Homilia do Padre Françoá Costa – II Domingo de Páscoa – Ano A

Meu Senhor e meu Deus!

Trata-se de uma bela profissão de fé e de um ato de adoração magnífico. Quão necessário é esse reconhecimento de Deus na própria vida e na sociedade atual! Na cultura do progresso e da técnica, da informação e das facilidades comunicativas, da exaltação do poder do homem e da cultura do mínimo esforço, o cristão tem que saber propor a aceitação de Deus, a profissão de fé na Trindade Santíssima e amor que provém de um coração renovado pela graça do Cristo Ressuscitado.

A Igreja deve continuar com o seu grito sem ruídos espaventosos a favor da primazia de Deus e dos valores espirituais em meio ao materialismo, hedonismo e relativismo reinantes. O cristão deve fazer ressoar esse grito em qualquer lugar onde se encontre, já que todo cristão é Igreja. Ainda que percebamos que há momentos em que o mal parece dominar a situação, é preciso manter a fé de que o bem sempre tem a última palavra e que nós, filhos e filhas de Deus, somos a voz de Jesus Cristo no meio do mundo.

Ninguém pode manter-se afastado dessa responsabilidade! Ninguém pode desinteressar pela salvação dos demais! Um cristão egoísta, preocupado somente consigo mesmo, e com horizontes que se restringem ao seu microcosmo, está perdendo tempo. Nós fomos feitos servos uns dos outros. A primeira leitura de hoje mostra como os primeiros cristãos viviam: na escuta da Palavra de Deus, na participação da Eucaristia, na oração constante, unidos, desprendidos dos bens materiais, no louvor de Deus e na caridade fraterna. Imitemos os nossos antepassados porque o resultado não decepciona: “O Senhor cada dia lhes ajuntava outros que estavam a caminho da salvação” (At 2,47). Os primeiros cristãos tinham dificuldades? Claro que sim. E não eram poucas: perseguições, divisões, egoísmos, misérias humanas em definitiva. No entanto, o frescor de um ideal que enchia as suas vidas os fazia seguir adiante com a esperança de chegar à santidade, à entrega cada vez mais plena ao Senhor Jesus. Assim sendo, podiam dizer com a consciência em paz: Meu Senhor e meu Deus! Nós também, com essa luta constante por ser santos podemos dizer que Jesus é nosso Deus e Senhor.

A Igreja não arrebanha mais gente e as multidões não vêm correndo às nossas paróquias porque nem sempre vivemos esse estilo de vida evangélica dos primeiros cristãos. Sem dúvida, na sociedade atual, entre os valores que mais se admirariam nos cristãos estariam a generosidade e o consequente desprendimento dos bens materiais. Atualmente, há uma preocupação geral pelo bem estar, pelo acúmulo de posses e de bens de consumo que causam admiração num coração magnânimo. A preocupação por ganhar dinheiro numa sociedade cada vez mais competitiva tem conduzido a muitas pessoas ao sacrifício de tantas realidades importantes que deveriam ocupar um lugar mais destacado na vida cotidiana: estar em família, cuidar dos mais necessitados, cultivar os bens do espírito e da cultura, saber descansar de maneira inteligente e serviçal. Alegremo-nos: Deus fez o Domingo! Talvez é esse o momento de lembrarmos que há um mandamento que reza que devemos “guardar domingos e festas”.

Temos que descobrir o valor da harmonia na própria vida. Saber conjugar o trabalho e o lazer, a família e os amigos, a gravidade e a diversão, o calar-se e o expressar-se, faz a vida mais agradável e ajuda a evitar as enfermidades que se encontram entre as que mais êxito tem nos nossos tempos: o estresse e a depressão. O coração do ser humano é tão grande que não pode contentar-se somente com o material, por mais abundante que seja. Toda pessoa necessita da adoração a Deus, de relacionar com um ser transcendente, de abrir-se ao mistério de Cristo morto e ressuscitado para a nossa salvação, ou seja, para a nossa felicidade temporal e eterna.

 

Pe. Françoá Costa

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