Eita, linguinha!
Sábado, 6ª Semana do Tempo Comum – C – Tg 3,1-10; Sl 11; Mc 9,2-13
Hoje não se pode deixar Tg 3 de lado, pois fala sobre um pecado que é muito comum entre nós, o da língua. Gostamos de falar mal dos outros, detestamos que falem mal de nós. Se você for sincero, estará de acordo comigo de que é assim mesmo, também na sua vida. É impressionante a monstruosidade da fofoca: a língua coça dentro da boca, os olhos parece que aumentam, o nariz começa a esfumaçar, as bochechas ganham movimentos semelhantes aos vulcões antes das erupções. Apesar de eu ter exagerado um pouco nessa descrição, quiçá para torná-la mais expressiva, São Tiago vai além da minha maneira de dizer as coisas e explica que a língua “se jacta de grandes feitos”, orgulhando-se (Tg 3,5), ela “é fogo” que põe “em chamas o ciclo da criação” (Tg 3,6); a língua é algo que “ninguém consegue domá-la: é mal irrequieto e está cheia de veneno mortífero” (Tg 3,8), “com ela bendizemos ao Senhor, nosso Pai, e com ela maldizemos os homens feitos à semelhança de Deus” (Tg 3,9). Não é verdade que a minha descrição fica aquém dessas do apóstolo São Tiago?
Talvez uma das coisas que a gente tem que ter muito cuidado na hora de educar a nossa língua seja mortificar essa maneira tão polida que a gente tende a falar sobre nós, a tal ponto que fiquemos sempre exaltados e glorificados. Quiçá seja esse um bom começo para tentar domar a língua. Calar sobre as próprias qualidades é uma maneira de disciplinar a língua, mas também é um modo de viver a humildade. A meu ver, muitas vezes pensamos na língua doida para falar mal dos outros, para fofocar, e não pensamos na língua que exalta o próprio sujeito. Temos que derrubar, em primeiro lugar, o ídolo interior que existe dentro de cada um de nós: nós mesmos! E uma das maneiras é não dar culto a esse ídolo com a nossa língua. Depois, com o interior mais ordenado, vamos entender melhor o próximo e será, portanto, mais fácil, não ficar falando mal do nosso semelhante.
É isso mesmo: penso que nós falamos mal dos outros, porque não olhamos para nós mesmos. Fulano de tal não se enxerga e por isso não enxerga os outros. Se nos conhecêssemos melhor, veríamos que as lutas que os outros têm para serem melhores são bem semelhantes às nossas; que as qualidades dos outros são semelhantes aos nossos; que os defeitos dos outros são semelhantes aos nossos; ou seja, a pessoa que convive conosco é nosso semelhante. Brota, desta maneira, a compreensão para com o próximo e diminui a vontade de falar mal dele. Depois dessa pequena meditação não dá vontade de dizer para si mesmo: se enxerga!
Padre Françoá Costa
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