Homilia do Padre Françoá Costa – Finados

Outra visão da morte

Mais uma vez os cemitérios vão se encher de gente, as velas se consumirão em quilos, as flores serão objetos do nosso desejo estético funerário, muitas Missas serão celebradas e muitos terços serão rezados. Tudo isso é importante! Além do mais, consideraremos no dia de hoje – e com maior realismo – que o céu existe e é eterno, que o inferno existe e é eterno, que o purgatório existe e… não é para sempre. Por isso podemos rezar por todos aqueles que morreram: no caso de que ainda se encontrem no purgatório, sirvam as nossas orações para que entrem definitivamente no céu. Logicamente, quem está no purgatório não pode ir ao inferno. Contudo, umas das certezas que talvez se ofusque nesses dias é o realismo dessa expressão: também vamos morrer!

“Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23,46). Quem dera morrer com essa frase na boca e no coração! Sobretudo, quem dera morrer totalmente consumidos no serviço de Deus, numa entrega de amor cheia de intensidade! Começamos a nossa vida espiritual entregando-nos a Deus no momento do batismo, reafirmamos essa entrega durante toda a nossa vida e, naquele momento – Deus sabe quando! – quereríamos também colocar-nos nas mãos do nosso Pai do céu e morrer com a confiança de uma criança que simplesmente dorme nos braços do seu pai para acordar sob a contemplação do olhar amoroso do Eterno Pai.

São Josemaría Escrivá deixou escritas essas palavras cheias de confiança em Deus e que nos ajudam a ver a morte de uma maneira nova: “Não tenhas medo da morte. – Aceita-a desde agora, generosamente…, quando Deus quiser…, como Deus quiser…, onde Deus quiser. – Não duvides; virá no tempo, no lugar e do modo que mais convier…, enviada por teu Pai-Deus. – Bem-vinda seja a nossa irmã, a morte!” (Caminho, 739).

Quando? Não sabemos. Talvez não seja interessante sabê-lo. Não nos esqueçamos de que a nossa conversão é, principalmente, obra da graça, o qual não quer dizer que não devamos trabalhar. Talvez por esquecer-nos da primazia e da eficácia da graça de Deus nas nossas vidas, pensamos, ingenuamente, que si soubéssemos o dia da nossa morte nos converteríamos. Enganamo-nos! Repito: a conversão e a santidade são, principalmente, obras de Deus nas nossas vidas. É muito melhor viver na confiança e no amor: somos filhos de Deus, ele quer que cheguemos aos céus e nos dará todas as graças para alcançá-lo. Se fizermos o que está da nossa parte podemos confiar com a certeza que a fé nos dá de que veremos a Deus face a face.

Como? Tampouco sabemos. De morte morrida ou de morte matada? Atropelado ou afogado? De câncer ou de ataque cardíaco? Por delicadeza não continuarei enumerando as variadíssimas possibilidades de “dar uma morridinha”. Onde? Podemos morrer em qualquer lugar. Eu estava pensando que agora mesmo, enquanto escrevo esse texto, poderia morrer.

Bem-vinda seja a nossa irmã, a morte! Isso não é apenas linguagem poética, mas esconde uma grande verdade: o cristão que tem uma sadia curiosidade para ver o rosto de Deus – Pai e Filho e Espírito Santo – vê a morte como a possibilidade de uma realidade desejada. Logicamente, o desejo não é morrer, mas ver a Deus. A vida é sempre um dom que está por encima da morte, mas quando depois da morte se vislumbra uma vida sem fim, seria até lícito desejar a morte – não em quanto fim – mas em quanto “condição” para ver a Deus, sempre sob a amorosa vontade de Deus: somente quando Deus quiser!

Nós, os cristãos, não fugimos do mundo. Estamos muito bem aqui! Desfrutamos esse mundo que o Senhor criou para nós. Ao mesmo tempo, vivendo tão bem nessa pátria mundanal, apesar das tribulações da vida, somos conscientes que a nossa pátria definitiva é o céu.

Além de pedir muito ao Senhor no dia de hoje pelos nossos entes queridos, peçamos também que o Senhor nos prepare para quando chegar a nossa hora: que tenhamos entrada garantida na sociedade dos santos no céu.

Pe. Françoá Costa

Nota importante: Quando nos confessamos são-nos perdoados todos os pecados, mas perdoada a culpa fica a pena, ou parte dela; logicamente não fica a pena eterna, que seria o inferno. Permanece a pena temporal, pela qual merecemos entrar num estado de purificação (purgatório). Para aqueles fiéis que se encontram nesse estado, a Igreja lhe ajuda com as indulgências. As indulgências são aplicações dos méritos de Cristo e dos Santos para que sejam retiradas de nós ou daquelas almas a pena temporal merecida pelos pecados. Uma indulgência pode ser plenária, que retira toda a pena temporal merecida, ou parcial, que a retira só em parte. Para ganhar uma indulgência plenária (somente uma cada dia) é necessário: 1) confessar-se (com uma só confissão é possível ganhar várias indulgências); 2) comungar no dia em que se realiza a obra com a qual se merece a indulgência plenária; 3) realizar a obra indulgenciada estando em estado de graça (sem nenhum pecado mortal desde a última confissão bem feita); 4) desapego de todos os pecados, inclusive dos veniais; 5) rezar nas intenções do Santo Padre, o Papa. Em concreto, neste mês de novembro, concede-se indulgência plenária aplicável somente às almas do purgatório: 1º) aos fiéis que visitarem devotamente o cemitério, do dia 1º ao dia 8º de novembro, e rezarem pelos fiéis defuntos; 2º) aos fiéis que, no dia em que se celebra a Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos (2 de novembro), visitarem piedosamente a igreja ou oratório. Nesta piedosa visita recita-se o Pai-Nosso e o Credo.

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