Homilia do Padre Françoá Costa – XXXIV Domingo do Tempo Comum |Ano A

Domingo: Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, 26/11/2023

Ez 34,11-12.15-17; Sl 22/23; 1 Cor 15,20-26.28; Mt 25,31-46

  • Rumo ao domínio de Cristo sobre todas as coisas

A Igreja, ao celebrar a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, desde o ano 1925, não identifica nunca o poder real de Cristo com um poder temporal. Aquilo que o Senhor Jesus disse a Pilatos é uma sentença a ter em conta à hora de considerar a festa de hoje: “o meu reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas o meu reino não é deste mundo” (Jo 18,36).

O Papa que instituiu a festa de Cristo Rei, Pio XI, também deixava isso bem claro ao afirmar que a realeza de Cristo “é principalmente interna e respeita sobretudo a ordem espiritual” (Carta Encíclica “Quas Primas”, 11-12-1925, nº 12). Contudo, um reinado espiritual não exclui a potestade judiciária, legislativa e executiva do Rei Jesus. Todas as coisas, também as temporais, lhe estão submissas. Segue-se, portanto, que a legítima autonomia das realidades criadas não significa independência dessas mesmas coisas com respeito ao seu Criador, mas que a realidade criada tem leis ínsitas ao seu mesmo ser e que devem ser respeitadas. Estas leis naturais têm a Deus por autor e mostram que tudo lhe está submisso.

É um erro gravíssimo tentar retirar a Deus da sociedade dos homens, pois um mundo sem Deus não é habitável, se estraga e se condena. Não nos esqueçamos de que teremos que prestar contas a Deus da administração que fizemos dos bens que ele nos deu para que os trabalhássemos e os colocássemos a serviço dos outros, conforme aquela parábola dos talentos (Mt 25,14-30), que se encontra no mesmo capítulo do juízo universal (Mt 25,31-46), lido nas Missas de hoje.

Dar de comer, dar de beber, praticar a hospitalidade, visitar os enfermos, entre outras obras de misericórdia, tudo isso é uma clara manifestação de que estamos fazendo frutificar os dons que Deus nos concedeu e, consequentemente, de que estamos fazendo efetivo o reinado de Cristo neste mundo. Somos ovelhas do Pastor e devemos seguir a orientação dele em cada momento. Tudo é de Deus. Mas ele quis que nós fôssemos seus administradores. Façamos a nossa tarefa, qualquer que seja, com competência, profissionalidade, amor a Deus e para o bem dos irmãos, oferecendo-lhe tudo o que somos e temos. Desta maneira não será difícil fazer que Cristo reine nas nossas inteligências, nas nossas vontades, nas nossas ações, em primeiro lugar. Em um segundo momento, Cristo também reinará, através de nós, no nosso trabalho, na nossa família, entre os nossos amigos e conhecidos. Neste sentido, o apostolado é uma clara manifestação de que realmente desejamos que Cristo reine: quem ama a Deus sempre está a procura de que alguém também o ame.

Através de nós, Jesus tem que reinar no Brasil e no mundo. Os primeiros cristãos tinham diante de si um império poderoso que aprovava muitas coisas vergonhosamente imorais. Eles não fizeram protestos públicos contra essas coisas, como hoje se faz, mas a coerência que eles tinham para com a verdade e, portanto, com Jesus Cristo, fazia toda a diferença. Explico-me melhor: por mais que ser a favor do estado confessional ou contra seja opinável, é preciso entender que, desde o início do cristianismo, aconteceu um fenômeno que ia desembocar necessariamente no estado confessional católico. Pensem comigo: uma pessoa convertia-se à Igreja e, pouco tempo depois, toda a família desta pessoa também; ao mesmo tempo acontecia a mesma coisa com outra família, com outra, com outra…

Acaso uma sociedade que tenha várias famílias católicas – e que, com o passar do tempo, terá todas as famílias católicas – não tomará conta de tudo e influenciará em todos os ambientes com a coerência cristã? Algo típico do cristianismo é, precisamente, esta coerência lógica. Por conseguinte, Jesus Cristo e suas doutrinas começaram a dominar tudo no executivo, no legislativo e no judiciário. Pois bem, chegamos ao estado confessional católico, ou seja, todos são católicos, todas as famílias são católicas, são os católicos que governam, legislam e julgam.

Certamente, os católicos desta sociedade deverão entender que, se ainda houver alguém que não se dobrou perante a verdade cristã, essa pessoa não poderá ser forçada nem ser morta, pois a fé não se impõe pela força nem pela ameaça da vida. Precisamente aqui estaria o campo da liberdade tão defendida hoje. Não se trata de uma liberdade de religião, pois, de fato, o erro não tem direito. As pessoas têm direitos e, neste caso, não devem ser coagidas a abraçar a fé católica, mesmo em um estado confessional.

A partir do que acabei de expor, penso que é possível compreender que uma única conversão tem consequências grandiosas. Mais ainda, a coerência cristã levará o mundo à Verdade, que é o próprio Jesus Cristo. Se os cristãos, porém, não forem verdadeiramente católicos, não acontecerá o fenômeno do estado confessional como causa final, ou, caso aconteça, será um estado confessional muito imperfeito. A bem da verdade, tudo o que há neste mundo é muito imperfeito, mas não podemos deixar de procurar fazer o melhor dentro das nossas próprias limitações. Para dizer “Viva Cristo Rei!” temos que procurar que Cristo reine de verdade, em nossas vidas e na sociedade.

Se eu aceito a fé cristã, tenho que aceitar, ao mesmo tempo, a evangelização, a conversão de famílias inteiras, a moralização dos costumes, a cristianização das leis, enfim… o estado confessional vai vir necessariamente, mais cedo ou mais tarde. Quando não se aceita a fé católica em toda a sua santa integridade, não se percebe a importância do proselitismo retamente entendido, questionam-se as conversões, defende-se a laicidade do estado sem muitas distinções, confunde-se a liberdade com a revolução. Certamente esses católicos não aceitam o estado confessional como causa final. Pelo contrário, questionarão até mesmo os direitos de Deus na sociedade em nome da laicidade do estado e da defesa de uma mal-entendida liberdade das pessoas. Alguns, inclusive, se sentirão orgulhosos de não “ferirem” culturas ao não batizarem os pagãos. Desde quando o batismo é algo anticultural? Deus abençoe o Brasil e Viva Cristo Rei!

Pe. Françoá Costa

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