Amados irmãos, nos reunimos hoje na memória de São José Operário. Esta festa é bem significativa em nossos tempos e pode nos levar a boas considerações. A providência divina, por meio do Papa Pio XII, colocou São José como modelo dos trabalhadores para ajustar a visão da sociedade sobre o trabalho. Grupos ideológicos estavam usando a imagem do trabalho e a figura do trabalhador como meios de revolução e interesses políticos. O trabalho estava sendo captado para ser um instrumento de divisões entre os seres humanos, difusor de invejas e rivalidades.
Em nosso século, de modo mais refinado e elegante, não menos equivocado, o trabalho passou a tomar um espaço quase de idolatria em muitas vidas. Há pessoas que vivem para o trabalho profissional esquecendo da família, dos amigos e até de Deus. O termômetro da sociedade passou a ser a economia. A rentabilidade individualista é o que mais pesa na balança da atualidade, não se respeitando, muitas vezes, por exemplo, a dignidade do trabalhador e do consumidor.
Olhar para São José no dia dos operários, parece ajustar e catequizar nossa visão sobre o trabalho. A liturgia, na primeira leitura, apresentou o próprio Deus como trabalhador, aquele que realiza a obra da criação. O homem, ao olhar para o relato da criação, pode ver labor e descanso, serviço e doação de si. No evangelho, vemos que o Pai quis que seu Filho fosse reconhecido como “filho do carpinteiro”, filho e aprendiz do operário. Deus quis trabalhar ao modo humano, não se envergonha do trabalho, santifica as ações operárias e mostra que todas as atividades humanas dignas são ocasião de amor e fé.
São José carpinteiro parece tirar a ideia do trabalho da frieza ideológica da época em que viveu Pio XII, como da também da idolatria materialista de nossos dias e resgatar o verdadeiro sentido do trabalho. Para uma pessoa de fé, o trabalho é ocasião de amar. São Paulo nos exorta – “quer comais quer bebais, quer façais qualquer coisa, façais para a glória de Deus” (1Cor 10,31). O trabalho pode ser oferecido a Deus, pode ser feito para a glória de Deus. São José mostra que o trabalho tem a ver com servir, primeiro à família e aos projetos vocacionais, depois, também aos que se beneficiam com seu trabalho.
Apesar de em nosso tempo muito dos esquemas da organização familiar terem mudado, não estaria errado dizer que, pela própria constituição natural do ser humano, recai primeiramente sobre o homem a responsabilidade do sustento da família, e o homem abrir mão de tomar para si isso tem trazido muita desestruturação na sociedade. São José trabalha para sustentar a casa, para prover o bem material a serviço do espiritual em sua família. São José, desse modo, é um modelo de homem íntegro que não fica de braços cruzados, mas se sente responsável pelos seus e faz do trabalho serviço à vocação e benefício à família. José é exemplo de prontidão contra a procrastinação. O homem que olha para São José é aquele que está em constante serviço pela família, seja no trabalho, mas também em toda ocasião: protegendo, revendo logísticas, provendo coisas, consertando a casa, chamando para si a atitude da força à serviço dos seus.
“Não é ele o filho do carpinteiro?”. José era reconhecido pelo trabalho que desenvolvia. Quantos se beneficiavam com a obra que suas mãos faziam, muitas vezes ajudadas pelo próprio Jesus. Trabalhar bem e servir as pessoas com o trabalho é dever do cristão. Aquele que tem fé, vê o trabalho como um modo de praticar a caridade, busca não ver só a materialidade do que faz, mas sim, as pessoas que são servidas pelo seu labor. Trabalhar com empenho, com capricho, ter pontualidade, gentileza, eficiência não é para chamar atenção a si, mas é para glorificar Deus, amar os irmãos e dar testemunho da fé que age bem e eleva o ser humano.
Com a figura de José, o trabalho voltou ao seu devido lugar, não é instrumento de revolução e nem objeto de idolatria, é, portanto, serviço à família e à sociedade para a glória de Deus. Deus criou todas as coisas e deu ao homem a administração delas, administrar bem é glorificar ao Pai que nos confiou a sua obra.
Por fim, devemos pensar em todos as pessoas que não têm trabalho ou trabalham em condições indignas, com salários injustos, nos unir a dor de tantos que estão tendo dificuldades de sustentar suas casas por falta de oportunidades e pela ambição de grupos sem caridade. Peçamos a São José que abençoe as famílias e dê a todos dignos empregos e justos salários e ainda, que interceda por todos os cristãos para que trabalhando bem e com compromisso sejam um sinal no mundo e influenciem o mundo no amor de Deus. Amém!