Hoje é Pentecostes! Celebramos a descida do Espírito Santo sobre a Igreja, povo de Deus. É muito interessante enxergar o paralelo trazido pela Liturgia: a primeira leitura da Missa da Vigília e a Primeira leitura da Missa do dia dessa solenidade. O texto de Gênesis mostra a cena da Torre de Babel: a humanidade se une com orgulho para erguer-se com as próprias forças e Deus dispersa-a com a divisão de línguas. Pelo contrário, no texto neotestamentário, os apóstolos, representando os povos da terra, se unem com humildade, cônscios de sua pequenez e fraqueza e ocorre a unidade – “cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua.” (At 2,6b).
A concórdia entre os povos, a unidade dos diversos, a paz entre as nações e na Igreja e a salvação do povo disperso pelo pecado está na abertura ao Espírito Santo, pois “ninguém pode confessar Jesus como Senhor a não ser no Espírito Santo” (Cf. 1Cor 12,13) e o Espírito Santo, por sua vez entra no coração que se despojou do orgulho e abraçou a humildade, pois, nos recorda o apóstolo – “Deus resiste aos soberbos, mas dá sua graça aos humildes” (Tg 4,6).
Os homens, iguais em dignidade, são diferentes em funções, temperamentos, dons, jeitos, aptidões, e essa diferença legítima é querida por Deus, a sociedade pode ser comparada, como São Paulo faz com a Igreja, a um corpo. Cada membro tem sua função, missão e diferença, e todos devem viver em unidade a serviço um dos outros.
Pentecostes é para mundo e principalmente para a Igreja uma festa de unidade. Dizia Santo Agostinho – “no essencial unidade, no não essencial liberdade, e em tudo caridade”. O texto dos Atos dos Apóstolos fala que desceram línguas de fogo sobre os Apóstolos e eles falavam e todos entendiam como numa só linguagem. Um dos pontos concretos da unidade da Igreja trazidos pelo Catecismo (n.815) é a proclamação de uma só fé recebida dos Apóstolos. Falar a mesma linguagem. O Espírito Santo gera unidade no essencial – adesão à doutrina revelada. Todos os povos, todas as funções, todos os carismas, na mesma e única fé. A Igreja do divino fogo é para todos! Mas, todos vem a ela para serem queimados na única chama que transforma. Não é Igreja quem não se deixa transformar para fazer-se um pela verdade de Cristo que liberta o homem do pecado.
Pentecostes nos apresenta essa ambivalência: a unidade irrestrita no essencial e a liberdade na variedade, no que é acidental. Poderíamos fazer um sincero exame de consciência nesse dia, nos perguntando quando, em nome de aplausos, comodismo, autopromoção e desejo de novidade e espetáculo atentamos contra a unidade da Igreja, quando diluímos a doutrina revelada, a escondemos ou pretendemos mudá-la como se pertencesse a nós, assim ferindo a unidade da Igreja que o Espírito Santo traz. Por outro lado, ainda em exame de consciência, cabe nos perguntar se, fechados em nossos particularismos, visões, opiniões, individualismos de piedade e até teológicos, queremos impedir a variedade da Igreja suscitada pelo Divino Espírito, naquilo que não é essencial; as vezes que, por orgulho, não sabemos nos vencermos para promovermos comunhão e paz na casa de Deus. A irrestrita unidade na fé e a sã variedade das pessoas são dons de Pentecostes! A Igreja deve estar no mundo e chegar a todos os ambientes, ocupações, locais e corações, levando o fogo transformador do Espírito Santo.
A Solenidade de hoje pode ainda nos fazer pensar na extrema necessidade de clamar o Espírito Santo para que o mal se retire e a santidade se difunda. Santa Elena Guerra dizia: “Quanto mais descuidarmos de recorrer ao Divino Espírito, tanto mais as potências do inferno se fazem tremendas no mundo; se tiver tempo depois de ter levado ao fogo eterno inumeráveis almas, deixará na terra só uma montanha de ruínas. É preciso que o fogo terrível da desonestidade seja apagado pelas onipotentes chamas do Amor Eterno, que é o Espírito Santo.”. O fogo da desonestidade é apagado pelo Fogo do Espírito Santo. Só Ele vence o mal em nós e no mundo: a covardia e egoísmo, a preguiça e sensualidade. Só n’Ele tudo é criado: a fortaleza e a piedade, a fé e a paz, a audácia e a mansidão. Cresçamos em devoção ao Espírito Santo e peçamos que venha sobre a face da terra e tudo seja renovado em Cristo.
Crer no mistério acontecido no Cenáculo, o mistério da impulsão da Igreja, conversão dos corações e afogueamento transformador, nos leva a imitar a atitude orante e suplicante dos Apóstolos. Decidir-se em crescer na devoção ao Espírito Santo pode ser um bom propósito para esse dia. Digamos a todo tempo, com fé: “acendei neles o fogo do vosso amor!”. Se esse fogo for aceso nossa fraqueza é superada, as divisões são supressas e os diversos tipos de guerras são pacificados.
Nossa Senhora, dócil e reconhecedora da voz do Esposo, ajuda constantemente a Igreja a pedir sua ação, defesa e instrução. Deixemos que ela nos ensine a dizer, como os apóstolos e os cristãos em todos os tempos: Veni!