Homilia do Padre Françoá Costa – XVI Domingo do Tempo Comum – Ano A

Cristão no meio do mundo

Será que alguns pensam que a cabeça foi feita somente para colocar o boné? Parece-me absurdo questionar-me dessa maneira. Mas, devido ao que se vê hoje em dia, sinto uma forte tentação de fazer tais interrogações. Por via das dúvidas, é interessante deixar bem claro: a cabeça foi feita para se usar, para pensar.

O cristão tem que usar os dotes de inteligência que o Senhor lhe concedeu colocando-os ao serviço do Reino de Deus. Uma das prioridades na nossa vida deveria ser, portanto, a formação: humana, profissional, espiritual, intelectual. E, nesse sentido, a formação para as virtudes é importantíssima. Um filho de Deus bem formado é uma joia maravilhosa no meio do mundo atual. A superficialidade e falta de vigor mental é uma das grandes dificuldades que podemos encontrar à hora de realizar o nosso apostolado. Por isso é importante que nós mesmos estejamos bem formados para entender, compreender e atuar com audácia apostólica. Necessitaríamos ser mais estratégicos.

Há um filme violentíssimo e bem realista, “Tropa de elite”, no qual o decidido capitão Nascimento ensina, por ocasião do duríssimo treinamento dos novos candidatos, uma palavra em várias línguas: estratégia. Você se lembra daquela cena? Excetuando a maneira de pronunciá-la, a palavra era quase igual nas diversas línguas utilizadas no filme. O cristão, em qualquer lugar em que estiver, deve ser santamente estratégico no seu apostolado. Tem que utilizar a inteligência auxiliada pela graça de Deus, tem que ser esperto e ganhar muitas pessoas para as fileiras de Deus.

Se perguntássemos a alguma planta herbácea da qual sai o trigo se ela se sente feliz em ser plantada na terra, ainda que junto a ela e nela mesma se infiltre o joio, não obteríamos resposta. As plantas não pensam. O ser humano, maravilha da criação, pensa inclusive sobre o próprio pensar e, portanto, pode ir dando respostas cada vez mais perfeitas às suas interrogações.

Na semana passada falávamos da importância das parábolas e da exposição da fé de maneira acessível. Isso não significa renunciar á linguagem teológica, aos conceitos da tradição, mas procurar ter a capacidade de traduzi-los. Desta maneira, introduziremos as pessoas no campo de Deus, da Escritura, da Tradição, da graça e, como consequência de tudo isso, as insertaremos na glória.

A Igreja Católica, sendo Santa, sempre fugiu dos diversos puritanismos, rigorismos e da mentalidade de seita, ou seja, duma visão estreita e separatista. Ela deseja que os seus filhos estejam no meio do mundo, convivendo com os seus iguais, como o bom trigo, e no mesmo campo que o joio. No entanto, o trigo não se sente mal, não se sente estranho no seu próprio ambiente. Se tivesse consciência, o trigo saberia que aquele é o seu lugar natural, deve estar aí, nem deseja que o plantem nos ares, aí não sobreviveria. Ainda que o joio, esta planta que engloba os vegetais e cresce às suas custas, lhe subtraia algumas energias, deve continuar aí no mesmo lugar.

Como o cristão é da terra, está inserido nas coisas deste mundo e as ama, tem que ter as ideias bem claras. Sem formação não poderá informar o mundo com a forma que Cristo quer para esse mundo. Que tipo de formação? É muito importante que esteja bem formado nos “rudimentos” da fé, deve ter pelo menos uma linha geral da história sagrada que se nos narra na Bíblia e ter uma informação amplia pelo menos dos últimos documentos mais importantes do Magistério da Igreja. Mais concretamente, o conhecimento da Sagrada Escritura, do Catecismo da Igreja Católica e dos documentos do Concílio Vaticano II é importantíssimo. Seria interessante que nos programássemos para, pouco a pouco, ir lendo esses três livros e ter sempre uma pessoa de referência para que possamos perguntar-lhe algumas coisas que não entenderemos na nossa leitura.

Com as ideias claras é preciso lutar por vivê-las. Todo o amplo mundo das virtudes humanas que podemos resumir nas quatro cardeais –prudência, justiça, fortaleza e temperança– e das virtudes teologais –fé, esperança e caridade– deveria ser o campo de um trabalho pessoal, constante e alegre. Não nos esqueçamos de que Deus teve a iniciativa, ele nos amou e colocou no nosso coração a capacidade de amá-lo.

Pe. Françoá Costa

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