Homilia Sábado da 3º semana do tempo comum | Ano C

Antes e depois do sono de Jesus

Sábado, 3ª Semana do Tempo Comum – C – 2 Sm 12,1-17; Sl 50; Mc 4,35-41

Em meio à grande tempestade, Jesus estava dormindo tranquilamente (Mc 4,37-38) e, frequentemente, é essa o juízo que nós fazemos de Deus quando, depois de pedir, parece que ele não nos atende: Deus dorme diante dos meus pedidos, das minhas preces e dos meus gritos? 

Essa impressão que, por vezes, poderíamos ter, frequentemente mina a nossa fé, pois parece que Deus não liga para nós, para os nossos problemas. Por outro lado, quando estamos em dificuldade séria, facilmente ficamos mais sentimentais e, consequentemente, mais vulneráveis. Deus nos ajude a superar o sentimentalismo do momento e avançar rumo a Jesus com espírito de fé: “Mestre, não te importa que pereçamos?” (Mc 4,38). Sem dúvida alguma, essa frase expressa uma maneira bem realista de fazer oração. Eu tampouco vejo problema em rezar a Deus de maneira bem sincera, expondo-lhe nossos problemas, receios, questionamentos, quase que “apertando Deus contra a parede”. O Senhor não deixa de aprovar esse tipo de oração, uma vez que ele deseja ser “importunado” por cada um de nós, pois, provocando demoras, promove também a nossa oração mais atenta.

Bastam poucas palavras: “Silêncio! Quieto!” (Mc 4,39) e tudo volta à normalidade. Como se pode ver nessa passagem bíblica, Jesus não se dedica a explicar às pessoas porque ele estava dormindo, mas age com poder e, dessa maneira, tudo fica respondido. Sua humanidade santíssima, em seus tempos de carne mortal, cansava-se e precisava do necessário descanso. Isso é tão óbvio que nem precisava explicação. Contudo, esse não é o assunto. O importante mesmo é que Deus se levante e diga duas palavrinhas que dão solução às preocupações que nos detém aqui e agora.

Enquanto o Senhor dorme, aproveitemos também esse tempo para crescer no amor de Deus. Lembremo-nos que faz parte da nossa vida e espiritualidade buscar a árvore da vida, mas às vezes, ao buscá-la de maneira equivocada, podemos acabar dançando ao redor da árvore da morte, que é um ídolo. O ser humano quer encontrar a felicidade nas coisas imediatas, aqui e agora, e não busca a árvore que está na fronteira e que dá acesso à árvore da vida. Temos que aplicar diariamente à nossa vida a contemplação que fizermos sobre o mistério da Cruz, ou seja, carregar a nossa Cruz através da obediência e do amor. Será que estamos preparados para aproveitar, sem sair da presença de Deus, esse espaço de tempo no qual o Senhor dorme e, ao mesmo tempo, a cruz de Cristo nos atrai? Não se trata de um momento sem Deus ou de um tempo para viver como se Deus não existisse, mas para consolidar nosso amor à cruz do Salvador.

Padre Françoá Costa
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