O consolo do perdão
“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”
(Mt 5,4)
Santo Ambrósio, Santo Hilário, São João Crisóstomo e Santo Agostinho entenderam que essa bem-aventurança se refere às lágrimas derramadas por causa dos nossos pecados; a consolação é o perdão dos pecados. “Todo pecador deve chorar. A quem se chora senão a um morto? E quem está mais morto senão o malvado? Coisa admirável: chore por si mesmo e reviverá; chore fazendo penitência e será consolado com o perdão” (S. Agostinho).
Santo Agostinho também deixou escrito que todo convertido é ferido por certa tristeza porque, além de não alegrar-se nas antigas “alegrias” da sua vida pecaminosa, tampouco possui ainda o amor das coisas eternas. É o Espírito Santo, o Consolador, quem o vai enriquecendo com a eterna alegria aqueles que perderam a alegria das coisas pecaminosas.
Que consolador é chorar os próprios pecados! Aquele que já teve essa experiência bem o sabe. Que alívio! Pode ser uma boa preparação para o Sacramento da Confissão ou até mesmo um fruto dela. Pode ser o começo da conversão, como também pode significar uma maior união com Deus. De fato, quem entende o que é o pecado são os santos, os pecadores o ignoram!
Os pecadores, sem saber ou sabendo, vão se destruindo a si mesmos. Que pena! Não dá vontade de chorar ao ver tantos jovens afundados nas escravidões das drogas, do sexo, da violência. Rapazes e moças que podem ter um futuro brilhante estão se destruindo pouco a pouco, encontrando nisso um prazer que poderíamos qualificá-lo como “quase macabro”. A imagem de Deus sendo destruída nessas pessoas! Não é triste?
É bom chorar os próprios pecados e alcançar de Deus a consolação do perdão. É meritório chorar os pecados alheios suplicando e conseguindo a misericórdia e o perdão de Deus para eles. Isso é caridade! Quem chora os próprios pecados alcança, por graça de Deus, a própria salvação; quem chora, ademais, os pecados dos outros, alcança a salvação – dom de Deus – para os outros e para si. Uma pessoa que é capaz de se com-padecer encontra-se muito próxima do Coração de Deus. Caso alguém diga que Deus não pode sofrer, responderemos sem discordar, mas levando em sério o quanto Deus se implica na situação das pessoas: “Deus est impassibilis, sed non incompassibilis” (S. Bernardo de Claraval), ou seja, Deus é impassível, mas não incompassível, ele se compadece de nós. Os nossos pecados realmente e de uma maneira misteriosa ofendem a Deus, mas ele tem a iniciativa: vem ao nosso auxílio, nos perdoa e nos salva.
É comum ler nas biografias dos santos que eles choravam pelos próprios pecados e também pelos pecados da humanidade. Esses cristãos que tinham intimidade com Deus sentiam delicadamente o que é uma ofensa a Deus. Pecar é ofender a Deus. Assim como nós nos sentiríamos mal se ofendessem alguém que consideramos o nosso melhor amigo, de maneira semelhante é-nos doloroso ver que se ofende a Jesus, nosso melhor amigo. Os santos choravam pelos pecados porque amavam a Deus. Eles tinham uma ideia um pouco mais clara de quem é Deus e do quanto ele nos ama. Eles chegavam a penetrar nos abismos da miséria porque viviam nos abismos do amor e da misericórdia de Deus.
Nós sempre estamos sendo convertidos e nos convertemos. Deus nos uniu a si, mas temos que seguir crescendo nessa união. Também nós, sentimos no coração que se ofenda tanto a Deus, bondoso e generoso para com todos, e sentimos também por essas pessoas que vão se destruindo paulatinamente no pecado.
No coração de um filho de Deus há uma espécie de paradoxo irremediável, pelo menos até que chegue a Parusia: por um lado, está sempre feliz e cheio de paz, o sorriso está estampado no seu rosto; por outro, sente uma espécie de dor pela situação presente. Entre a Trindade beatíssima, onde o cristão tem a cabeça e o coração, e a miséria mundanal, onde tem a cabeça, o coração e os pés, o cristão deve viver sempre levando a esse mundo e a todas as pessoas a esperança, a misericórdia e a paz.
Pe. Françoá Costa