Homilia Domingo da 6º semana do tempo comum | Ano C

Confiança alegre em Deus

6º Domingo do Tempo Comum – C – Jr 17,5-8; Sl 1; 1 Cor 15,12-20; Lc 6,17-26

[Resumo: Os textos bíblicos nos falam de confiança em meio às tribulações. Confiança inclui esperança. Talvez seja um dia para situar as pessoas que se encontram em dificuldades em meios às dificuldade da vida e da Igreja, infundindo-lhes confiança no bom Deus, que não há de falhar]

Jesus estava em uma montanha, fez oração, escolheu os doze apóstolos para estarem com ele e enviá-los a proclamar a boa nova. Depois disso, o Senhor desceu da montanha e encontrou um “numeroso grupo de discípulos e imensa multidão de pessoas” (Lc 6,17). Esse segundo grupo e mais ainda o terceiro, o da multidão, era formado por pessoas sofredoras: pecadores, doentes, atormentados etc. A toda essa gente o Senhor lhes fala da felicidade, isto é, das bem-aventuranças (Lc 6,20-23).

Diferente da maneira de Mateus nos transmitir essas bem-aventuranças, Lucas diminui a lista e afirmou que são felizes quatro categorias de pessoas: os pobres, os famintos, os que choram e os odiados; com efeito, manda que eles tenham a seguinte atitude: “Alegrai-vos naquele dia e exultai, porque no céu será grande a vossa recompensa” (Lc 6,23). Humanamente não explica-se uma tal afirmação. Contudo a primeira leitura é uma das chaves interpretativas desse texto, pois o texto do profeta afirma: “maldito o homem que confia no homem, que faz da carne a sua força, mas afasta seu coração do Senhor!” (Jr 17,5) e, ao contrário, diz: “Bendito o homem que se fia no Senhor, cuja confiança é o Senhor. Ele é como uma árvore plantada junto da água” (Jr 17,7-8). Esse texto de Jeremias lembra-nos, quase imediatamente, do Salmo da Missa de hoje, pois o homem piedoso “é como árvore plantada junto a riachos; dá seus fruto no tempo devido e suas folhas nunca murcham; tudo o que ele faz é bem-sucedido” (Sl 1,3).

As bem-aventuranças em Lucas devem ser lidas, portanto, à luz do profeta Jeremias e do Salmo 1, cuja chave de compreensão é a confiança em Deus e a escolha do bom caminho. Efetivamente, afirmar, olhando para os discípulos, que felizes são os pobres, os que têm fome, os que choram e os que são perseguidos, parece algo verdadeiramente absurdo. Além do mais, depois de o Senhor dizer aos seus uma mensagem como essa, aparentemente tão desagradável, ainda quer que as pessoas continuem a segui-lo.

O Sl 1 fala do caminho do homem sábio e o do homem ímpio, dois caminhos que são objetos de escolha real para o ser humano. Aconselho a escolher a sabedoria e o caminho do céu. Nesse sentido, é importante confiar em Deus em todos os momentos, também quando as coisas ficam bem difíceis. Nos tempos atuais, não podemos excluir que em qualquer momento teremos que viver a Fé Católica, mesmo desprovidos de dinheiro e de outros bens materiais (pobreza), banhados em lágrimas e amados pela perseguição. Deus nos dê força para vencer todas as tribulações, bem confiantes neles, sabendo que se o nosso Pai do céu está permitindo tudo isso, então deve ser muito bom que essas coisas aconteçam.

O homem feliz é aquele que não está com os ímpios nem com os zombadores, mas aguenta que eles nos persigam, por vezes com grande maldade. Apesar dos pesares, confiantes em Deus, temos que estar felizes. Eu acho que umas das características mais notáveis dos apóstolos do século XXI deveria ser a alegria da fé. Quando os outros virem que nós estamos alegres por ser cristãos, verdadeiramente contentes e desejosos de participar da Missa, que a confissão passou a ser para nós o “sacramento da alegria”, que somos bem educados, que não “damos patadas” e procuramos não andar de cara fechada, que nos preocupamos por eles, que somos pessoas que sabem amar de verdade, então se convencerão do poder transformador do cristianismo, não só no âmbito pessoal, mas também em todas as esferas sociais.

Faz um bom tempo encontrei um panfleto intitulado “apostolado do sorriso”. Gostei! Entre outras palavras, dizia: “é suficiente um leve sorriso nos seus lábios para levantar o coração, para manter o bom-humor, conservar a paz da alma, ajudar a saúde, embelecer o rosto, despertar os bons pensamentos, inspirar obras generosas”. Como a bondade e a simpatia atraem! Os outros se convencerão de que, apesar dos nossos numerosos problemas, há alguém que nos mantêm felizes e risonhos. Eles buscarão descobrir o segredo da nossa felicidade e nesse momento… estaremos mais felizes. Por quê? Uma pessoa a mais se interessa pelo Deus da nossa alegria!

Diante das dificuldades da vida, o Senhor nos chama de bem-aventurados, felizes, se soubermos levar com sentido sobrenatural todas essas tribulações. Lembram do filho mais velho da parábola do “filho pródigo”? Sim, aquele que sempre estava na casa do pai, que ficou chateado quando o seu irmão voltou ao lar, representa também a cada um de nós quando, vivendo há tantos anos na casa do Pai, na Igreja, perdemos a capacidade de admirar-nos, surpreender-nos e alegramo-nos pela conversão de um novo adepto à causa de Deus e de manifestar confiança no Deus que realiza até milagres, se preciso for.

Aquele panfleto do “Apostolado do sorriso” terminava assim: “o teu sorriso pode levar esperança e abrir horizontes aos agoniados, aos deprimidos, aos descoroçoados, aos oprimidos, aos tentados e aos desesperados. O teu sorriso pode ser o caminho para levar as almas à fé. O teu sorriso pode ser o primeiro passo para levar um pecador a Deus. Mas, sobretudo, sorri à Santíssima Trindade. Sim, sorri às três Pessoas que moram na tua alma, enquanto aceitas com amor tudo o que elas te enviam e merecerás também o radiante sorriso delas, que será a tua felicidade nesta e na outra vida”.

Sorrir! Motivos? Temo-los de sobra: somos filhos de Deus, membros da Igreja, amigos de Deus, evangelizadores de Jesus Cristo, homens e mulheres de oração, pecadores perdoados por Deus, crucificados com Cristo através das constantes tribulações, necessitados de tantas coisas e ainda perseguidos por causa das causas nobres. Sorrimos porque somos felizes, porque Deus mora na nossa alma, porque queremos conquistar a todos para Deus. Tribulações, angústias, perseguições, fome, nudez, perigos (Rm 8,35), nem diabos… nada, absolutamente nada, poderá separar-nos do amor de Deus nem roubar a nossa confiança alegre em Deus.

Padre Françoá Costa
Instagram: @padrefcosta

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