Homilia do Mons. José Maria – XII Domingo do Tempo Comum (Ano C)

A Cruz que Salva

A liturgia do XII Domingo, no Evangelho (Lc. 9, 18-24), mostra o caminho do verdadeiro Messias e de quem quiser seguí-Lo.

No final de sua atividade na Galiléia, Jesus, depois de ter ORADO, provoca os Apóstolos a dizer o que pensam dele, de sua identidade e missão: “Quem sou Eu no dizer do povo? E vós, quem dizeis que Eu sou?” (Lc 9, 19-20).

Responderam-lhe: “João Batista… Elias… ou um dos antigos profetas…” Reconhecem em Jesus um grande Mestre, um operador de milagres, mas um homem apenas…

Porém, os discípulos deviam ter compreendido algo mais, pois foram testemunhas da seus milagres e destinatários privilegiados de sua doutrina. Por isso Jesus acrescenta: Mas, para vós, quem sou Eu?

Pedro, em nome de todos, responde: “Tu és o Cristo de Deus”. A resposta era exata! E Jesus completa, apontando “o Caminho de Jesus”, falando pela primeira vez de sua Paixão…

Para os discípulos, que esperavam um Messias-Rei, tal afirmação deve ter sido muito dura e decepcionante… Mas Jesus não volta atrás, pelo contrário, reafirma que o Caminho do Discípulo é o mesmo: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua Cruz cada dia, e siga-me” (Lc 9, 23).

Ele irá à frente para dar o exemplo: será o primeiro a levar a cruz. Quem quiser ser seu discípulo, há de imitá-Lo. E conclui: “Aquele que quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de Mim, esse a salvará.” (Lc 9, 24).

O discípulo é chamado a imitar Jesus, não apenas uma vez, mas dia após dia, negando-se a si mesmo, (vontade, inclinação, gostos) para se conformar com o Mestre sofredor e crucificado.

O cristão não pode passar por alto esses ensinamentos de Jesus Cristo. Deve arriscar-se, jogar a vida presente em troca de conseguir a eterna.

A exigência do Senhor inclui renunciar à própria vontade para identificá-la com a de Deus, não aconteça que, como comenta São João da Cruz, tenhamos a sorte de muitos “que queriam que Deus quisesse o que eles querem, e entristecem-se de querer o que Deus quer, e têm repugnância em acomodar a sua vontade à de Deus. Disto vem que muitas vezes, no que não acham a sua vontade e gosto, pensam não ser da vontade de Deus e, pelo contrário, quando se satisfazem, creem que Deus Se satisfaz, medindo também a Deus por si, e não a si mesmos por Deus” (Noite Escura, liv. I, Cap. 7, nº. 3).

O fim do homem não é ganhar os bens temporais deste mundo, que são apenas meios ou instrumentos; o fim último do homem é o próprio Deus, que é possuído como antecipação aqui na terra pela Graça, e plenamente e para sempre na Glória. Jesus indica qual é o caminho para conseguir esse fim: negar-se a si mesmo (isto é, tudo o que é comodidade, egoísmo, apego aos bens temporais) e levar a cruz. Porque nenhum bem terreno, que é caduco, é comparável à salvação eterna da alma. Diz São Tomás: “O menor bem da Graça é superior a todo o bem do universo” (Suma Teológica, I-II, q.113, a. 9).

“Cristo repete-O a cada um de nós, ao ouvido, intimamente: a Cruz de cada dia. Não só, escreve São Jerônimo, em tempo de perseguição ou quando se apresente a possibilidade do martírio, mas em todas as situações, em todas as atividades, em todos os pensamentos, em todas as palavras, neguemos aquilo que antes éramos e confessemos o que agora somos, visto que renascemos em Cristo. Vedes? A cruz de cada dia. Nenhum dia sem Cruz: nenhum dia que não carreguemos com a Cruz do Senhor, em que não aceitemos o Seu jugo. E muito certo que aquele que ama os prazeres, que busca as suas comodidades, que foge das ocasiões de sofrer, que se inquieta, que murmura, que repreende e se impacienta porque a coisa mais insignificante não corre segundo a sua vontade e o seu desejo, tal pessoa, de cristão só tem o nome; somente serve para desonrar a sua religião, pois Jesus Cristo disse: aquele que queira vir após Mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias da vida, e siga-Me.”

A Cruz não só deve estar presente na vida de cada cristão, mas também em todas as encruzilhadas do mundo. Diz São Josemaria Escrivá: “Que formosas essas cruzes no cimo dos montes, no alto dos grandes monumentos no pináculo das catedrais! Mas também é preciso inserir a Cruz nas entranhas do mundo.

Jesus quer ser levantado ao alto, aí: no ruído das fábricas e das oficinas, no silêncio das bibliotecas, no fragor das ruas, na quietude dos campos, na intimidade das famílias, nas assembleias, nos estádios… Onde quer que um cristão gaste a sua vida honradamente, aí deve colocar, com o seu amor, a Cruz de Cristo, que atrai a Si todas as coisas” (Via Sacra, XI).

A Cruz é sinal do cristão. Está presente em toda parte, com muitos nomes…

Que o Senhor nos conceda a graça de também segui-Lo na Cruz; de perder a vida por causa de Cristo para salvá-la.

O ensinamento de Jesus é claro: é necessário fazer tudo tendo em vista a vida eterna; para ganhar este bem podemos gastar a vida terrena. Em outra ocasião Jesus lembrou: “de que vantagem tem um homem em ganhar o mundo inteiro, se se perder a si mesmo ou causar a própria ruína?” (Lc 9, 25).

E como a paixão do Senhor conduziu à alegria da Ressurreição, assim o cristão, que carregue com a Cruz até perder a vida por Cristo, salva-la-á, encontrando-a nEle na glória eterna.

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