O para quê do Salmo 2
Segunda-feira do Tempo do Natal depois da Epifania – C – 1 Jo 3,22-4,6; Sl 2; Mt 4,12-25
Na Idade Média, os Cavaleiros Templários rezavam o salmo 2, de pé e em latim, antes de começarem as batalhas de Deus contra os inimigos da Fé. Hoje vamos meditar um pouco sobre esse salmo maravilhoso.
Os versículos de 1 a 3 expõe a raiva dos reis e dos povos contrários a Deus, perpetuando, dessa maneira, a inimizade do demônio contra Deus e seus filhos, isto é, a descendência da mulher (cf. Gn 3,15). Os versículos 4 e 5 nos falam da ira santa de Deus contra os seus adversários. Os versículos 6 a 9 falam do plano de Deus, que conta necessariamente com o seu Filho amado. Esta é a parte central do Salmo. Finalmente, os versículos 10 a 12 exortam os reis da Terra a servirem a Deus. Certamente, o serviço a Deus é também um grande bem para os governantes e, de fato, o Salmo termina dizendo que são felizes os que confiam em Deus; igualmente felizes serão os reis e os súditos que confiam no Deus vivo.
Como esse salmo é de uma riqueza extraordinária, vamos ficar apenas com algumas poucas ideias em torno do primeiro versículo: “Porque os povos se agitaram e as nações meditaram coisas vazias?” “Por quê”… Deseja-se saber os porquês das coisas que acontecem, especialmente quando elas são desagradáveis e, portanto, implicam padecer algum sofrimento. Mas… E o para quê? Sem dúvida, ser-nos-ia de maior proveito espiritual, pois dirigiríamos mais os nossos pensamentos e as nossas ações para a glória de Deus e o bem dos irmãos, principalmente quando sentirmos que a cruz, com o seu peso esmagador, caiu sobre nós. Deus tem planos e se empenha para que se cumpram; aqueles que lhe são colaboradores devem ajudá-lo através da oração, do sacrifício, de planos inteligentes e de ações concretas. Não podemos permanecer passivos diante do amor e da generosidade de Deus, que nos concede às vezes o privilégio de participar inclusive da cruz do seu Cristo. Para quê? Para dar glória a Deus e salvar almas; para isso, contudo, temos de estar bem alicerçados no fundamento da nossa vida espiritual: o sentido da filiação divina.
A filiação divina neste mundo, segundo São Paulo, está ligada à cruz – “Si autem filii, et heredes: heredes quidem Dei, coheredes autem Christi, si tamen compatimur, ut et conglorificemur” (Rm 8,17); isto é, filhos e herdeiros se padecermos com Cristo para sermos com ele glorificados. Será somente no céu que a filiação chegará ao estado perfeito dos ressuscitados, à glória: “caríssimos, já somos filhos de Deus, mas ainda não se manifestou a totalidade do que seremos; sabemos que quando ele aparecer, nós seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1 Jo 3,2). Se aqui na terra a nossa vida cristã nada mais é do que um desenvolvimento harmônico da filiação divina, no céu a realidade será a plenificação do que já se encontrava em andamento na ordem da graça.
Padre Françoá Costa
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