Homilia do Mons. José Maria – VI Domingo do Tempo Comum – Ano B

O Sacramento da Confissão e Frutos do Perdão!

Estamos acompanhando Jesus, no início de sua vida pública, e no primeiro capítulo do Evangelho de São Marcos, vimos Jesus curando numerosos doentes. O Evangelho deste domingo (Mc 1, 40-45) mostra-nos Jesus em contato com a forma de doença nessa época considerada a mais grave, a ponto de tornar a pessoa “impura” e de a excluir dos relacionamentos sociais: falamos da lepra.

A Lei de Moisés prescrevia o seguinte: “O leproso deve ficar isolado e morar fora do acampamento” (Lv 13, 46). Um preceito duro que só se explica pela preocupação de evitar o contágio e pela ideia corrente entre os hebreus de que era um castigo de Deus aos pecadores. Consequentemente, o leproso era um foragido da comunidade e tido como “impuro”, ferido e amaldiçoado por Deus.

É impressionante a cena: um leproso, contrariando a Lei, aproxima-se de Jesus… e de joelhos implora: “Se queres, tens o poder de curar-me…” “Aquele homem ajoelha-se, prostrando-se em terra – o que é sinal de humildade e de vergonha –, para que cada um se envergonhe das manchas da sua vida. Mas a vergonha não há de impedir a confissão: o leproso mostrou a chaga e pediu o remédio. A sua confissão está cheia de piedade e de fé. Se queres, diz podes: isto é, reconheceu que o poder de curar-se estava nas mãos do Senhor”.   

Jesus “se compadece”, estende a mão e toca-o… e restitui-lhe a saúde: “Eu quero, fica curado…”. Cristo é “a mão” de Deus estendida à humanidade, para que a mesma consiga sair das areias movediças da doença e da morte, erguer – se sobre a rocha sólida do amor divino (Sl 39, 2-3).

Jesus toca o leproso e, neste caso, o influxo não vai do leproso a ele para o contagiar, mas dele ao leproso para comunicar a cura. O contato com Jesus purifica o leproso, Cristo comunica a sua pureza ao que era impuro.

Que fé maravilhosa! Aquele homem de Deus, abandonado pelos homens e tido como rejeitado por Deus, tem mais fé do que muitos seguidores de Cristo. A fé autêntica não se perde em raciocínios sutis; tem uma lógica muito simples: Deus pode fazer tudo; basta, pois, que o queira fazer. Ao pedido, que manifesta uma confiança ilimitada, Jesus responde com um gesto inaudito para um povo, a quem fora proibido qualquer contato com os leprosos: “estendeu a mão, tocou-o”. Deus é o Senhor da Lei e, por isso, pode infringi-la.

A cena do leproso, que vai ao encontro de Jesus, é tão marcante que a encontramos narrada em três Evangelistas que contam o episódio e transmitem-nos o gesto surpreendente do Senhor: “Estendeu a mão e o tocou”. Até àquele momento, todos os homens haviam fugido dele com medo e repugnância. Cristo, porém, que podia tê-lo curado à distância – como já o fizera em outras ocasiões -, não só não se afasta dele, como chega a tocar a sua lepra. Não é difícil imaginar a ternura de Cristo e a gratidão do doente quando viu o gesto do Senhor e ouviu as suas palavras: “Quero, sê limpo!” Naquele gesto e nessas palavras de Cristo está toda a história da salvação, está encarnada a Vontade de Deus de nos curar, de nos purificar do mal que nos desfigura e arruína os nossos relacionamentos. Naquele contato entre a mão de Jesus e o leproso é abatida toda a barreira entre Deus e a impureza humana, entre o Sacro e o seu oposto, certamente não para negar o mal e a sua força negativa, mas para demonstrar que o amor de Deus é mais forte do que todo o mal, até do mais contagioso e horrível. Jesus assumiu sobre Si as nossas enfermidades, fez – se “leproso” a fim de que nós fôssemos purificados.

Cristo é o verdadeiro “médico” da humanidade, que o Pai celeste enviou ao mundo para purificar o homem, assinalado no corpo e no espírito pelo pecado e pelas suas consequências.

O Senhor sempre deseja curar-nos das nossas fraquezas e dos nossos pecados. E não temos necessidade de esperar meses nem mesmo dias para que passe perto da nossa cidade… No Sacrário mais próximo, na intimidade da alma em graça, no Sacramento da Penitência (Confissão), encontramos o mesmo Jesus de Nazaré que curou o leproso. Ele “é Médico, e cura o nosso egoísmo se deixarmos que a sua graça nos penetre até o fundo da alma. Jesus advertiu-nos que a pior doença é a hipocrisia, o orgulho que leva a dissimular os pecados próprios. Com o Médico, é imprescindível que tenhamos uma sinceridade absoluta, que lhe expliquemos toda a verdade e digamos: Senhor, se quiseres, – e Tu queres sempre -, podes curar-me. Tu conheces a minha debilidade; sinto estes sintomas e experimento estas outras fraquezas. E descobrimos com simplicidade as chagas; e o pus, se houver pus; todas as misérias da nossa vida” (São Josemaría Escrivá, É Cristo que Passa, nº 93).

Os Santos Padres viram na lepra a imagem do pecado. Porém, o pecado é incomparavelmente pior do que a lepra. Dizia o Cura d’Ars: “Se tivéssemos fé e víssemos uma alma em estado de pecado mortal, morreríamos de terror”. No entanto, uma realidade não podemos esquecer: Jesus é o único que nos pode curar. Só Ele!

O que Ele nos diz é que veio perdoar, redimir, veio livrar-nos dessa lepra da alma que é o pecado. E proclama o seu perdão como um sinal de onipotência, como sinal de um poder que só o próprio Deus pode exercer. Cada uma das nossas confissões é expressão do poder e da misericórdia de Deus. É o próprio Jesus quem, no Sacramento da Penitência (Confissão), pronuncia a palavra autorizada e paterna: “Os teus pecados te são perdoados”.

Temos que aprender do leproso: Com toda a sua sinceridade, coloca-se diante do Senhor e, de joelhos, reconhece a sua doença e pede para ser curado.

Esta deve ser a nossa atitude no que diz respeito ao Sacramento da Confissão. Pois nela também nós ficamos livres das nossas enfermidades, por maiores que possam ser. E não só ficamos limpos do pecado, como adquirimos uma nova juventude, uma renovação da vida de Cristo em nós. Ficamos unidos ao Senhor de uma maneira diferente e particular!

E desse novo ser e dessa nova alegria que encontramos em cada confissão devemos fazer participar aqueles que mais estimamos e todos aqueles que passam pela nossa vida. Levar muitos a aproximar-se do Sacramento da Confissão é uma das tarefas que Cristo nos confia nestes tempos em que verdadeiras multidões se afastaram daquilo que mais precisam: o perdão dos seus pecados. Precisamos ajudar muitas pessoas a ver que a sua tristeza e o seu vazio interior provêm da ausência de Deus em suas vidas. Sejamos apóstolos que propagam a Boa Nova, a alegria de uma boa confissão bem feita.

O Caminho do leproso deve ser o caminho de todo discípulo: Vir a Jesus, aceitar a própria limitação humana; experimentar a misericórdia e o poder libertador do Senhor; e finalmente tonar-se testemunha das grandes obras de Deus.

Podemos e devemos dirigir também nós ao Senhor a invocação do leproso do Evangelho: se queres, podes limpar – me. Primeiro devemos reconhecer nosso mal e mostrar as chagas a quem pode curá–las. O Sacramento da reconciliação ou confissão sacramental realiza essa limpeza, essa purificação. Assim desaparece a lepra do pecado. Cada vez que, arrependidos, nos colocamos aos pés de Cristo reconhecendo nosso pecado, podemos escutar uma frase equivalente ao “Quero, fica limpo”: “Eu te absolvo dos teus pecados”.

Invoquemos a Virgem Maria, que Deus preservou de toda a mancha de pecado, para que nos ajude a evitar o pecado e a recorrer com frequência ao Sacramento da Confissão, o Sacramento do Perdão, que hoje deve ser redescoberto ainda mais no seu valor e na sua importância para a nossa vida cristã.

A nossa Mãe Santa Maria haverá de conceder-nos, se recorrermos a Ela, a alegria e a urgência de comunicar a muitos os grandes bens que o Senhor – Pai das misericórdias – nos deixou, no Sacramento da Confissão.

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