Homilia Domingo da 4ª Semana do Advento | Ano C

Com Maria e Jesus

Quarto Domingo do Advento – C – Mq 5,1-4; Sl 79; Hb 10,5-10; Lc 1,39-45

“Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá” (Lc 1,39). Tendo Jesus em suas entranhas puríssimas, Maria foi visitar Isabel, sua parente. O texto fala “naqueles dias”, quando Maria recebera a grande notícia. Não é difícil imaginar Maria felicíssima com a dupla revelação que o anjo lhe trouxe: 1. Ela é Mãe Deus; 2. Isabel, mesmo velha, estava grávida. Ser Mãe de Jesus é algo grande, por isso Maria teria ficado alguns dias como que absorvida na contemplação deste mistério. Mas, logo depois Maria percebe a dimensão prática da segunda revelação: Isabel, já velha, está grávida e precisa de ajuda. Maria é dessas pessoas que estão felizes se podem ajudar, que não ficam quietas se não fazem o maior bem possível.

Maria é uma pessoa decidida e simples, o que se tem que fazer se faz, sem complicações: “Maria se levantou e foi às pressas”. Decisão! Rapidez! Força! E se tratava de ir a um povoadinho que ficava nas montanhas. Essa atitude de Nossa Senhora lembra aquelas palavras de São Josemaria Escrivá: “Vontade. – Energia. – Exemplo. – O que é preciso fazer, faz–se… Sem hesitar… Sem contemplações. Sem isso, nem Cisneros teria sido Cisneros, nem Teresa de Ahumada, Santa Teresa…, nem Iñigo de Loyola, Santo Inácio… Deus e audácia! – Regnare Christum volumus!” (Caminho, 11). Os nossos santos se fixaram em Nossa Senhora, mas principalmente em Jesus, que, diante da cruz, disse decididamente aos seus Apóstolos: “levantai-vos! Vamos!” (Mt 26,46). Efetivamente, uma pessoa santa é necessariamente uma pessoa humanamente decidida na vida, que vai às pressas, isto é, ao ritmo de Deus.

Essa cidade de Judá parece ter sido a atual Ein Karen: também atualmente chega-se lá vendo realmente umas montanhas baixas. Para ter acesso à igreja da visitação, se anda por umas ruas bastante campestres e depois se sobe por uma escada de vários  (quase inúmeros) degraus. É surpreendente a simplicidade do local, as várias placas com o cântico de Maria (magnificat) escrito em várias línguas, o silêncio, a bondade dos franciscanos que lá vivem e o ambiente de paz.

Maria “entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel” (Lc 2,40). E esse primeiro cumprimento foi tão especial que “quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo” (Lc 2,41). Maria é cheia da graça do Espírito Santo (Lc 1,28), quando ela está presente o Espírito vem (cf. Lc 2,41; At 2,14). É um desejo: que Maria entre em todos os lares para que todos os membros da Igreja fiquem cheios do Espírito Santo. Se um fiel quiser crescer na intimidade com o Espírito Santo, seja muito devoto à Nossa Senhora. Estando nas montanhas ou nos desertos da vida espiritual, peçamos a visita de Nossa Senhora. E enquanto ela não chegar, perseveremos! Quando a Santíssima Virgem Maria vier até nós, perceberemos a plenificação que o Espírito nos concede. Maria é chamada, com razão, de a ‘esposa do Espírito Santo’.  Ouçamos a voz de Maria, pois, cheios do Espírito Santo, faremos estremecer o nosso ambiente e os nossos amigos.

Temos que saudar mais as pessoas, como Maria (Lc 2,40). Dizer um “bom dia” e, em geral, usar aquelas fórmulas básicas de uma boa educação, ajuda a realizar um ambiente agradável, sereno e pacífico. O Espírito Santo veio sobre Isabel e a criança estremeceu de alegria no ventre de Isabel assim que Maria saudou Isabel (Lc 2,41). Cumprimentemos, sejamos bem educados, pessoas que mantêm o bom tom, pois um ambiente humanizado é preparatório para o Espírito e para um de seus frutos, a alegria. Assim como a saudação de Maria foi canal para o Espírito Santo, assim as nossas saudações poderiam ser portadoras de bom espírito, de alegria, de carinho; enfim, do Espírito Santo, que é o amor do Pai e do Filho.

Por outro lado, ouçamos as saudações dos outros: podem ser portadoras do Espírito para nós. Isabel ouviu a saudação de Maria! Há hoje em dia muito falar e pouco escutar. Como é bom encontrar alguém que nos escute. A experiência de cada um diz que quando se encontra alguém capaz de escutar-nos, damos mais importância ao que essa pessoa nos dirá. Não entendemos os outros, ou os entendemos mal, quando não os escutamos. Sobretudo, procuremos escutar a Deus, também através das outras pessoas, no cotidiano das nossas ocupações habituais: ele nos está cumprimentando ao chegarmos no trabalho, nos diz um bom dia bem-humorado quando chegam os domingos e feriados e vamos nos divertir um pouco, nos dá uma palavra de ânimo quando estamos diante dos livros e nos dispomos a começar a estudar.

A alegria do menino nas entranhas da mãe e a efusão do Espírito na própria mãe iluminaram a mente e aqueceram o coração de Isabel que “com um grande grito, exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre!” (Lc 1,42). Não é raro ver essa cena: uma mulher feliz, gritando e dando uma feliz notícia a outros; nesse caso, tal mulher se encontra como um vulcão de felicidade, tão cheia de gaudio que precisa deixar sair tanto bem de dentro de si. Santa Isabel se sente assim: desbordando de felicidade. Um cristão deveria estar sempre alegre, pois, como Isabel, sempre está com Jesus e Maria. Se entende certa tristeza daquele protestantismo inicial: sem Maria! Com o passar dos anos, uma pessoa pode superar a lembrança da tristeza, mas a causa que a origina pode continuar; nesse caso, alguém simplesmente se resignaria a viver triste por força do tempo. O melhor mesmo é estar com Jesus e Maria.

Padre Françoá Costa

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