Homilia do Padre Françoá Costa – III Domingo do Tempo Comum – Ano A

Todos têm vocação

Muito tempo há, dois irmãos foram pescar. Era a profissão deles e, portanto, um dia e outro também saiam ao mar, lançavam as suas redes e, dependendo de alguns fatores que eu não sei explicar bem, pescavam uma quantidade razoável de peixes. É verdade, segundo li nalgum lugar, que não eram infrequentes os dias de má pesca. No entanto, todos os dias tinham que estar lá, pescar era o ganha-pão da família deles.

O dia ao qual me refiro, era uma jornada costumeira, ordinária; um dia normal como todos os outros. Lá estavam os dois irmãos exercendo a sua profissão quando, inesperadamente, escutaram as seguintes palavras: “Vinde após de mim e vos farei pescadores de homens” (Mt 4,19). Pedro e André, os irmãos pescadores, “abandonaram as suas redes e o seguiram” (Mt 4,20).

Quem os chamou? Jesus de Nazaré. Eles o conheciam há muito tempo ou era a primeira vez que viam aquele personagem que os convenceu sobremaneira?  Seja como for, impressiona a docilidade de Pedro e de André à vocação. Pescadores de quê? Não, de peixes não, de homens. De homens? Sim. E como se pescam os homens? Os dois irmãos passariam mais ou menos três anos na escola de Jesus para aprender a pescá-los. Pescar peixes não parece ser fácil, pescar homens parece mais difícil. No entanto, acompanhando a Jesus, se aprende constantemente.

Faz algum tempo, Deus também nos chamou, a cada um pelo nosso nome. Você se lembra daquele momento tão entranhável no qual você percebeu que Deus o chamava a segui-lo buscando de verdade a santidade e o bem de todas as pessoas? Graças a Deus: respondemos positivamente ao Senhor! Talvez tenha sido na infância, talvez na adolescência, talvez ainda na juventude… Sempre é tempo de vocação (= chamada), Deus continua chamando-nos nas circunstâncias mais normais e cotidianas da nossa vida: no nosso trabalho, na nossa família, entre os nossos amigos.

Nós não vimos uma sarça ardente como Moisés; nem escutamos vozes como Samuel; tampouco fomos ungidos solenemente por um profeta como no caso de Davi; não nos visitou um anjo como a tantos no curso da história; nem tivemos visões nem revelações. Nada disso! E, não obstante, nós vimos a nossa vocação, nós percebemos que Deus nos chamava. A nossa vocação foi uma luz que deu sentido à nossa vida e essa luz interior permanece até hoje e, com a graça de Deus, não se apagará jamais. O que é a vocação senão essa percepção da realidade que Deus quer para nós, isto é, que sejamos discípulos para evangelizar. Duas palavrinhas resumem a nossa vocação: santidade, apostolado. Desde toda a eternidade, Deus pensou em nós, chamou-nos e capacitou-nos para que sejamos santos, para que sejamos apóstolos.

Todo cristão tem a vocação que lhe foi concedida por graça no momento do batismo: todos nós fomos chamados à santidade e ao apostolado. Com o passar do tempo, na escola de Jesus, essa vocação poderia receber uma nova especificação, por exemplo, no caso daqueles que são chamados ao sacerdócio ministerial. No entanto, a vocação à santidade e ao apostolado é igual para padres, para leigos e para religiosos. Todos devem ser santos, todos devem evangelizar. Por quê? Porque foram batizados. Além do mais, não existe uma santidade maior para os padres e uma santidade menor para os leigos, mas todos estão chamados à plenitude da vida cristã, à santidade. Com outras palavras: o padre não é mais santo porque é padre, nem o leigo é menos santo pelo fato de ser leigo. Não! A santidade é medida pela caridade e todos podem chegar ao auge do amor.

Pedro e André, os futuros São Pedro e Santo André, compreenderam isso. Eles seguiram ao Senhor Jesus, andaram com ele, permaneceram sempre perto de Jesus, atenderam os seus apelos de evangelização, fizeram a vontade do seu Mestre e… são santos. Aprenderam a estar com Jesus e a pescar homens. Aprenderam a ser apóstolos.

Todos nós somos chamados a “pescar homens e mulheres”, ou seja, conseguir que todas as pessoas que entrem em contato conosco ou que nós entremos em contato com elas, saiam desse grande mar do pecado e entrem na barca da Igreja quais peixes para Jesus. Não obstante, sair do mar, sair desse habitat de agua abundante que é o mar e passar à barca pressupõe morrer. Qual é o peixe que ao sair da água e ir para uma barca não morre, em primeiro lugar pela ausência da água? Essa morte para o mundo é, paradoxalmente, o começo de vida eterna. Os peixes que entram na barca não precisam se preocupar, pois essa barca tem água fresca, limpa e sempre nova que jorrou do lado aberto de Jesus na cruz para a nossa salvação.

Pe. Françoá Costa

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