Homilia do Padre Françoá Costa – Domingo da Sagrada Família

A superação das dificuldades familiares

A Sagrada Família – Jesus, Maria e José – é o modelo da família cristã. Esta afirmação é mais que conhecida. A Igreja, nos últimos anos, tem tocado nessa tecla com muita insistência, ao mesmo tempo tem defendido a família enquanto realidade constituída por um homem e uma mulher com os seus filhos. Sinceramente, eu não gosto de chamar a essa realidade de “família tradicional”, pois poderia dar a entender que existe outro tipo de família. A família constituída como Deus quis e como a natureza das coisas pede é, simplesmente, a família.

A família cristã tem o seu modelo na família de Nazaré e, como acabamos de escutar na Missa de hoje, se trata de viver perto de Deus, ao lado de Deus e ao lado dos demais, com muitas alegrias e… com algumas dificuldades! Imagino uma coisa que talvez pareça um absurdo: se S. José não fosse um homem de fé e de fortaleza humana, teria entrado numa grande depressão.

José, jovem e bem vistoso, estaria verdadeiramente enamorado pela jovem Maria, que seria também muito bonita. Desposado com Maria, mas ainda não vivendo juntos, José estaria animado e alegre na preparação do grande dia em que receberia a sua esposa em sua casa. Estando nessas coisas do coração, de repente fica sabendo que Maria estava grávida. Mas, como? Um anjo lhe aparece e lhe explica o mistério: “o que nela foi concebido vem do Espírito Santo” (Mt 1,20), logicamente sem nenhuma cópula carnal. José se submete aos planos de Deus, está contente, mas… pouco tempo depois… uma nova contrariedade! Terá que descer com sua esposa do norte ao sul, de Nazaré a Belém para alistar-se, porque assim tinha determinado César Augusto. Maria estava grávida e a viagem era larga. Muito mais agradável teria sido ficar lá, em Nazaré, e preparar o nascimento do menino por lá mesmo. Nascido Jesus nas condições de pobreza em que se encontravam, as quais devem ter sido uma nova contrariedade para o coração sensível de José, agora… deve fugir. Fugir? Sim, e além do mais para o estrangeiro, para o Egito, o pais da escravidão do povo de Israel. E lá vai José! Ele não fala nada, não protesta e obedece sempre ao querer de Deus.

Nós poderíamos seguir meditando nas contrariedades padecidas por aquele santo guardião de Jesus e de Maria, no entanto já é suficiente para que aumente a nossa consciência de que as contrariedades são uma benção de Deus: nos ajudam a amadurecer, nos fazem mais disponíveis, matam o nosso egoísmo e orgulho e faz crescer a caridade em nós. Tudo isso pode ser real se deixarmos que Deus trabalhe conosco e em nós.

Como é importante que paremos de lamentar: uma vez por que a comida está sem sal; outra, por que a camisa ficou mal passada; naquela outra ocasião, por que riram de mim; noutra ainda, por que não escutaram os meus argumentos. Enfim, o que está claro é que nessas ocasiões fazemos de nós mesmos o centro das atenções, e por isso sofremos. Talvez um dos segredos da felicidade de S. José seja o fato de que ele não ficava pensando nas próprias contrariedades enquanto tais, o que queria aquele homem santo era fazer felizes a Maria e a Jesus, o que o fazia sofrer era ver que os outros poderiam ter um desgosto. Era um homem esquecido de si mesmo. Em toda a Sagrada Escritura não lemos uma só palavra de protestação do justo José. E tinha motivos para lamentar-se, para protestar, para estar estressado. Mas não! Era um homem que amava a vontade de Deus e que estava totalmente ao serviço dos demais. Eis aqui o segredo da felicidade, também da felicidade na família.

Pe. Françoá Costa

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