Homilia Sexta-Feira da V Quaresma | Ano C

De pernas para o ar

Sexta-feira –  V Semana da Quaresma – C – Jr 20,10-13; Sl 17; Jo 10,31-42

“Os judeus, outra vez, apanharam pedras para apedrejá-lo” (Jo 10,31). O que há com esse povo? Parece que as coisas estão de pernas para o ar, pois querem apedrejar o próprio Deus. 

Falando em pernas para o ar, lembrei-me de Chesterton, que, além de ser genial, tinha uma grande amor à verdade e um bom humor de quem ama o mundo, inclusive como ele se encontra, a tal ponto de ao vê-lo com aqueles ideais que nada mais são do que antigas virtudes cristãs, porém enlouquecidas. Sendo assim, Chesterton, como dizia o nosso filósofo Gustavo Corção, “punha-se ele mesmo frequentemente de pernas para o ar”. Desta maneira, Chesterton entendia o mundo no qual vivia e iluminava os diversos aspectos dos mais variados problemas.

A perspectiva de Chesterton continua sendo bem válida. Observem: querem retirar o cristianismo do discurso público e são altamente condescendentes com religiões que se mostraram, pelo menos em alguns de seus membros, bem violentas. Se olhassem de pernas para o ar, aceitariam também o cristianismo medieval beligerante, igualmente violento. No entanto, eles querem uma religião de paz, a tal ponto de aceitarem a figura amável de São Francisco, sem aceitarem a radicalidade do cristianismo do Pobrezinho de Assis.

Contudo, a perspectiva Chestertoniana nos ajuda a avaliar as coisas inclusive dentro da Igreja: há muitos clérigos que ficam indignados quando retiram as cruzes das repartições públicas e, no entanto, eles mesmos retiram as torres e as cruzes de suas igrejas. Defendem que exista uma câmara dos deputados enfeitada com uma cruz quando eles mesmos não têm coragem de trajar a roupa clerical que os identifica – na Câmara dos servidores do Estado – como sacerdotes do crucificado, cuja cruz defendem que seja mantida na mesma Câmara.

Colocar-se às vezes de pernas para o ar para entender o mundo enlouquecido é uma perspectiva a ser observada pelo cristão que se percebe entre pedras nessa nossa civilização ocidental.

Padre Françoá Costa
Instagram: @padrefcosta

Facebook
Twitter
LinkedIn

Biblioteca Presbíteros