Fazer justiça
Sexta-feira – I Quaresma – C – Ez 18,21-28; Sl 129; Mt 5,20-26
A nossa justiça vem do Senhor, foi ele quem nos salvou e, por isso, podemos estar seguros: ela ultrapassa a dos fariseus e mestres da Lei (Mt 5,20). Para evidenciar essa afirmação é interessante entender o que é justiça na Sagrada Escritura. Ela é apresentada como prolongamento da verdade e exige dos seres humanos uma conversão, isto é, a descentralização de si mesmos e o voltar-se para Cristo. No fundo, essa conversão é a vivência constante daquelas palavras de Nossa Senhora: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Quem se coloca como servo de Jesus Cristo, servo do reino, vai se convertendo cada dia mais até chegar à plenitude dos desígnios de Deus para a sua vida.
A justiça que olha a miséria do pecador e vai ao seu encontro para salvá-lo, para convertê-lo, para atraí-lo ao Reino, só pode ser coisa de um Deus bondoso e misericordioso. Por isso a nossa justiça, mesmo sendo autêntica justiça, não pode ser justiça estrita no sentido de “cumprimento estrito da estrita lei”… isso seria odioso! “Fazer justiça” será, para um cristão, a exemplo de Cristo, viver segundo a vontade de Deus. É preciso que “façamos justiça”, isto é, vamos ao encontro das misérias dos nossos semelhantes, perdoando-os e ajudando-os. Vamos permitir que Deus reine em nós; dessa maneira se estará cumprindo a justiça.
A descrição a seguir é do grande literata russo, F. Dostoievski. Acho que poderá animar-nos a fazer um propósito bem concreto, refiro-me à importância de “fazer justiça”, deixar que o reino de Deus aconteça entre nós através da generosidade, uma das grandes manifestações dos servidores do reino. Uma das obras do escritor russo, “Noites brancas”, começa assim: “Era uma noite maravilhosa, uma dessas noites que apenas são possíveis quando somos jovens, amigo leitor. O céu estava tão cheio de estrelas, tão luminoso, que quem erguesse os olhos para ele se veria forçado a perguntar a si mesmo: será possível que sob um céu assim possam viver homens irritados e caprichosos?”
Será possível que nesta Quaresma você não procure viver, de verdade, a santificação, a justificação, a justiça de Deus na sua vida e na vida dos outros? Será possível tanta falta de agradecimento, tanta cegueira tanto para com as bondades de Deus quanto para com as misérias dos nossos irmãos?
Padre Françoá Costa
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