Homilia Quarta-feira II Semana da Páscoa | Ano C

Amar o mundo sem ser mundano

Quarta-feira, II Semana da Páscoa, C, – At 5,17-26; Sl 33; Jo 3,16-21

Como amar o mundo sem ser mundano? (Jo 3,16). No fundo desta percepção encontra-se uma decidida afirmação do caráter vocacional da existência cristã, uma aguda percepção da capacidade santificadora do Batismo e uma profunda compreensão da compenetração entre criação e redenção, que impulsiona a ser “comtemplativos no meio do mundo”, mais ainda, a “amar o mundo apaixonadamente”. É possível amar o mundo especialmente através do trabalho profissional de cada um, considerado como realidade querida por Deus e incorporada, em virtude do decreto divino, à obra da redenção, que, presente no tempo, desemboca na eternidade. A espiritualidade apresenta-se como perspectiva de luz que incita a pôr de manifesto a riqueza do conjunto da mensagem cristã.

Dizia São Josemaria: “Aí onde estão as nossas aspirações, o nosso trabalho, os nossos amores – aí está o lugar do nosso encontro cotidiano com Cristo. É no meio das coisas mais materiais da terra que nós devemos santificar, servindo a Deus e a todos os homens. Na linha do horizonte, meus filhos parecem unir-se o céu e a terra. Mas não: onde de verdade se juntam é no coração, quando se vive santamente a vida diária…” (homilia Amar o mundo apaixonadamente, 8/10/1967).

De fato, São Josemaria Escrivá (1902-1975), que, a partir do ano 1928, teria como tema constante de sua pregação o anúncio de que todos os cristãos podem e devem ser santos, precisamente através do trabalho. Falava da chamada à santidade e ao apostolado no meio do mundo, nas circunstâncias e nas ocupações da vida ordinária (trabalho profissional, atividades culturais e sociais, matrimônio e vida de família etc.). Deste núcleo brota uma espiritualidade fundamentada no sentido da filiação divina, na identificação com Jesus Cristo – com uma atenção particular aos seus anos de trabalho em Nazaré – e na consciência da íntima conexão, por virtude da graça, entre o divino e o humano, entre a comunhão com Deus e o desempenho da própria tarefa e do próprio trabalho profissional no seio da sociedade civil.

Uma pessoa que reza muito e trabalha mal não está sendo coerente com a sua fé. O cristão, no seu ambiente profissional, deve procurar ser o melhor. Essa competência profissional lhe granjeará um nome e uma posição que podem servir-lhe como uma espécie de isca de pescador. Ou seja, as outras pessoas verão nele um homem de bem, um bom trabalhador, competente, responsável e, ao saber que se trata de um católico, admirará cada vez mais o cristianismo que tem essa capacidade de formar homens e mulheres tão capazes. Isso atrai! E não pense o leitor só em profissões consideradas em maior estima pelas pessoas, mas em toda e qualquer profissão honesta. Nesse sentido, é muito importante que resgatemos também o valor do trabalho que realizam as esposas e mães no lar. É um trabalho feito com muito amor, desgastante, mas, sem essa presença feminina e acolhedora os nossos lares não seriam tão agradáveis e serenos. E tudo isso é amar o mundo sem ser mundano.

Padre Françoá Costa
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