Homilia Terça-Feira da I Quaresma | Ano C

A oração do Senhor e a nossa oração

Terça-feira – I Quaresma – C – Is 55,10-11; Sl 33; Mt,6 7-15

São Cipriano, raciocinava da seguinte maneira: “Se o próprio Cristo não nos tivesse permitido orar dessa maneira, nenhum de nós ousaria pronunciar o nome de Pai. Por isso devemos saber e lembrar que, se dizemos que Deus é Pai, precisamos agir como filhos de Deus, para que, do mesmo modo que nos alegramos de Deus Pai, ele também se alegre de nós” (Cipriano de Cartago, Sobre a oração do Senhor, 11). Se nós descobrirmos as várias implicações dessas palavras, rezaremos melhor o Pai-Nosso, vendo nela uma oração sintética da vida espiritual. De fato, o Catecismo – citando Tertuliano – fala que o Pai Nosso é o “resumo de todo o Evangelho” e que se encontra “no centro da Sagrada Escritura”.

A primeira palavra da oração dominical conquista o nosso coração com muita facilidade: “Pai”. Se nós descobrirmos a paternidade de Deus e o poder da consideração do sentido da nossa filiação divina, certamente a vida tomará um novo rumo: venceremos tristezas, depressões, pecados; vibraremos em alegria e no desejo de evangelizar mais “pé-no-chão”, realista e eficaz!

Como sabem, há duas versões do Pai-Nosso no Evangelho: Mt 6,9-13 e Lc 11,2-4. O texto utilizado na celebração da Eucaristia e nas nossas orações cotidianas é a versão de Mateus, cujo contexto é o sermão da montanha (Mt 5-7). De fato, “vendo Jesus as multidões, subiu à montanha” (Mt 5,1) e, logo após terminar o capítulo 7, o oitavo começa com as seguintes palavras: “Ao descer da montanha, seguiam-no multidões numerosas” (Mt 8,1). A primeira coisa a observarmos é o fato de que o Pai-Nosso é ensinado sobre a montanha, no lugar de encontro com Deus. Efetivamente, Moisés e Elias, os dois grandes homens do Antigo Testamento, estiveram com Deus sobre a montanha: Moisés no Sinai; Elias, no Horeb. A oração que o Senhor Jesus nos ensinou é uma oração das alturas, a qual, como já dissemos, pode até provocar vertigem.

Contra o palavreado inútil dos hipócritas, Jesus ensinou aos seus seguidores uma oração simples que se dirige ao Pai para pedir-lhe a santificação do seu Nome, o Reino, a vontade de Deus, o pão cotidiano, o perdão, o livramento da tentação e do mal; são as sete petições do Pai-Nosso. Um pouco diferente dessa versão de Mateus, Jesus, no texto de Lucas, chama Deus de Pai, para, em seguida, pedir a santificação do seu Nome, a vinda do Reino, o pão cotidiano, o perdão e o livramento das tentações; apenas cinco petições. Não há contradição entre os dois textos, apenas desdobramentos no texto de Mateus com relação ao de Lucas ou síntese no de Lucas com relação ao de Mateus. Pedir a vinda do Reino é, no fundo, pedir a vontade de Deus entre nós. Algo semelhante se pode dizer do livramento das tentações, pois quem consegue não cair nas tentações é porque o Senhor o ajudou e, indubitavelmente, porque Deus o livrou das ciladas de Satanás.

Padre Françoá Costa
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