Homilia Sábado da IV Quaresma | Ano C

Jesus é somente um profeta?

Sábado –  IV Quaresma – C – Jr 11,18-20; Sl 7; Jo 7,40-53

Ele é o profeta? Ele é o Cristo? Quem é ele? (Jo 7,40-53). A Igreja se ocupou, também através dos seus estudiosos, em saber, de maneira cada vez mais profunda a resposta a essa pergunta: quem é Jesus? O estudo sobre Jesus Cristo ficou, teologicamente configurado, em uma disciplina chamada cristologia, cujo objeto é o próprio Jesus Cristo e sua salvação.

Há, basicamente, duas metodologias para chegarmos ao conhecimento teológico de Jesus: a primeira é mais tradicional e se poderia chamar, numa linguagem relativamente nova, de cristologia “desde cima” ou “cristologia descendente”; a segunda tendência metodológica esteve presente em alguns momentos da história e teve grande êxito na segunda metade do século XX, chamamo-la cristologia “desde baixo” ou “cristologia ascendente”. Essa consideração metodológica não é inocente, muito menos indiferente. Não é inocente porque por detrás da defesa de uma ou outra metodologia se encontra muitas perspectivas que, frequentemente, nos levam a interrogar se são ou não acordes com a Fé Católica. Tampouco são indiferentes, como se fossem meramente caminhos científicos para tratarem sobre o mesmo objeto: de fato, uma maneira ou outra de buscar a compreensão do mistério “Jesus de Nazaré”, influencia de maneira decisiva no resultado da pesquisa.

A cristologia-soteriologia dita “desde cima” se encontra aberta ao fato de que aquilo que sabemos sobre Jesus nos foi revelado por disposição divina e faz parte do plano eterno de Deus. Utilizando o método “descendente”, o estudioso fica atento aos dados da revelação expressados na Tradição e na Escritura, assim como a interpretação que o Magistério da Igreja fez sobre esses mesmos dados. Nessa perspectiva, aceitaremos o fato de que “o Verbo se fez carne” (Jo 1,14) e, portanto, conscientes de que Jesus Cristo é Deus que veio nos visitar tomando aquilo que é nosso, nos abriu o caminho para que a nossa realidade passageira chegasse à felicidade dos tabernáculos da divindade.

Desta forma, a cristologia “desde baixo” ou “ascendente” se encontra diante de um grande desafio. Assim como alguns contemporâneos de Jesus, vendo sua pessoa e suas ações, distorceram, com grande frequência, o significado da realidade, encontramo-nos também nessa tendência metodológica ascendente, erros verdadeiramente grotescos sobre quem é Jesus. Por exemplo, muitas vezes se deduziu que Jesus seria um pacifista; outras, um revolucionário; outros ainda, que se trata apenas de um homem iluminado por Deus. Muitas “cristologias”, que se vendem em livrarias cristãs, estão minadas por esses pensamentos. A cristologia “desde baixo” é frequentemente “Jesuologia”, isto é, busca o homem histórico chamado Jesus e, a partir de suas ações e palavras transmitidas no Evangelho, deduz uma série de teses difíceis de serem provadas.

Semelhantes teses, as quais frequentemente são as das chamadas “teologias da libertação”, estão em profundo contraste com a fé cristã. Deve, de fato, crer-se firmemente na doutrina de fé que proclama que Jesus de Nazaré, filho de Maria, e só ele, é o Filho e o Verbo do Pai. O Verbo, que “estava no princípio junto de Deus” (Jo 1,2), é o mesmo “que Se fez carne” (Jo 1,14). Em Jesus “o Cristo, o Filho do Deus vivo”(Mt 16,16) “habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2,9). Ele é “o Filho unigênito, que está no seio do Pai” (Jo 1,18), o seu “Filho muito amado, no qual temos a redenção […]. Aprouve a Deus que n’Ele residisse toda a plenitude e por Ele fossem reconciliadas consigo todas as coisas, estabelecendo a paz, pelo sangue da sua cruz, com todas as criaturas na terra e nos céus” (Cl 1,13-14.19-20). Reafirmamos, portanto, no dia de hoje, a nossa fé: Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, aquele que nos salva.

Padre Françoá Costa
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