Homilia do Mons. José Maria – X Domingo do Tempo Comum – Ano B

Fazer a vontade de Deus

Jesus foi por toda a Galileia pregando o Evangelho nas sinagogas e expulsando os demônios. O fato despertava tanto entusiasmo entre o povo, que os escribas- incrédulos e perversos-, sem poder negar tal evidência e não querendo reconhecer em Jesus o Messias, atribuem o Seu poder à influência de Belzebu. E o Mestre reage a esta insinuação: “Se, portanto, satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não pode manter-se, mas se acaba” (Mc 3, 26).

Jesus coloca as coisas no seu lugar! Nele trava-se o grande combate entre o bem e o mal, entre Deus e satanás, o adversário da humanidade. Jesus é mais forte do que o príncipe dos demônios. Veio a este mundo para combatê-lo. Vence-o no deserto após o seu batismo; vence-o expulsando os demônios. É Ele o homem forte que guarda a casa. Tudo isso Ele o faz pelo Espírito Santo e não por algum espírito imundo.

O Senhor convida os fariseus, obcecados e endurecidos, a fazer uma consideração simples: se alguém expulsa o demônio, isto quer dizer que é mais forte do que ele. É uma exortação a mais a reconhecer em Jesus o Deus “forte”, o Deus que com o Seu poder liberta o homem da escravidão do demônio. Terminou o domínio de satanás: o príncipe deste mundo está a ponto de ser expulso. A vitória de Jesus sobre o poder das trevas, que culmina como na Sua Morte e Ressurreição, demonstra que a luz está já no mundo. Disse-o o próprio Senhor: “É agora o julgamento deste mundo. Agora o príncipe deste mundo vai ser expulso” (cf. Jo 12, 31-32).

Portanto, este tempo é para nós de vigilância e decisão. A diferença entre agora e antes de Cristo é que agora nós podemos vencer, ou melhor, “vencer de virada” (cf. Rm 8,37); antes, – sob a Lei – não! Mas, para vencer é preciso suar, é preciso participar na luta e na vitória de Jesus, tomando nossa cruz no dia a dia e seguindo – O (cf. Lc 9,23; Mt 16,24; Mc 8,34). Devemos completar o que falta à vitória de Jesus.  São Paulo (2 Cor, 3 -18 – 5, 1) nos encoraja a seguir esta estrada, lembrando – nos de que a nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, nos proporciona um peso eterno de glória incomensurável. Não fiquemos nas generalidades; procuremos “inventar” ocasiões de vitória. Hoje mesmo! Melhor, procuremos descobri – las, porque, tais ocasiões já existem em nosso dia a dia e se chamam caridade, paciência, humildade, tolerância…

Por isso, acreditar no poder de Cristo Jesus é confiar na misericórdia e no perdão de Deus. Ele tem o poder de perdoar pecados, pois por sua morte e ressurreição há de vencer definitivamente a satanás e o pecado. Este é, na verdade, o maior adversário do ser humano, pois o afasta da comunhão com Deus.

Agora nos espera um grande encontro: voltando de sua vitória sobre o “forte”, vem a nós “o mais forte”; vem o nosso Redentor. Vem reparar nossas perdas e as feridas da luta cotidiana; vem alimentar nossa fé e nossa coragem. Podemos dizer: “O Senhor é minha rocha e minha fortaleza, é Ele, o meu Deus, que me liberta e me ajuda”.

“Saíram para agarrá-Lo, pois diziam: “Está fora de si” (Mc 3,  21). Alguns de seus parentes, deixando-se levar por pensamentos meramente humanos, interpretavam a absorvente dedicação de Jesus ao apostolado como um exagero, explicável- na sua opinião- apenas por uma perda de juízo. Ao ler estas palavras do Evangelho pensemos no que Jesus se submeteu por nosso amor: disseram que Ele tinha “perdido o juízo”. Muitos santos, a exemplo de Cristo, passarão também por loucos, mas serão loucos de amor, loucos de amor a Jesus Cristo!

Comunicam a Jesus que a Sua Mãe e alguns parentes vieram à sua procura. Jesus respondeu-lhes: “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc 3, 35). Todos aqueles que, seguindo o Seu exemplo, abraçam a vontade do Pai e a cumprem, ficam unidos a Ele com vínculos tão íntimos, só comparáveis aos mais estreitos laços familiares. E desta união a Cristo, na mesma vontade do Pai, é que se tiram forças para vencer satanás.

Por isso, a Igreja recorda-nos que a Santíssima Virgem “acolheu as palavras com que o Filho, pondo o reino acima de todas as relações de parentesco, proclamou bem-aventurados todos os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática; coisa que Ela fazia fielmente” (Lumen Gentium, 58).

São Tomás de Aquino diz: “Todo o fiel que faz a vontade do Pai, isto é, que simplesmente Lhe obedece, é irmão de Cristo, porque é semelhante Àquele que cumpriu a vontade do Pai. Mas, quem não só obedece, mas converte os outros, gera Cristo neles, e desta maneira chega a ser como a Mãe de Cristo” (Comentário sobre S. Mateus, 12, 49 – 50).

O Senhor, pois, nos ensina também que seguí-Lo nos leva a compartilhar a Sua vida até tal ponto de intimidade que consistiu um vínculo mais forte que o familiar.

A verdadeira família de Jesus é formada pelos que estão ao redor dele e que fazem a vontade de Deus.

Maria era mãe duplamente: porque gerou Jesus e porque mais do que ninguém soube fazer sempre a vontade de Deus.

Mons. José Maria Pereira

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