Homilia do Pe. Françoá Costa – Quarta-feira de Cinzas

Nada nos separe de Deus!

Queremos estar sempre com o Senhor, a nossa vida só encontra sentido nele. Que nada nos separe de Deus! E, se por acaso, estamos longe, aproximemo-nos da Misericórdia. Com a celebração de hoje, inicia-se o Tempo da Quaresma, um espaço que a Igreja nos concede para que nos convertamos um pouquinho mais através da oração e da penitência mais intensas. Um tempo precioso para aproveitarmos a graça da reconciliação que o Senhor derrama sobre toda a Igreja e, para isso, vamos começar de uma maneira bem concreta: com o jejum e a abstinência.

Todas as sextas-feiras do ano e o tempo da Quaresma são dias de penitência de maneira especial. Hoje, particularmente, é um dia de penitencia em toda a Igreja que nos obriga ao jejum e à abstinência. Todas aquelas pessoas que já completaram 14 anos estão obrigados à abstinência; ao jejum estão obrigados somente os maiores de idade. Não obstante, depois dos 60 anos já não há obrigação de fazer jejum. Todos os fiéis, no entanto, devem crescer no espírito de penitência.

Em que consiste a abstinência? Consiste em não comer carne. No entanto, no nosso País, por determinação da autoridade eclesiástica, a abstinência pode ser de outro tipo, principalmente através de “obras de caridade e exercícios de piedade”. Com outras palavras, uma pessoa poderia comer carne (exceto na sexta-feira santa) e substituir por conta própria tal penitência por um terço, pela visita a algum enfermo ou ainda outra coisa que queira fazer, seja em forma de oração seja em forma de obra de misericórdia. Qualquer penitência vale! Mas é preciso fazer alguma. Na prática, e para não improvisar, o melhor é ter em mente o que se vai fazer e colocá-lo em prática.

E o jejum? Como fazê-lo? É suficiente atuar segundo o seguinte principio: fazer apenas uma refeição completa, todas as outras devem ser incompletas e sem o lanchinho da tarde. Na prática: um cafezinho simples, almoço normal, sem lanche e, em lugar do jantar, um lanchinho. E quem quiser fazer mais do que isso? É só fazer. Contudo, é importante que o nosso jejum não diminua a intensidade do nosso trabalho e a nossa atenção caridosa para com os outros. Fazer jejum a pão e água, mas ficar mal humorado e trabalhar sem vibração seria um contrassenso.

O tempo da Quaresma é o momento oportuno para que olhemos mais profundamente para o Mistério da Cruz. Olhar para a Cruz, contemplar esse Mistério é ir ao porquê de tudo aquilo que nós faremos durante a Quaresma. As orações, os jejuns e esmolas têm sentido porque nos põem em contato com a Cruz do Senhor. Além do mais, nós recebemos do Mistério da Cruz a força para unir-nos à mesma Cruz, ou seja, aquilo que Deus nos pede, ele nos concede: Deus pede que rezemos? Ele nos dá a graça da oração. Deus nos pede que façamos penitência? Ele nos dá a graça para realizá-la? Deus pede que partilhemos e que não sejamos egoístas? Ele nos dá a graça da generosidade e da esmola. O que está por detrás de tudo isso é a primazia da graça de Deus na nossa vida. Quando dirigimos o nosso olhar contemplativo ao mistério da Cruz do Senhor surge em nós o desejo de fazer aquilo que São Paulo fazia: “o que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Cl 1,24).

Desta maneira, se pode viver num autêntico espírito de penitência, isto é, com uma disposição permanente em provocar a morte –através da penitência– de tudo aquilo que nos separa de Deus. Ao mesmo tempo aprenderemos a oferecer ao Senhor as diversas dificuldades, dores e tribulações com sentido de expiação, reparação e intercessão.

Nesta Quaresma, Deus nos ajudará também a fugir do que poderíamos chamar “espiritualidade intimista”. Egoísmo e cristianismo são incompatíveis. Mantenhamos o olhar e o coração aberto às necessidades dos outros. A esmola da qual tanto se fala durante esse tempo litúrgico se refere exatamente a essa abertura aos outros. Além da ajuda material, talvez uma das coisas que os outros mais apreciam seja o nosso perdão acompanhado da compreensão fraterna. Nunca será exagerado recordar aquilo que dizia Santo Tomás: “a dissensão nas pequenas coisas não vai contra a caridade se existe concórdia nas principais”. Compreender! Compreender! Compreender!

Pe. Françoá Costa

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