Homilia do Pe. Matheus Pigozzo – Solenidade de São José

Hoje é um dia muito feliz, celebramos o padroeiro de toda a Igreja. Quando a Igreja nos apresenta um homem santo ela coloca diante de nós um modelo de fé e virtudes. São José, além de um forte intercessor diante de Deus, é um exemplo para todos os cristãos.

As leituras dessa Missa nos fazem recordar a posição de destaque que Deus colocou José na história da salvação. Perante a sociedade e as leis da época, José, esposo de Maria, dá legitimidade a Jesus pertencer à casa de Davi e, desse modo, realizar a promessa que o Rei verdadeiro e Salvador do povo nasceria na casa de Davi. José tem a ver com a realização da promessa de Deus para nós! Nosso coração se alegra com a liturgia com toda razão e gratidão.

Mas passemos agora a olhar o exemplo de São José para nossa vida cristã. Para crescermos em vida interior e amor a Deus precisamos de virtudes. Sem virtudes ficamos querendo construir um prédio sem alicerces. Virtude vem de força! Sim precisamos lutar contra nossa frouxidão para respondermos a Deus e a seu chamado. Temos que reconhecer que estamos numa cultura que nos empurra para a facilidade, para a moleza e irresponsabilidade e acabamos, muitas vezes, não tendo uma vida espiritual forte poque não queremos fazer nenhum esforço para sermos melhores, mais servis e vigilantes.

No Evangelho, se tirarmos o romantismo que costumamos inserir nas cenas, perceberemos que Deus derruba os planos de José. José iria casar com Maria e seguir o caminho que todo bom judeu seguia, mas, Deus o chamava para algo diferente e José ao descobrir isso, não ficou com traumas, nem choramingando, pelo contrário, com prontidão se coloca a serviço de Deus. Nós, como agimos? Quando descobrimos que nossos sonhos ou idealizações não são os planos de Deus, O abandonamos? Paralisamos? Reclamamos, ou seguimos com confiança de que Deus sabe o que é melhor para nós?

Outra força interior de José. Assumiu o que Deus queria mesmo podendo ficar mal perante a sociedade. As pessoas descobrindo que Maria estava grávida antes do tempo poderiam pensar mal dele, mas abraçou o que Deus queria sem medo de ser desprezado ou caçoado pelos outros.

José também mostra sua virtude, sua força interior de se responsabilizar pelos que lhe são confiados. Numa sociedade judaica, ainda mais daquele tempo, se tinha muito claro o papel do homem no casamento, como responsável pela segurança e liderança da família, tanto é assim que tradicionalmente a Igreja invoca São José como chefe da Sagrada Família. Essa consciência, diferente de ser um privilégio injusto como se pensa hoje, é uma responsabilidade que exige muito sacrifício e virtudes. São José nos mostra ser importante, para respondermos com generosidade e autenticidade o chamado de Deus e as missões que Ele nos confia, assumirmos nossa identidade. Teorias atuais, destrutivas para o ser humano, pretendem convencer a sociedade de que a identidade é uma construção tão subjetiva que não existe na realidade, todos podem ser o que quiser, apartado da biologia, função, posição, responsabilidade que, no fundo, não se é nada. José assumiu a identidade que Deus lhe confiou. São José exerceu sua missão, viveu o que lhe cabia e via nisso seu mais autêntico sim a Deus. O anjo apareceu à Maria para a gravidez, mas apareceu a José para o governo, porque essa era a missão dele. Sendo homem e chefe da família, José sabia sua responsabilidade e não negligenciou sua missão. Protegeu, conduziu, proveu, não abandonou! A atitude de assumir uma clara identidade, unida à confiança e obediência a Deus fez com que José realizasse em si os desígnios do Senhor. Pensemos… Como lidamos com nossas responsabilidades? Perseveramos no sim que demos? Nos preocupamos com os que estão ao nosso lado? Vencemos nossas inseguranças ou nos deixamos dominar pela fraqueza, preguiça e desculpas bonitas, nos esquivando de nosso sim a Deus? 

Diz o Evangelho que o anjo falou a José: “Não tenhas medo…”. Assim viveu o pai adotivo de Jesus, confiante em Deus, sem medo! O exemplo de São José parece ser muito importante em nossos dias. Em uma era sem Deus, vivemos um tempo da insegurança, medo e apequenamento. Sim, pois, nossa força, dizia São Josemaria Escrivá, é emprestada, sendo assim, sem Deus somos fracos. O salmo 111 ensina – “Confiando em Deus, seu coração está seguro”. José não temia a responsabilidade que lhe foi dada, porque sabia que era instrumento de Deus e vivendo entregue à providência e obedecendo o Senhor, seria sustentado. São José nos ensina a sermos otimistas e fortes diante das situações da vida, por sermos filhos amados de Deus e, por isso, sempre amparados por seu poder.

A missão de José era pesada e grave. Enfrentar as humilhações pelo julgamento das pessoas por Maria estar grávida; ter que levar a esposa esperando bebê entre os perigos do caminho e desgaste da viagem, para Belém; conseguir local para o nascimento do menino e condições de alojamento para sua família; fugir, à noite, tendo um rei com seus algozes atrás dele e dos seus; viver no exílio, arrumando sustento em terra estrangeira para sua casa; voltar à terra e recomeçar a vida ensinando a Jesus o trabalho para a manutenção da família. “Não tenhas medo, José”, disse o anjo. A confiança em Deus e em seus desígnios, nos tira do vitimismo e acanhamento e nos faz querer responder ao nosso chamado e realizar nossas atividades, assumindo nosso lugar no plantio do Reino de Deus.

O chefe da Sagrada Família não temeu realizar o que lhe cabia, não desistiu diante da carência material, não parou frente às calúnias, não estremeceu diante da maldade de Herodes, confiou naquela palavra – “Não tenhas medo, José”. Essa confiança e fortaleza são desafios e paradigmas para todos nós.

São José, colocado por Deus como pai adotivo de Jesus, continua à frente da família de Deus que somos todos nós, é intercessor poderoso e protetor vigilante. Não tenhamos receio de nos apresentar a ele como devotos para que ele nos consiga, através de sua familiaridade com Jesus, muitos favores do céu. 

São José, rogai por nós!

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