Homilia do Padre Françoá Costa – Natal

Jesus: princípio, meio e fim

“No princípio” (Jo 1,1), assim começa o Evangelho segundo São João e assim inicia a leitura do texto evangélico da Missa do dia de hoje. Assim como o Antigo Testamento começa “no principio” (Gn 1,1), assim também o Novo Testamento. É interessante observar que a Bíblia, que se abre com uma explicação do principio de todas as coisas, termina desejando que a graça de Deus “esteja com todos” (Ap 22,21). E isso é possível pelo meio, ou seja, o principio e o fim de tudo se encontram no meio. Mas esse meio já é o fim, o começo do fim.

O que foi dito anteriormente não é nenhum trava-línguas. Retornemos ao Evangelho, “no principio”. Trata-se da eternidade de Deus, isto é, o Verbo de Deus já existia no principio eterno. Como se sabe, o Filho de Deus teve dois nascimentos: um, na eternidade, do Pai; outro, no tempo, de Maria. O primeiro é um nascimento espiritual, pois o Filho é “Deus de Deus, luz de luz, Deus invisível de Deus invisível”. Também pertence à nossa fé cristã que o Filho de Deus foi “gerado, não criado”. Esse nascimento eterno é, como expressa a frase, sem passado e sem futuro, pois a eternidade de Deus é uma duração sempre presente e cheia de dinamismo. A nossa maneira de falar dessas coisas sempre é imperfeita, ainda que verdadeira: o Verbo de Deus, isto é, o Filho de Deus, nasceu, está nascendo e nascerá sempre do Pai. O Filho nasce do Pai eternamente.

O segundo nascimento do Filho é temporal, é o que nós estamos celebrando hoje (natal é nascimento): o Filho de Deus, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, ao assumir carne humana nas entranhas puríssimas da Virgem Maria, depois de algum tempo, nasceu no tempo. Ele é Jesus Cristo, o ungido de Deus que é Deus conosco e que veio para salvar-nos, para estar conosco, para ser nosso amigo. No livro do Papa recém-publicado, Luz do mundo, Peter Seewald pergunta ao Papa se ele reza. E o Papa lhe responde: “a verdade é que eu tenho uma antiga amizade com Jesus”. É isso o que Jesus quer de nós, que sejamos os seus amigos.

O mistério da encarnação é essencial à fé cristã. De fato, uma pessoa não pode ser nem dizer-se cristã se não crê nesses dois mistérios: 1º) há um só Deus em três pessoas realmente distintas: Pai e Filho e Espírito Santo (mistério da Santíssima Trindade); 2º) a segunda Pessoa da Santíssima Trindade se fez carne (se encarnou = mistério da encarnação), se fez homem, e se chama Jesus Cristo. Encarnação e reencarnação são totalmente diferentes e irreconciliáveis. Encarnação é o mistério de Deus que se fez carne; reencarnação é uma crença muito antiga que afirma que uma parte do ser humano subsistiria depois da morte e se ligaria a outros corpos para conseguir determinados objetivos. A reencarnação é um dos pontos fundamentais do hinduísmo e do espiritismo. O cristianismo não aceita a reencarnação: “está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo” (Hb 9,27).

O mistério da encarnação é o meio da história e é, ao mesmo tempo, o principio do fim. Jesus Cristo nasceu na “plenitude dos tempos” (Gl 4,4) sendo o meio e a plenitude da história. “Há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem” (1 Tm 2,5). Mediador entre Deus e os homens na sua humanidade, media também entre a história profana e a história religiosa. Em Jesus se une toda a história. Ele é o sentido da criação, da história e da vida dos seres humanos, ou seja, nada se entende sem o Cristo de Deus. Nele se unem o divino e o humano, o invisível e o visível, o espiritual e o material, o começo e o fim, você e eu. Estamos unidos em Cristo.

Agora entendemos por que esse desejo de que “a graça do Senhor Jesus esteja com todos” (Ap 22,21). Deus eterno (no principio) veio para salvar-nos (no principio temporal), para ser meio, ponte, mediador – a través da sua própria humanidade – de todas as mulheres e de todos os homens, de toda a criação. Esse Menino que está no presépio e que nós beijamos reverentemente e com grande afeto é Deus. “O Verbo que se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14) e se chama Jesus. Que a graça de Deus se expanda e encontre a todos nessas festas natalinas.

Feliz Natal!

Pe. Françoá Costa

Facebook
Twitter
LinkedIn

Biblioteca Presbíteros