Homilia Quinta-Feira da Páscoa | Ano C

Formação humana e divina

Quinta-feira, Oitava Pascal, C – At 3,11-26; Sl 8; Lc 24,35-48

Jesus apresenta-se no meio dos apóstolos, deseja-lhes a paz e ensina-lhes as chagas gloriosas da Paixão (Lc 24,36-39). Esta é a parte experimental, uma prova empírica da ressurreição. Em seguida, ele prova as mesmas coisas a partir da Escritura: “abriu-lhes a mente para que entendessem as Escrituras” (Lc 24,45). Esta é a parte mais teológica, mais sobrenatural, diante da qual se pede a fé teologal.

Certamente, o cristão católico dos nossos dias precisa utilizar esses dois métodos na hora de apresentar Jesus Cristo ao mundo e aos discípulos: o primeiro é mais experimental, racional, filosófico; o segundo é mais bíblico, teológico.

No primeiro caso, precisamos colocar a nossa inteligência ao serviço de Deus, lendo, meditando, estudando, aprendendo a falar com retórica e beleza. Desta feita, o cristão não pode isolar-se em um mundo religioso desconectado do cotidiano dos demais seres humanos. Certamente tem que entender também de futebol, de bebidas, de jogos, de desenhos animados, de videogames: você sabia que um playstation 5 custa em torno de 5 mil reais (no primeiro semestre de 2022)? Para que saber tudo isso? Para ter o que falar com os outros, para conectar-se com as pessoas. Há muita gente que não se interessa por Deus nem pela religião, mas se interessa por alguém que se interesse pelo que ele goste, aprecia, ama. Normalmente, o começo de uma boa conversa tem por conteúdo algo que as partes gostam. Paulatinamente, as pessoas vão entrando uma no mundo do outro e, desta maneira, se do seu mundo Jesus Cristo faz parte, os seus amigos hão de conhecê-lo necessariamente.

Mas não basta isso, temos que conhecer a Tradição da Igreja, suas Escrituras, seu Magistério, sua teologia. Precisamos, portanto, de uma boa formação doutrinal. Sem doutrina, não saberemos ter critérios para discernir, não conseguiremos ver as coisas de maneira sobrenatural e compartilharemos a mesma visão achatada, horizontal, da maioria das pessoas. Nós precisamos oferecer relevo às pessoas, isto é, uma dimensão vertical.

Mais um passo: não se trata de saber as coisas humanas de maneira superficial, mas de sabê-las mesmo, de apreciá-las, nós não vamos ao mundo para evangelizá-lo porque, na verdade, nós já estamos nele. Com Cristo, nós amamos o mundo (Jo 3,16).Não viemos de outro Universo nem de outro Planeta para evangelizar a Terra: somos mundo, estamos no mundo, somos do mundo, as coisas mundanas nos interessam. Somos do mundo sem ser mundanos.

Algo semelhante é preciso dizer sobre a dimensão mais teologal, sobre o conhecimento da doutrina católica. Temos que conhecê-la com profundidade. Não basta ler livros, catecismos, Bíblia, mas é preciso meditar sobre as coisas que foram lidas, para aprendermos a tirar as consequências para a nossa vida e para o nosso pensamento. No dia de hoje nós vamos fazer o propósito de cuidar um pouco melhor da nossa formação. Pode ser?

Padre Françoá Costa
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