Homilia do Mons. José Maria – V Domingo da Quaresma – Ano B

O caminho para ver Jesus!

A Quaresma caminha para o seu fim.

No Evangelho (Jo 12,20-33) Jesus mostra que desejam vê-Lo: É o caminho da Cruz, o caminho da obediência a Deus, o caminho da semente lançada à terra, que não fica só, mas, morrendo, produz muito fruto. É chegada a hora de Jesus. Trata-se de sua Paixão e Ressurreição, pela qual Ele se lança totalmente no plano do Pai e realiza plenamente sua vontade.

Um grupo de gregos (os estrangeiros à raça judaica), que estavam em Jerusalém para celebrar a Páscoa, pedem: “Queremos ver Jesus!,” isto é, conhecê-Lo em profundidade. Não se dirigem diretamente a Jesus, mas aos discípulos. Servem-se de dois mediadores: Felipe e André… Diz São João Paulo ll, ao final do Ano Jubilar de 2000: “Este pedido, feito ao apóstolo Filipe por alguns gregos que tinham ido em peregrinação a Jerusalém por ocasião da Páscoa, ecoou espiritualmente também em nossos ouvidos ao longo deste ano jubilar. Como aqueles peregrinos de há dois mil anos, os homens de nosso tempo, talvez sem se dar conta, pedem aos crentes de hoje não só que lhes “falem” de Cristo, mas também que de certa forma lho façam “ver”. E, não é porventura a missão da Igreja refletir a luz de Cristo em cada época da história e, por conseguinte, fazer resplandecer seu rosto também diante das gerações do novo milênio?

No entanto, nosso testemunho seria excessivamente pobre, se primeiro não fôssemos contemplativos do seu rosto; por certo o Grande Jubileu ajudou-nos a sê-lo mais profundamente. Concluído o Jubileu, enquanto retomamos o caminho de sempre, conservando na alma a riqueza das experiências vividas neste período muito especial, o olhar permanece mais intensamente fixo no rosto do Senhor” (Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte, São João Paulo ll).

No pedido destes anônimos gregos podemos ver a sede que existe no coração de cada homem de ver e de conhecer Cristo; e a resposta de Jesus orienta – nos para o Mistério da Páscoa, manifestação gloriosa da sua missão salvífica. “Chegou a hora – declara Ele – em que será glorificado o Filho do Homem” (Jo 12, 23 ). Sim! Está para chegar a hora da glorificação do Filho do Homem, mas isto obrigará a passagem dolorosa através da Paixão e da Morte na Cruz. De fato, só assim se realizará o plano divino da salvação que é para todos, judeus e pagãos. Com efeito, todos são convidados a fazer parte do único povo da Aliança nova e definitiva. Nesta luz, compreendemos também a solene proclamação com que termina o trecho evangélico: “E quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12, 32), como também o comentário do Evangelista: “Ele falava para indicar de que morte haveria de morrer” (Jo 12, 33). A Cruz: a altura do amor é a altura de Jesus e a esta altura Ele atrai a todos.

Diz Jesus: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, fica só; mas, se morre, produz muito fruto” ( Jo 12, 24). Compara- se a Si mesmo com um “grão de trigo que se desfaz, para produzir muito fruto para todos”, segundo uma eficaz expressão de Santo Atanásio; e só mediante a morte, a cruz, Cristo produz muito fruto por todos os séculos.  A fecundidade da vida se manifesta na morte. Jesus vai morrer e nascerá a Igreja…

Para conhecer Jesus: devem morrer as seguranças humanas, o apego à própria vida é à sabedoria humana (que os gregos valorizavam tanto).

Deve morrer tudo o que nos afasta do projeto de Jesus, que veio para que todos tenham vida em abundância.

O caminho para ver Jesus é a Cruz: “Quando Eu for elevado da terra (na Cruz), atrairei todos a Mim”.  Várias vezes disse Jesus: “Se alguém quiser servir – me, siga – Me”. Não há alternativa para o cristão que quiser realizar a própria vocação. É a “lei” da Cruz descrita com a imagem do grão de trigo que morre para germinar a vida nova; é a “lógica” da Cruz recordada também no Evangelho de hoje: “Quem ama a própria vida, perdê-la-á, e quem aborrece a própria vida neste mundo, conserva-la-á para a vida eterna”. “Aborrecer” a própria vida é uma expressão semítica forte e paradoxal, que ressalta bem a totalidade radical que deve distinguir quem segue Cristo e se põe, por amor a Ele, ao serviço dos irmãos: perde a vida e assim a encontra. Não existe outro caminho para experimentar a alegria e a verdadeira fecundidade do Amor: o caminho do dar-se, do doar – se, do perder-se para se encontrar. É o caminho para todo o discipulado…

“Queremos ver Jesus!” Esse pedido dos gregos é uma linda proposta de vida para todos nós. É anseio de todos nós. Todos queremos ver Jesus! O Doc. de Aparecida nos lembra que “o início do Cristianismo é um encontro de fé com a pessoa de Jesus Cristo” (DA 243). E “a própria natureza do cristianismo consiste em reconhecer a presença de Jesus Cristo e segui-Lo” (244). Seguir Cristo: este é o segredo! Acompanhá-Lo tão de perto, que vivamos com Ele, como os primeiros Doze; tão de perto, que com Ele nos identifiquemos: se não colocarmos obstáculos à graça, não tardaremos a afirmar que nos revestimos de Nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 13,14). : “Neste esforço por nos identificarmos com Cristo, costumo falar de quatro degraus: procurá-Lo, encontrá-Lo, conhecê-Lo, amá-Lo. Talvez vos pareça que estais na primeira etapa… Procurai-O com fome, procurai-O em vós mesmos com todas as vossas forças! Se o fazeis com este empenho, atrevo-me garantir que já O encontrastes e que já começastes a conhecê-Lo e a amá-Lo e a ter a vossa conversa nos céus” ( São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, 299-300).

Ao ser pregado na Cruz, Jesus é o sinal supremo de contradição para todos os homens! “Cristo, Senhor Nosso, foi crucificado e, do alto da Cruz, redimiu o mundo, restabelecendo a paz entre Deus e os homens. Jesus Cristo lembra a todos: “quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim” (Jo 12,32), se vós Me puserdes no cume de todas as atividades da terra, cumprindo o dever de cada momento, sendo Meu testemunho naquilo que parece grande e naquilo que parece pequeno, tudo atrairei a Mim. O Meu reino entre vós será uma realidade” (Cristo que Passa, 183). Cada cristão seguindo Cristo, há de ser uma bandeira hasteada, uma luz colocada no candeeiro: bem unido pela oração e mortificação à Cruz, em cada momento e circunstância da vida, há de manifestar aos homens o amor salvador de Deus Pai.

Os gregos quiseram ver Jesus! Encontraram Filipe e André que os conduziram a Jesus. Tendo visto Jesus, tendo acreditado nEle, Filipe e André guiam outras pessoas para verem Jesus. É a vocação de todos os que queiram seguir a Cristo. Tendo visto Jesus, tendo feito a experiência de Deus em sua vida, tendo-se transformado em semente lançada à terra, os cristãos são chamados a conduzirem outras pessoas a Jesus, para o verem, para o seguirem, para viverem de sua vida. Vendo Jesus nos cristãos, essas pessoas também crerão e terão vida em abundância.

“Queremos ver Jesus!”
Mas onde, quando, como encontrá-Lo?

O Documento de Aparecida mostra uns lugares de encontro com Jesus Cristo:

-“O encontro com Cristo realiza-se na fé recebida e vivida na Igreja”. (246)

– Encontramos Jesus na Sagrada Escritura, lida na Igreja…

É indispensável o conhecimento profundo e vivencial da Palavra de Deus” (347).

-Encontramos Jesus Cristo na Sagrada Liturgia… a Eucaristia é o lugar privilegiado do encontro do Discípulo com Jesus Cristo” (250-251).

A celebração eucarística dominical é uma necessidade interior do cristão, da família cristã e da comunidade paroquial” (252).

-O sacramento da Reconciliação (Confissão) é o encontro com o Cristo que perdoa (254).

– A Oração pessoal e comunitária cultiva a amizade com Cristo (255).

-“Jesus está presente em meio a uma Comunidade viva na fé e no amor fraterno” (256).

-Também o encontramos nos pobres, aflitos e enfermos… (257).

-“Encontramos também na Piedade popular…” (258)

“Queremos ver Jesus” significa acolher a sua pessoa com alegria, por ser o centro e a motivação mais forte da própria existência, e a garantia que não se apaga.

Queridos irmãos e irmãs, o amor infinito de Cristo que brilha no seu Rosto resplandeça em cada uma das vossas atitudes e se torne vossa “quotidianidade”. Como exortava Santo Agostinho numa homilia pascal, “Cristo sofreu; morramos para o pecado. Cristo ressuscitou; vivamos para Deus. Cristo passou deste mundo para o Pai; não se separe aqui o nosso coração, mas siga-o nas coisas do alto. O nosso Deus foi pendurado no madeiro; crucifiquemos a concupiscência da carne. Jazia no sepulcro; sepultados com Ele esqueçamos as coisas passadas. Está sentado no Céu; transfiramos os nossos desejos para as coisas supremas” ( Sto. Agostinho, Discurso, 229/d,1).

Invoquemos a intercessão materna de Maria, para que a nossa existência se torne um reflexo de Cristo. Rezemos para que quantos nos encontram vejam sempre nos nossos gestos e nas nossas palavras a pacificadora e consoladora bondade do seu Rosto. 

Mons. José Maria Pereira

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