Homilia do Pe. Françoá Costa – X Domingo do Tempo Comum – Ano B

Duas questões

 

O Evangelho de hoje apresenta-nos duas questões difíceis: o pecado contra o Espírito Santo e o os “irmãos” de Jesus.

“Todos os pecados serão perdoados aos filhos dos homens, mesmo as suas blasfêmias; mas todo o que tiver blasfemado contra o espírito Santo jamais terá perdão, mas será culpado de um pecado eterno” (Mc 3,28-29).

O Catecismo da Igreja Católica dá a interpretação autêntica dessa passagem com as seguintes palavras: “A misericórdia de Deus não tem limites, mas quem se recusa deliberadamente a acolher a misericórdia de Deus pelo arrependimento rejeita o perdão de seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Semelhante endurecimento pode levar à impenitência final e à perdição eterna” (Cat. 1864). No fundo, o pecado contra o Espírito Santo é um endurecimento interior que não permite a pessoa se arrepender dos próprios pecados. Logicamente, sem arrependimento não há perdão! Por outro lado, é muito difícil verificar se alguém pecou contra o Espírito Santo; na prática, até o final da vida de uma pessoa não se pode saber se tal impenitência foi um pecado contra o Espírito Santo. Em efeito, uma pessoa poderia se arrepender nos últimos momentos de sua existência e ser alcançado pela salvação. Definitivamente, a resposta a essa questão – foi ou não um pecado contra o Espírito Santo? – continuará, enquanto não chega o juízo final, conhecida somente por Deus e pela pessoa em questão.

Falar sobre o pecado contra o Espírito Santo deveria nos ajudar a ver que o arrependimento dos nossos pecados é uma graça de Deus. Ao mesmo tempo essa graça só nos alcança se nós quisermos: a salvação é obra de Deus em nós, mas não sem nós. Nesse sentido, a nossa súplica poderia ser semelhante àquela que muitos sacerdotes ainda rezam antes da Santa Missa: “Concedei-nos, Senhor onipotente e misericordioso, a alegria com a paz, a emenda de vida, o tempo para fazer penitência, a graça e a consolação do Espírito Santo e a perseverança nas boas obras. Amém”.

 

Quanto à segunda questão, vamos ler de novo o texto do Evangelho. Alguns disseram a Jesus: “Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e te procuram” (Mc 3,31). Jesus teve outros irmãos? Caso a resposta fosse afirmativa, Maria teria tido outros filhos. Mas isso não pode ser!

Nesse caso, a Bíblia Ave-Maria traz uma boa explicação no seu índice doutrinal: “São indicados: Tiago, José, Judas, Simão: Mc 6,3. Não se trata, porém, de irmãos no sentido estrito, filhos dos mesmos pais. Os evangelistas afirmam que Jesus foi o filho único da Virgem Maria: Mc 6,3; Jo 19,26ss. Nem há motivo para supor que São José tivesse outros filhos de um matrimônio anterior. Por outro lado, a palavra “primo” não existe nem no hebraico nem no aramaico. Os “irmãos de Jesus” tinham outra mãe que não Maria Santíssima. São Mateus em 27,56 menciona, entre as mulheres presentes à crucificação de Cristo, Maria, mãe de Tiago e José. Essa Maria é esposa de Cléofas, conforme Jo 19,25. Provavelmente se trata de uma irmã de Maria, mãe de Jesus. Portanto, Maria e seu esposo Cléofas eram os pais de Tiago e de José. Eles tinham ainda outro filho por nome Judas, que em sua epístola se diz irmão de Tiago. Esse Tiago só pode ser filho de Cléofas, pois o outro Tiago era irmão de São João Evangelista, que era filho de Zebedeu. Resta Simão. Egesipo o dá também como filho de Cléofas. Não constam seus pais. Tenha-se em conta que Nossa Senhora é chamada “mãe de Jesus” e nunca “mãe dos irmãos de Jesus”. Se Maria tivesse outro filho, Jesus não a teria confiado a João, filho de Zebedeu. A família de Nazaré aparece apenas com três pessoas: Jesus, Maria e José. Aos doze anos, Jesus vai ao templo exclusivamente com Maria e José”. Ainda que se trate de uma exegese complexa, é válida! Maria só teve um Filho: Jesus Cristo. Ela é a Virgem-Mãe!

Pe. Françoá Costa

 

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