Homilia Quarta-Feira da II Quaresma | Ano C

Beber o cálice?

Quarta-feira- II Quaresma – C – Jr 18,18-20; Sl 30; Mt 20,17-28

É fácil sentar-se à direita de Jesus e à sua esquerda, o difícil é reinar com ele na hora da cruz (Mt 20,21-22). Na verdade, temos o perigo constante de querer fazer uma seleção de coisas que nos interessam no seguimento de Cristo.

Há palavras da Sagrada Escritura que são muito agradáveis ao ouvido: “O Senhor é o meu pastor, nada me faltará” (Sal 22), “Vinde a mim, vós todos os que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28), “Tudo posso naquele que me conforta” (Fl 4,13), “Tu, que habitas sob a proteção do Altíssimo, que moras à sombra do Onipotente (…)” (Sal 90). Outras, ao contrário, são menos agradáveis: “Não podeis servir a Deus e à riqueza” (Mt 6,24), “Afasta-te de mim, Satanás, porque teus sentimentos não são os de Deus, mas os dos homens” (Mc 8,33), “Vai, vende tudo o que tens e dá-os aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me” (Mc 10,21). Poderíamos continuar fazendo uma lista, mas já é suficiente. Talvez, uma dessas palavras incômodas do Evangelho é a de hoje: beber o cálice da Paixão, do sofrimento, da dor.

Essa tendência de selecionar o que mais gostamos na Bíblia, deixando de lado o que nos incomoda, poderia se aplicar à doutrina da Igreja, expressão fiel do Evangelho. Pode-se até aceitar que Deus é uno e trino, que Jesus Cristo é Salvador, que Maria é Mãe de Deus e sempre Virgem; mas a dificuldade se mostra quando se fala da doutrina da Igreja sobre o respeito à vida desde a sua concepção natural até o seu término natural, da doutrina católica sobre a castidade, ou ainda, da obrigatoriedade de participar da Missa todos os domingos e dias santos. Como é importante aceitar toda a doutrina cristã para que, iluminados por ela, o fiel de Cristo possa influenciar na sociedade, desde o cargo profissional que ocupa na esfera civil, para que haja um ambiente mais humano e cristão nesse mundo!

Fazer uma seleção dentro da Sagrada Escritura e da Doutrina da Igreja é heresia, a qual não é boa coisa! Seguir a Cristo é uma decisão com muitas consequências e que conforma toda a existência. Nós não podemos criar o nosso próprio código doutrinal e ético e depois apresentá-lo como se fosse doutrina de Cristo e de sua Igreja. Não! Ou se aceita ou não se aceita! Os Apóstolos, filhos de Zebedeu, disseram que queriam abraçar todo o Evangelho: “Podemos” (Mt 20,22), o qual é possível quando auxiliados pela graça de Deus.

Padre Françoá Costa
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