Homilia Quinta-Feira da 3ª Semana do Advento | Ano C

Ser profeta

Quinta-feira do Advento – C – Is 54,1-10; Sl 29; Lc 7,24-30

João Batista é “mais do que um profeta” (Lc 7,26). Mas, o que é um profeta? Ao comentar Ap 5, Jean Daniélou dá ênfase à dimensão transcendente do mistério, isto é, o livro selado que contém o secreto destino do ser humano está na mão direita de Deus, mas nenhuma criatura, nem mesmo um anjo, é capaz de abrir e ler o livro, mas tão somente o Cordeiro. Dito de outra maneira: essa grande revelação pode ser conhecida somente através do Cordeiro de Deus, de Jesus Cristo. O Cordeiro não somente pode revelar os desígnios de Deus, mas revelou-os e cumpriu-os em si mesmo. Sendo revelador, o Cordeiro é também objeto da revelação.

Já na religião na Babilônia falava-se de livros celestes associando-os à ideia de revelação: o escolhido de Deus, um profeta, numa ascensão (anábasis) aos céus recebe o conhecimento do conteúdo dos livros celestes para depois comunicá-lo aos homens. Ainda que o judaísmo antigo desconheça essa concepção, em Ez 2,8-10–3,1-4 aparece essa ideia: o profeta é convidado a comer um livro e depois falar ao povo de Israel. Essa temática em torno aos livros misteriosos não podia ser, portanto, estranha ao judeu-cristianismo dos tempos primevos do cristianismo, tanto é assim que, dentro da apocalíptica, foi muito desenvolvida.

A dimensão profética do mistério de Cristo é de grande importância, mas há diferenças entre o profetismo tal como era entendido no judeu-cristianismo e Jesus. O Verbo encarnado não somente penetrou nos desígnios que Deus tem para o homem e para a história, mas os conhece desde sempre e de maneira própria. Além de conhecê-los, Ele mesmo quis vir à terra para realizá-los. Neste sentido, o descenso de Cristo não é para que ele conheça os livros selados, mas para administrá-los para o bem da humanidade: Cristo, revelador e revelação, continua a mostrar a cada pessoa os desígnios do Pai e oferecendo a cada ser humano a possibilidade de entrar efetivamente nesses mesmos desígnios. Desta maneira, cada pessoa pode converter-se em profeta, enviado a anunciar o projeto de Deus aos seus irmãos, os homens. Assim se realizará o desígnio do Pai: a nossa salvação em Cristo. Quando Jesus falou de João Batista dizendo que ele é mais que um profeta, o insere precisamente em tal lógica: um homem que viu os desígnios de Deus e, por isso, está preparado para ensiná-lo aos outros seres humanos. Você é consciente que você também é um profeta graças ao batismo? Qual a sua missão?

Padre Françoá Costa
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Instagram: @padrefcosta

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