Homilia Domingo da 4º semana do tempo comum | Ano C

Você tem coragem de ser profeta?

4º Domingo do Tempo Comum – C – Jr 1,4-19; Sl 70; 1Cor 12,31-13,13; Lc 4,21-30

No domingo anterior, 3º do Tempo Comum, o texto bíblico, do Evangelho segundo Lucas, terminava com Jesus lendo o texto de Is 61 e com essas palavras do próprio Jesus Cristo: “Hoje se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura” (Lc 4,21). De fato, o domingo passado estava todo transpassado pela ideia de que temos que escutar atentamente a Palavra de Deus. Neste 4º domingo do Tempo Comum, o Evangelho continua de onde paramos – Lc 4,21 – e inclusive começa repetindo o último versículo que tínhamos escutado no domingo anterior.

Diante de Jesus, primeiro o povo tem uma atitude de recepção, de admiração, de estupor. O Senhor não se deixa levar pelos elogios, mas penetra o coração deles com a verdade e inclusive mostra-lhes aquelas más disposições que eles tinham para receber sua Palavra, contando-lhes exemplos que aconteceram nos tempos de Elias e Eliseu, os quais mostram os corações endurecidos do povo de Israel. Quando Jesus coloca o dedo na chaga, a atitude do povo já não era de simpatia, mas de fúria e indignação, inclusive queriam matar Jesus: “Ele, porém, passando pelo meio deles, prosseguia seu caminho” (Lc 4,30).

“Nenhum profeta é bem recebido na sua pátria” (Lc 4,24). Lembrem-se que Jesus encontra-se em Nazaré, cidade na qual ele crescera, sua cidade. E por quê não são bem aceitos os profetas? Eu acho que não se pode responder a essa pergunta se antes não se sabe o que é um profeta. Como você imagina o imagina? Às vezes se pensa que o profeta é um ser absorto em contemplação, um tanto distraído, num estado de exaltação mística que o faz praticamente alienado da terra; outras vezes, como um sujeito estranho, com umas roupas estragadas, barbas sem fazer, uma pessoa que vive denunciando e gritando contra tudo aquilo que é oposto à causa de Deus; a terceira imagem que me vem à mente é a de um homem que parece que tem uma bola de cristal para adivinhar o futuro, profeta acaba sendo alguém que sabe o futuro. Pura imaginação! Eu nunca vi nenhuma dessas três imagens na vida real, contudo conheço vários profetas: cada cristão, pelo batismo, é sacerdote, profeta e rei!

Há algum tempo, você e eu refletimos o evangelho juntos e talvez você tenha observado que um dos nossos objetivos, talvez o principal, é encontrar nas páginas do evangelho o próprio Jesus Cristo que vem ao nosso encontro no nosso cotidiano. Trata-se de buscar força, exemplo e luz para a vida do cristão normal. No evangelho, Cristo nos encontra e nós o encontramos. Jesus participa do nosso dia-a-dia, no qual não acontece praticamente nada espetacular. Dentro desse realismo evangélico, profeta é qualquer cristão: esse homem ou essa mulher, pai ou mãe de família, jovem ou ancião, criança ou adolescente, que se veste normal, com amigos normais, em pleno uso de suas faculdades mentais e que, com a sua vida e com a sua palavra, anunciam Jesus Cristo no mundo de hoje no próprio ambiente. Profeta é você, profeta sou eu.

O profeta é uma pessoa que foi introduzida no Mistério de Cristo através do Batismo, que “viu” – com os olhos da fé – o Pai e o Filho e o Espírito Santo, e entendeu o plano de Deus para a humanidade e para cada ser humano. Depois dessa proximidade com Deus, o cristão-profeta se dedica a anunciá-lo convencido de que seguir o desígnio de Deus é o que realmente realiza o ser humano enquanto tal. Essa visão sobrenatural do profeta pode produzir, e de fato produz, verdadeiros choques na cultura atual cuja visão materialista, hedonista e naturalista se vê denunciada. No entanto, a denúncia é uma consequência do anúncio. Eu acho que não deveríamos descrever como tarefa principal do profeta a denúncia, mas o anúncio. Nós somos anunciadores e edificadores. O cristão não é um desmancha-prazer, um destruidor de coisas boas, um amargado com vontade de amargar a vida dos outros. Se um filho de Deus chega a destruir algo é simplesmente como consequência do anúncio de edificação. Como os fundamentos nem sempre estão prontos para receber o evangelho, eles caem, mas imediatamente se construirá e se fará um edifício muito mais forte e belo que o anteriormente edificado.

Neste sentido, entende-se a frase do Senhor quando diz que o profeta não é aceito na sua própria terra e, no entanto, Jesus não diz que isso tenha que ser sempre assim. O cristão, onde quer que esteja, deve procurar conquistar todos para Cristo com o seu humanismo, o anúncio do Evangelho e o poder da graça. E se o profeta e sua mensagem não forem aceitos? Pelo menos fez a sua parte. Aplicar-se-á a frase do Senhor que não é aceito, mas não se dedicará a sentir-se vítima dos demais e a reclamar; simplesmente sacudirá a poeira dos seus pés contra aqueles que não querem receber o seu anúncio e se dedicará a outros. Além do mais, com paz, com serenidade e com um sorriso nos lábios, deixará o caminho aberto caso queiram voltar a buscar a verdade de Deus junto a ele, profeta de Cristo.

Uma última consideração: um profeta de Deus diz sempre a verdade. Procurará dizê-la sempre com graça humana e sobrenatural, mas a dirá! Uma coisa é a simpatia para dizer as coisas, outra é enganar. Desses últimos profetas estamos fartos: eles deveriam falar em nome de Deus e não falam, leigos que tem vergonha de dizer que são católicos, sacerdotes que não tem coragem de falar que utilizar anticoncepcional é pecado, jornalistas que disfarçam a verdade com meias mentiras. Não! Assim não se é profeta! Não podemos ser como cães que não ladram.

Padre Françoá Costa
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