Homilia do Mons. José Maria – XXX Domingo do Tempo Comum – Ano A

Causa da Tristeza! Fonte da Alegria

Os fariseus, em grupos, continuam preparando armadilhas para Jesus. Queriam surpreender Jesus em alguma contradição e ter motivo para condenar. A pergunta, aliás, foi muito inteligente, apesar da má intenção. De fato, havia um acúmulo de leis. Qual seria a lei maior? Porém, pesquisar a essência da Lei era uma questão apaixonante para os homens religiosos do tempo de Jesus. Qual é a coisa realmente importante para Deus, no vasto acervo de tantos preceitos? Jesus participou também ele deste esforço de unificação. À pergunta: “Qual é o maior dos mandamentos?,” respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o coração; amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas”. Alguns afirmavam que o maior de todos os mandamentos era guardar o sábado. Outros diziam que todos os mandamentos tinham o mesmo valor. Além disso, os Judeus tinham 613 mandamentos (a maioria proibições).

Jesus responde, buscando fundamentação em duas passagens da Bíblia: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento!” (Dt 6,5). E, “amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). Amar a Deus e amar ao próximo: se fossem espontâneos ou fáceis, não seriam mandamentos.

Define o Amor de Deus e ao próximo como o centro essencial da Lei. Esses dois mandamentos são a expressão maior da vontade de Deus. É o resumo de toda a Bíblia. Podemos dizer que Jesus convida à alegria, porque é um apelo ao amor. O mandamento do amor é ao mesmo tempo o da alegria, pois esta virtude ensina São Tomás: “não é diferente da caridade, mas um certo ato e efeito seu”. Por isso, um dos elementos mais claros para medirmos o grau da nossa união com Deus é verificarmos o nível de alegria e bom humor que pomos no cumprimento do dever, no trato com os outros, à hora de enfrentarmos a dor e as contrariedades.

Quando os fariseus se aproximaram de Jesus e lhe perguntaram qual era o principal mandamento da Lei, Jesus respondeu-lhes: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças. O segundo é semelhante a ele: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. É disto que precisamos: de procurar o rosto de Deus com tudo o que temos e somos, e de servir o nosso próximo, abrindo-nos a ele e esquecendo-nos de nós mesmos, fugindo da preocupação obsessiva pelo conforto, abandonando a nossa vaidade e orgulho, colocando o olhar longe de nós mesmos…, amando.

Precisamos aprender de Jesus e dos santos como viver a caridade. A caridade é a virtude mais importante nesta terra, e será também a nossa ocupação no Céu. Aqui exercitamos o que depois viveremos em perfeição. Quem de nós não precisa progredir no caminho do amor a Deus e ao próximo? Precisamos progredir no amor.

O amor-caridade do qual fala o Evangelho é sair de si mesmo, desinstalar-se, desacomodar-se para fazer o bem ao outro. Exige compromisso com a verdade e com o bem objetivo diante de Deus. Esse amor não é um sentimento, mas um ato de vontade, que pode ou não ser acompanhado por um sentimento. Amar é querer o bem para o outro. É a razão iluminada pela fé que dirá o que é o bem e o mal para o outro. O amor supõe a verdade e a justiça aos olhos divinos. Daí que ensine a Bíblia: “amar também é dizer não”.

Muitos pensam que serão mais felizes quando possuírem mais coisas, quando forem mais admirados…, e se esquecem de que só necessitamos de “um coração enamorado”. E nenhum amor pode saciar o nosso coração – que foi feito por Deus para alcançar a sua plenitude nos bens eternos — se vier a faltar o Amor com maiúscula! Os outros amores limpos –se não forem limpos, não serão amor– só adquirem o seu verdadeiro sentido quando se procura o Senhor sobre todas as coisas. É por isso que nem o egoísta, nem o invejoso, nem quem tem colocada a sua alma nos bens da terra… podem saborear a alegria que Jesus prometeu aos seus discípulos, porque não saberão amar, no sentido mais profundo e nobre da palavra. Ensina Santa Teresa: “Quando é perfeito, o amor tem esta força: leva-nos a esquecer o nosso próprio contentamento para contentar Aquele a quem amamos. E verdadeiramente é assim, porque, ainda que sejam grandíssimos os trabalhos, se nos afiguram doces quando percebemos que contentamos a Deus” (Santa Teresa, Fundações, 5,10).

Exorta S. Paulo: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito, alegrai-vos!” (Fl 4,4). Quando a alma está alegre, abre-se e ganha asas para voar para Deus e para exceder-se no serviço aos outros; um coração alegre está mais perto de Deus, dispõe-se a levar a cabo grandes tarefas e é estímulo para os seus irmãos. Por outro lado, no meio das grandes contradições que se abatiam sobre os primeiros cristãos, a alegria era uma fortaleza e o melhor meio de atraírem os outros à fé.

A tristeza não resulta das dificuldades ou sofrimentos mais ou menos graves, mas de se deixar de olhar para Jesus. São Tomás ensina que este mal da alma é um verdadeiro vício causado pelo desordenado amor de si próprio e é causa de muitos outros males. É como uma planta que, atingida na raiz pela praga, só produz frutos amargos. A tristeza ocasiona muitas faltas de caridade.

A alegria e a Paz que bebemos nessa fonte inesgotável que é Cristo, temos de levá-las aos que Deus colocou mais perto de nós, isto é, aos nossos lares, que nunca devem ser tristes nem tenebrosos, nem tensos pelas incompreensões e egoísmos, mas “luminosos e alegres”, como foi aquele em que Jesus viveu com Maria e José. “O que é preciso para conseguir a felicidade não é uma vida cômoda, mas um coração enamorado” (Sulco, 795), pois a alegria é o primeiro efeito do amor, e a tristeza o fruto estéril do egoísmo, da falta de amor, numa palavra. “A tristeza move à ira e à contrariedade, e assim percebemos que, quando estamos tristes, facilmente nos incomodamos e nos irritamos por qualquer coisa; mais ainda: a tristeza enche o homem de suspeitas e de malícia, e algumas vezes perturba-o de tal maneira que parece que o deixa sem domínio próprio e fora de si” (São Gregório Magno).

Quando se diz em linguagem figurada que esta ou aquela casa “parece um inferno”, vem-nos à mente um lar sem amor, sem alegria, sem Cristo. Um lar cristão deve ser alegre, porque nele está o Senhor que o preside, e porque, ser discípulo seu significa, entre outras coisas, viver essas virtudes humanas e sobrenaturais a que está tão intimamente unida a alegria: generosidade, cordialidade, espírito de sacrifício, simpatia, empenho por tornar mais amável a vida de todos…

Fujamos da tristeza! A alma entristecida cai com facilidade no pecado e fica sem forças para o bem; caminha com certeza para a derrota. “Assim como a traça corrói o vestido, e o caruncho a madeira, assim a tristeza prejudica o coração do homem” (São Bernardo). Se alguma vez sentimos que esta doença da alma nos ronda ou já se introduziu em nós, examinemos onde está colocado o nosso coração.

Ensina Sto. Agostinho: “O pecado é o motivo de tua tristeza. Deixa que a santidade seja o motivo de tua alegria. A busca de Deus é a busca da alegria. O encontro com Deus é a própria alegria. O que mais Deus odeia depois do pecado é a tristeza, porque nos predispõe ao pecado”.

Diz o Doc. De Aparecida, nº 29: “Desejamos que a alegria que recebemos no encontro com Jesus Cristo chegue a todos os homens e mulheres feridos pelas adversidades. A alegria do discípulo é antídoto frente a um mundo aterrorizado pelo futuro e oprimido pela violência e pelo ódio. Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria.”

Durante o Mês das Missões, a Igreja nos relembra que todo cristão deve ser missionário.

Vivendo intensamente os dois amores (a Deus e ao próximo), crescerá também em nós um novo ardor missionário.

Recorramos à Virgem Maria, Causa de nossa alegria! Com Ela encontraremos facilmente o caminho da paz e da felicidade verdadeiras, se alguma vez o perdemos. Compreenderemos imediatamente que esse caminho que conduz à alegria é o mesmo que leva a Deus.

Mons. José Maria Pereira.

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