Homilia Sábado da V Quaresma | Ano C

Amáveis e perseguidos

Sábado –  V Semana da Quaresma – C – Ez 37,21-28; Jr 31; Jo 11,45-56

Agora já não querem apenas atirar pedras em Jesus, mas “resolveram matá-lo” (Jo 11,53). A implicância daqueles judeus contra Jesus que foi crescendo cada vez mais, lembra-me das diversas perseguições que os cristãos devem estar dispostos a sofrer atualmente pelo nome de Jesus. Vejamos um exemplo bem simples.

Certa vez dois jovens viram um sacerdote passar pela rua e decidiram incomodá-lo; um deles disse, então, uma terrível blasfêmia. Realmente, conseguiram o seu objetivo: o sangue do padre subiu fervendo, ainda que exteriormente o sacerdote procurasse mostrar a máxima amabilidade possível para falar com aqueles jovens não desde a imposição, mas com uma proposta inteligente. O padre disse aos jovens: “eu passei pacificamente pela rua, não disse nada a nenhum de vocês. Qual é a razão dessa blasfêmia? Vocês não respeitam a Deus?” Um dos jovens respondeu: “Deus não existe”. O sacerdote replicou: “se Deus não existe, então porque você blasfema contra alguém que não existe? Não me parece lógico”. O outro jovem, que estava ao lado do seu amigo escutando esse diálogo entre o padre e seu interlocutor, interviu: “olha, cara, eu acho que o padre tem razão: se Deus não existe porque você está blasfemando contra alguém que não existe?” O outro rapazinho, aquele tinha blasfemado, pensou por uns segundos e disse: “é mesmo, padre. Desculpa aí.” O sacerdote gostou da atitude daqueles garotos e terminou a conversa da seguinte maneira: “ainda que vocês não acreditem em Deus, eu vou rezar por vocês; pode ser?” Ao que eles responderam: “pode sim, mal é que o senhor não nos vai fazer?” O que aconteceu aos jovens depois daquela conversa com o padre eu não sei, o que eu sei é que aquele jovem padre continua convencido de que um gesto amável e uma proposta acompanhada de um sorriso valem mais que uma bronca.

Às vezes as pessoas necessitam alguém que possa dialogar com elas. Não se comportam dessa maneira simplesmente por “espírito de porco”, como se diz, mas é que ignoram as verdades mais básicas, inclusive as da lógica mais elementar. É preciso ter paciência, amar a essas pessoas e caminhar com elas, como Jesus, que comia com os pecadores e com os cobradores de impostos. Jesus, que veio salvar aos pecadores, conversava com os seus inimigos frequentemente e, mesmo sofrendo, do alto da cruz, mostrou-lhes um gesto de carinho suplicando para eles o perdão do seu Pai.

Não olhemos as pessoas desde cima, como se fossem inferiores a nós, ainda que nos considerem inimigos. A caridade exige justamente o contrário: colocar-nos ao serviço deles, ver os aspectos positivos dos demais, fomentar as qualidades que o outro tem e entrar – de certa maneira – no universo dele para procurar compreendê-lo. E, dessa maneira, desde a visão do outro, ainda que errônea, procurar encaminhar tudo para o bem, para Deus. E, se depois de todos esses gestos amáveis, resolvem nos apedrejar e até mesmo nos matar? Imitemos o Mestre: vamos ao Calvário!

Padre Françoá Costa
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