Homilia do Mons. José Maria – XIX Domingo do Tempo Comum – Ano B

A Força e o Poder da Eucaristia 

Jesus, Pão Vivo descido do Céu, ocupa o lugar central da Liturgia da Palavra de hoje, toda ela orientada para a Eucaristia. A primeira leitura (1Rs 19, 4-8) fala do Profeta Elias que, para  salvar-se do furor da rainha Jezebel, foge para o deserto. Durante a longa e difícil viagem, sentiu-se cansado e quis morrer. “Agora basta, Senhor! Tira minha vida, porque eu não sou melhor do que os meus pais. E, deitando-se no chão, adormeceu à sombra de uma árvore. Mas o Anjo do Senhor despertou-o, ofereceu-lhe pão e disse-lhe: Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer. Elias levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao monte de Deus.”  O que não teria conseguido com as suas próprias forças, conseguiu-o com o alimento que o Senhor lhe proporcionou, quando mais desanimado se sentia.

Quantos também estão desanimados e angustiados. E, tentados a procurar resolver essa situação de uma forma ou de outra, Santo Agostinho exclama: “Insensatos do mundo, infelizes, aonde ides contentar o vosso coração? Vinde a Jesus, pois só Ele vos dará o contentamento que buscais”. Não sejamos nós insensatos, buscando a felicidade onde ela não está. Assim como o corpo precisa de alimento, a alma também precisa de alimento. Esse texto de 1Rs 19, 4-8 prenunciava a Eucaristia. O Senhor diz-nos, especialmente, quando estamos desanimados e angustiados: “Vinde a mim, vós que estais cansados sob os vossos fardos e eu vos aliviarei”(Mt 11, 28). Na Eucaristia, Ele nos dá seu Corpo e seu Sangue, para termos a força necessária para caminhar com ânimo e esperança. E esse alimento e essa bebida contêm toda a força do amor de Cristo, deu-nos no momento de seu máximo amor por nós.

O monte santo para o qual o Profeta se dirige é imagem do Céu, e o trajeto de quarenta dias representa a longa viagem que vem a ser a nossa passagem pela terra; uma viagem semeada, também, de tentações, cansaços e dificuldades que, por vezes, nos fazem-nos fraquejar o ânimo e a esperança. Mas, de maneira semelhante ao Anjo, a Igreja convida-nos a alimentar a nossa alma com um pão totalmente singular, que é o próprio Cristo, presente na Sagrada Eucaristia. Nele, encontramos sempre as forças necessárias para chegarmos até o Céu, apesar da nossa fraqueza.

Temos de agradecer ao Senhor todas as ajudas que nos oferece ao longo da vida, especialmente, a da Comunhão. Este agradecimento será manifestado ao prepararmo-nos para comungar do melhor modo possível e em fazê-lo com a plena consciência de que cada Comunhão nos dá, mais do que ao Profeta Elias, as energias necessárias para percorrermos, com vigor, o caminho da nossa santidade.

“Eu sou o Pão da Vida”, diz-nos Jesus no Evangelho (Jo 6, 41-51). “Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu darei é a minha carne, dada para a vida do mundo” (Jo 6,51). Jesus quer ajudar os que tinha saciado a esforçarem – se em busca de um alimento que permanece para a vida eterna. Ele quer ajudá-los a compreender o significado profundo do prodígio que realizou. Saciando de modo milagroso a sua fome física, prepara-os para aceitar o anúncio segundo o qual Ele é o Pão que desceu do Céu (Jo 6, 41), que sacia de modo definitivo. Também o povo Judeu, durante o longo caminho no deserto, tinha experimentado um pão descido do Céu, o maná, que o conservara, em vida, até à chegada à terra prometida. Pois bem, Jesus fala de Si mesmo como do verdadeiro Pão que desceu do Céu, capaz de manter-nos, em vida, não por um momento ou durante um trecho do caminho, mas, para sempre. Ele é o Alimento que dá a vida eterna, porque é o Filho Unigênito de Deus, que se encontra no seio do Pai, vindo para doar ao homem a vida em plenitude, para introduzir o homem na Vida do próprio Deus.

Amemos a Eucaristia! O amor à Eucaristia pode manifestar-se de muitas maneiras: é a bênção com o Santíssimo, é a oração diante de Jesus Sacramentado, são as genuflexões feitas como verdadeiros atos de fé e de adoração, etc. “Quando O receberes, diz-Lhe: -Senhor, espero em Ti; adoro-Te, amo-Te, aumenta-me a fé. Sê o apoio da minha debilidade, Tu, que ficaste na Eucaristia, inerme, para remediar a fraqueza das criaturas” (São Josemaria Escrivá, Forja, n.832). Continua São Josemaria: “Temos de receber o Senhor, na Eucaristia, como se recebem os grandes da terra, e melhor! Com adornos, luzes, roupa nova…

— E se perguntas que limpeza, que adornos e que luzes hás de ter, responder-te-ei: limpeza nos teus sentidos, um por um; adorno nas tuas potências, uma por uma; luz em toda a tua alma”. “Sê alma de Eucaristia!

— Se o centro dos teus pensamentos e esperanças estiver no Sacrário, filho, que abundantes os frutos de santidade e de apostolado!” (Forja, 834 e 835). 

Então, duvidar da divindade de Jesus, como fazem os judeus no trecho do Evangelho de hoje, significa opor-se à obra de Deus. Com efeito, eles afirmam: é o filho de José! Conhecemos o seu pai e a sua mãe (Jo 6, 42)! Eles não vão além das suas origens terrestres, e, por isso, rejeitam acolhê-lo como a Palavra de Deus que se fez carne. Santo Agostinho comenta: “Estavam distantes daquele Pão Celeste, e eram incapazes de sentir fome dele. A boca do seu coração estava enferma… Com efeito, este Pão exige a fome interior do homem” (Homilias sobre o Evangelho de João, 26, 1). Somente quem é atraído por Deus Pai, quem O ouve e se deixa instruir por Ele, pode acreditar em Jesus, encontrá-Lo e alimentar-se dele para ter a vida em plenitude, a vida eterna. Santo Agostinho acrescenta: “O Senhor… afirmou que é o Pão descido do Céu, exortando-nos a crer n’Ele. Com efeito, comer o Pão vivo significa acreditar nele. Quem crê, come; é saciado de modo invisível, e igualmente de modo invisível renasce. Ele renasce a partir de dentro e, no seu íntimo, torna-se um homem novo”.

Hoje, o Senhor recorda-nos, vivamente, a necessidade que temos de recebê-Lo na Sagrada Comunhão para podermos participar da vida divina, para vencermos as tentações, para que a vida da graça, recebida no Batismo, desenvolva-se em nós. Quem comunga em estado de graça, além de participar dos frutos da Santa Missa, obtém uns bens próprios e específicos da Comunhão eucarística: recebe, espiritual e realmente, o próprio Cristo, fonte de toda a graça. A Eucaristia é, por isso, o maior Sacramento, o centro e cume de todos os demais. A presença real de Cristo dá a este Sacramento uma eficácia sobrenatural, infinita.

Na Comunhão, o poder divino ultrapassa todas as limitações humanas, porque sob as espécies eucarísticas recebemos o próprio Cristo indiviso. O amor atinge a máxima expressão neste Sacramento, pois é a plena identificação com Aquele que tanto se ama, a quem tanto se espera. “Assim, como quando se juntam dois pedaços de cera e com o fogo se derretem, dos dois se forma uma só coisa, assim também é o que acontece pela participação do Corpo de Cristo e do seu precioso Sangue” (São Cirilo de Alexandria). É o que diz Jesus: “Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por meio do Pai, assim aquele que de mim se alimenta viverá por meio de mim” (Jo 6, 57). Por extremo amor quis ser alimento, fazer-se uma coisa só conosco. Precisamos da sagrada comunhão. É Jesus, entregue por nós e a nós, presente na Eucaristia de um modo único e incomparável.

A alma nunca deixará de dar graças se se recordar com frequência da riqueza deste Sacramento. A Eucaristia produz, na vida espiritual, efeitos parecidos aos do alimento material, em relação ao corpo. Fortalece-nos e afasta de nós a debilidade e a morte: o alimento eucarístico livra-nos dos pecados veniais, que causam a debilidade e a doença da alma, e preserva-nos dos mortais, que ocasionam a morte. Disse o Papa São Paulo VI: “A Comunhão frequente ou diária torna a vida espiritual exuberante, enriquece a alma com uma maior efusão de virtudes e dá àquele que comunga um penhor seguro da felicidade eterna” (Enc. Mysterium Fidei). Tal como o alimento natural permite que o corpo cresça, a Eucaristia aumenta a santidade e a união com Deus, “porque a participação do corpo e do sangue de Cristo não faz outra coisa senão transfigurar-nos naquilo que recebemos” (São Cirilo de Alexandria). Na Eucaristia, não recebemos apenas a graça, mas a fonte mesma de onde brota, o próprio Jesus. Diferente do alimento material, não somos nós quem assimilamos a Cristo, senão Ele é quem nos diviniza e transforma em si mesmo. A Eucaristia é o próprio Cristo, com seu Corpo e seu Sangue, sua Alma e sua Divindade, à qual devemos toda a nossa adoração, pois é Deus.

A Comunhão ajuda-nos a santificar a vida familiar; incita-nos a realizar o trabalho diário com alegria e perfeição; fortalece-nos para enfrentarmos com garbo humano e sentido sobrenatural as dificuldades e tropeços da vida diária. O Senhor, presente sacramentalmente, pode ver-nos e ouvir-nos com uma intimidade maior, pois o seu Coração, que é “a fonte da vida e da santidade”, continua a pulsar de amor por nós.

Ao lado de Jesus, encontramos a paz, se a tivermos perdido; a fortaleza para concluirmos as nossas tarefas; e a alegria no serviço aos outros. “E, o que faremos, perguntais, na presença de Deus Sacramentado? Amá-Lo, louvá-Lo, agradecer-Lhe e pedir-Lhe. O que faz um pobre na presença de um rico? O que faz um doente diante do médico? O que faz um sedento quando avista uma fonte cristalina?”(Santo Afonso Maria de Ligório). 

Na Carta Encíclica sobre a Eucaristia, na sua relação com a Igreja (Ecclesia De Eucharistia), ensinou São João Paulo ll: “É bom demorar-se com Ele e, inclinado sobre o seu peito como o discípulo predileto (Jo 13, 25), deixar-se tocar pelo amor infinito do seu coração. Se, atualmente, o cristianismo deve-se caracterizar sobretudo pela “arte da oração”, como não sentir de novo a necessidade de permanecer longamente, em diálogo espiritual, adoração silenciosa, atitude de amor, diante de Cristo presente no Santíssimo Sacramento? Quantas vezes, meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência, recebendo dela força, consolação, apoio!”

Que Jesus, o Pão Vivo descido do Céu, fortaleça os pais! Que os pais não desanimem como Elias diante de situações difíceis e complicadas; Pois, ser pai é uma Missão (é uma vocação) sublime! É participar do maravilhoso mistério da criação, é iluminar o mundo com uma nova e insubstituível centelha de vida.

Hoje, iniciamos a Semana Nacional da Família, com a qual a Igreja pretende fazer redescobrir os valores da família; uma família, que a exemplo da Sagrada Família de Nazaré, seja a família que Deus quer; uma família, onde os filhos encontram a paz e a segurança tão desejada e tão necessária! Neste ano, a Igreja apresenta como tema para reflexão: Família e Amizade!

Rainha da Família: Rogai por nós!

Mons. José Maria Pereira

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