toda a glória. Esse refrão está de acordo com aquilo que diz o próprio Senhor: “Não cederei a outrem a minha glória, nem a minha honra aos ídolos” (Is 42,8). Nunca deveríamos dar lugar à vaidade na nossa vida, menos ainda quando o objeto que rouba a glória de Deus é aquilo que ele mesmo nos deu, as coisas piedosas que servem para dar-lhe culto. Permitam-me falar mais claramente: chega de sermos ladrões do divino!
Padre Françoá Costa
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