Homilia do Padre Françoá Costa – VII Domingo do Tempo Comum – Ano A

Amor aos inimigos

Amor a quem? Aos inimigos? Sim. Aos que nos odeiam e aos que nos maltratam, aos que nos perseguem e aos que falam mal de nós, nem excluímos os que difamam a Igreja e os que injuriam os ministros de Deus. Também os insensatos que afirmam disparates contra a fé e os bons costumes tentando corromper a família, a juventude e as crianças, devem ser objetos do nosso amor que perdoa. Enfim, todos os que nos consideram inimigos – nós, ao contrário, não somos inimigos de ninguém – se sintam amados e perdoados por nós. O amor de Cristo não conhece fronteiras e nós, seus discípulos, também devemos desconhecê-las.

Cristo não pregou essa doutrina somente com a palavra, mas também com o exemplo. Do alto da cruz, depois de crucificado por aqueles deicidas, ou seja, por todos os pecadores, pronuncia aquelas palavras que continuam nos comovendo profundamente: “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Faz dois mil anos que essas palavras ressoam aos ouvidos do Pai que, em atenção a essa súplica do seu Filho, ao qual não fizeram justiça, continua perdoando e nos levando ao Paraíso.

“Mais do que em “dar”, a caridade estar em “compreender” (S. Josemaría Escrivá, Caminho, 463). O que nós fazemos para compreender aqueles que se dizem nossos inimigos? Será que nós pensamos que essas pessoas tem fome de Deus e de que, no fundo, desejariam ser felizes ao lado do Senhor? De fato é assim: eles desejam a felicidade e, consequentemente, desejam a Deus. Demos graças a Deus pelo dom da fé e pela boa formação que vamos recebendo no seio da Igreja, já que se não fosse a bondade de Deus para conosco seríamos piores que aqueles que, quiçá, julgamos endiabrados.

Certa vez dois jovens viram a um sacerdote passar pela rua e decidiram incomodá-lo; um deles disse, então, uma terrível blasfêmia. Realmente, conseguiram o seu objetivo: o sangue do padre subiu fervendo, ainda que exteriormente o sacerdote procurasse mostrar a máxima amabilidade possível para falar com aqueles jovens não desde a imposição, mas com uma proposta inteligente. O padre disse aos jovens: “eu passei pacificamente pela rua, não disse nada a nenhum de vocês. Qual é a razão dessa blasfêmia? Vocês não respeitam a Deus?” Um dos jovens respondeu: “Deus não existe”. O sacerdote replicou: “se Deus não existe, então porque você blasfema contra alguém que não existe? Não me parece lógico”. O outro jovem, que estava ao lado do seu amigo escutando esse diálogo entre o padre e seu interlocutor, interviu: “olha, cara, eu acho que o padre tem razão: se Deus não existe porque você está blasfemando contra alguém que não existe?” O outro rapazinho, o que blasfemara, pensou por uns segundos e disse: “é mesmo, padre. Desculpa aí.” O sacerdote gostou da atitude daqueles garotos e terminou a conversa da seguinte maneira: “ainda que vocês não acreditem em Deus, eu vou rezar por vocês; pode ser?” Ao que eles responderam: “pode sim, mal é que o senhor não nos vai fazer?” O que aconteceu aos jovens depois daquela conversa com o padre eu não sei, o que eu sei é que aquele jovem padre continua convencido de que um gesto amável e uma proposta acompanhada de um sorriso valem mais que uma bronca.

Às vezes as pessoas necessitam alguém que possa dialogar com elas. Não se comportam dessa maneira simplesmente por “espírito de porco”, como se diz, mas é que ignoram as verdades mais básicas, inclusive as da lógica mais elementar. É preciso ter paciência, amar a essas pessoas e caminhar com elas, como Jesus, que comia com os pecadores e com os cobradores de impostos. Jesus, que veio salvar aos pecadores, conversava com os seus inimigos frequentemente e, mesmo sofrendo, do alto da cruz, mostrou-lhes um gesto de carinho suplicando para eles o perdão do seu Pai.

Não olhemos as pessoas desde cima, como se fossem inferiores a nós, ainda que nos considerem inimigos. A caridade exige justamente o contrário: colocar-nos ao serviço deles, ver os aspectos positivos dos demais, fomentar as qualidades que o outro tem e entrar – de certa maneira – no universo dele para procurar compreendê-lo. E, dessa maneira, desde a visão do outro, ainda que errônea, procurar encaminhar tudo para o bem, para Deus.

Que bom é saber amar, saber perdoar, saber compreender. Graças sejam dadas ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo que quis difundir o amor que há entre eles às suas criaturas inteligentes. É verdade, Deus foi crucificado por amar. É verdade, talvez sejamos crucificados por amar. Mas, não tem problema, outros foram crucificados por roubar. Sempre se pode ser crucificado, o sofrimento é uma experiência universal. No entanto, somente o cristianismo pode oferecer o autêntico sentido do sofrimento porque tem o seu modelo em Cristo, o justo sofredor que morre perdoando os inimigos e os liberta das suas dores.

Pe. Françoá Costa

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
WhatsApp

Veja Mais