Homilia Sábado da Semana Santa | Ano C

O mistério do sábado santo

Por que Jesus Cristo desceu à região dos mortos?

O Catecismo da Igreja Católica vê a morte como aquilo que verdadeiramente é, a separação entre a alma e o corpo (Cf. Cat., 624). E enfatiza que, com o sepultamento do Senhor, podemos ver a sua verdadeira morte e, ao mesmo tempo, sublinha a permanência da encarnação. Isto é, durante o tempo em que Cristo permaneceu morto, a Pessoa divina mantinha unida a si o corpo e a alma de Cristo, que por sua vez encontravam-se separados. Neste ponto, o Catecismo cita um texto de São João Damasceno, do qual são estas palavras: “(…) na Morte, embora separados um do outro, ficaram cada um com a mesma e única pessoa do verbo” (em Cat., 626). É importante observar também que o Catecismo nos fala da incorruptibilidade do Corpo de Cristo quando se separa de sua alma e, citando São Tomás de Aquino, diz que “a virtude divina preservou o corpo de Cristo da corrupção” (em Cat., 627). Apoia tal incorruptibilidade a seguinte passagem bíblica: “porque não abandonarás minha alma no Hades nem permitirás que teu Santo veja a corrupção” (At 2,27). Santo Tomás de Aquino afirma que Cristo não sofreu a putrefação porque foi mantido íntegro no sepulcro pelo poder divino (cf. S. Th. III, 51, 3, ad 2).

A Escritura narra que um tal José, da cidade de Arimatéia, que “esperava o Reino de Deus” (Lc 23,51), pediu o corpo de Jesus a Pilatos e deu-lhe sepultura. Mateus faz notar que José era rico e que era discípulo de Jesus (cf. Mt 27,57), João diz-nos que “era discípulo de Jesus, mas secretamente, por medo dos judeus” (Jo 19,38). O fato é que esse discreto discípulo de Jesus, na hora em que quase todos o abandonaram, testemunhou sua fé perante as autoridades e deu sepultura digna ao corpo de Jesus. Segundo Lucas, esse José foi seguido pelas mulheres vindas da Galileia; Mateus informa-nos que uma das mulheres era Maria Madalena (cf. Mt 27,61). O evangelista João indica também outro personagem oculto, Nicodemos (cf. Jo 20,39), o mesmo Nicodemos que aparece em Jo 3 dialogando com Cristo sobre o nascimento do Reino de Deus. Chama a atenção o fato de que nesse momento aparecem os discípulos ocultos e as mulheres.

O corpo de Jesus está separado de sua alma, isto é, ele está verdadeiramente morto. As narrações bíblicas nos falam onde está o corpo de Jesus durante essas horas silenciosas após a sua morte, no sepulcro. Mas, não nos falam de sua alma e, contudo, a descida aos infernos encontra-se explicitamente na Profissão de Fé da Igreja. Mas, a que infernos Cristo desceu? À morada dos mortos, para libertar aqueles que descansavam no “seio de Abraão” (Cf. Lc 16,22-26), isto é, os justos. A descida do Senhor aos infernos, em primeiro lugar, significa a sua verdadeira morte, que Ele conheceu como todos os outros seres humanos, tanto assim que também esteve com sua alma na Morada dos Mortos enquanto o seu corpo permanecia no sepulcro.

Essa descida, no entanto, não significa somente isso, pois Cristo lá desce como o “Kyrios”, o Senhor, para libertar os justos, como antes ficou dito: “Cristo desceu, portanto, no seio da terra (Cf. Mt 12,40; Rm 10,7; Ef 4,9), a fim de que ‘os mortos ouçam a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem vivam’ (Jo 5,25). Jesus, ‘O Príncipe da Vida’ (Cf. At 3,15), ‘destruiu pela morte o dominador da morte, isto é, o Diabo, e libertou os que passaram toda a vida em estado de servidão, pelo temor da morte’ (Hb 2,14-15). A partir de agora, Cristo ressuscitado ‘detém a chave da morte e do Hades’ (Ap 1,18)” (Cat., 635).

Padre Françoá Costa

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