Homilia Sábado da 1º semana do tempo comum | Ano C

Obviedade da conversão

Sábado, 1ª Semana do Tempo Comum – C – 1 Sm 9,1-19; Sl 20; Mc 2,13-17

Jesus tomava refeições na companhia de pecadores e isso escandalizava alguns. O Senhor, porém, não voltava atrás nessa sua atitude, pois “Não são os que têm saúde que precisa de médico, mas os doentes. Eu não vim chamar justos, mas pecadores” (Mc 2,17). Efetivamente, os justos já estão em casa, são os pecadores que precisam entrar.

Diante da mudança de vida rumo a Jesus Cristo de um Levi-Mateus ou de qualquer outro pecador, é preciso ter em conta também que em cada pessoa que se converte faz-se presente esse aspecto dramático próprio da conversão. A ação de Deus vem ao encontro do ser humano necessitado, este precisa perceber a sua indigência diante do Criador, para mudar o trajeto da sua vida relativamente estável até o momento. A conversão implica uma mudança de mentalidade, de desejos e de afetos. O encontro dessa nova realidade com a anterior se dá com certo choque, por vezes bastante brusco. O drama da história é, ao nível do indivíduo, o drama da pessoa. Porém, o Deus que age na história universal é o mesmo que intervém na história individual de cada ser humano enchendo-o da graça que está em Cristo.

Esse drama da conversão se manifesta especialmente quando uma pessoa já começa a perceber quão maravilhoso será a presença do mistério de Cristo na sua vida. Dá-se então uma luta terrível entre tudo o que era e aquilo que virá a ser; trata-se também de que cada pessoa se deixe superar e não fique nos seus velhos esquemas vitais.

Junto com toda a Tradição, há que afirmar que a humanidade já se encontra substancialmente salvada (redenção objetiva), mas cada pessoa tem que aceitar essa salvação para si através da fé e dos sacramentos da fé (redenção subjetiva). Além do mais, esse processo através do qual cada ser humano recebe a salvação conquistada por Cristo se contextualiza no ambiente cultural e religioso de cada pessoa. A Igreja, de fato, acolhe o que de verdadeiro em determinados contextos religiosos, mas, ao mesmo tempo, rompe com as religiões porque se trata de uma destruição de toda corrupção, e muito especialmente da idolatria, que não pode dar-se no cristianismo.

Existe um único Deus, e esse Deus uno e trino não aceita compartilhar a adoração que lhe é devida. Isso também explica o choque dramático que se dá, por exemplo, na conversão de um pagão porque ele deve ser arrancado do poder do diabo. Pois sendo verdade que Cristo morreu por todos e a todos livrou do demônio, não é menos verdadeiro o fato de que muitas pessoas se aproximam do diabo atado e derrotado por Cristo. Ao aproximar-se do Maligno, essas pessoas caem sob o seu poder e custa soltar-se. As lutas que o demônio tem ao redor do pecador para mantê-lo preso sob o seu poder e a vitória de Cristo sobre essa alma encontram uma bela expressão na liturgia no Ritual do Batismo através dos exorcismos e das bênçãos que antecipam a recepção do Sacramento do Batismo.

Contudo, Levi não parecia tão amarrado assim pelo diabo, porém, no contexto atual, há que considerar tudo isso com mais calma na presença de Deus.

Padre Françoá Costa
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