Homilia do Mons. José Maria – Solenidade de Todos os Santos – Ano B

A Santidade é o Rosto Mais Belo da Igreja!

A Solenidade de Todos os Santos, que hoje celebramos, convida-nos a elevar o olhar ao Céu e a meditar sobre a plenitude da vida divina que nos espera. A santidade – imprimir Cristo em si mesmo – é a finalidade de vida do cristão.

Celebramos o triunfo de todos os santos, os nossos heróis. Afinal, olhamos para a meta da nossa existência, para a qual fomos criados e vemos os que já chegaram: Os declarados solenemente pela Igreja e, também, muitíssimos outros que, para sempre, gozam da glória divina.

A nossa vocação é para a Santidade! É o que nos atesta São Paulo: “Nele, Deus nos escolheu, antes da fundação do mundo, para sermos santos e íntegros diante dele, no amor” (Ef 1, 4). “A vontade de Deus é que sejais santos” (1Tes 4, 3). Os santos não são uma exígua casta de eleitos, mas uma multidão inumerável, para a qual a liturgia de hoje nos exorta a levantar o olhar. Em tal multidão, não estão somente os santos oficialmente reconhecidos, mas os batizados de todas as épocas e nações. De uma grande parte deles, não conhecemos os rostos e nem sequer os nomes, mas, com olhos da fé, vemo-los resplandecer, como astros repletos de glória, no firmamento de Deus.

A santidade exige um esforço constante, mas é possível para todos porque, mais do que uma obra do homem, é sobretudo um dom de Deus, três vezes Santo (cf. Is 6,3).

A Igreja recorda a santidade à qual os cristãos são chamados, como apresenta o Papa Francisco em sua Exortação Apostólica Gaudete et Exultate sobre o chamado à santidade no mundo atual: “O Senhor nos quer santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa” (GE, 1). 

“A santidade é o rosto mais belo da Igreja”. “Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça. No fundo, como dizia León Bloy, na vida “existe apenas uma tristeza: a de não ser santo” (Papa Francisco, GE, 34). 

A Igreja convida-nos, hoje, a pensar naqueles que, como nós, passaram por este mundo, lutando com dificuldades e tentações parecidas às nossas, e venceram. É essa grande multidão que ninguém poderia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, como nos fala São João em Ap 7, 2 -14. Todos estão marcados na fronte, revestidos de vestes brancas, lavados no Sangue do Cordeiro (Ap 7, 13 – 14). A marca e as vestes são símbolo do Batismo, que imprime no homem, para sempre, o caráter da pertença a Cristo, e a graça renovada e aumentada pelos sacramentos e pelas boas obras.

Festejamos e pedimos ajuda à multidão incontável que alcançou o Céu depois de ter passado por este mundo, semeando amor e alegria quase sem terem consciência disso; recordamos aqueles que, enquanto estiveram entre nós, ocuparam-se talvez, num trabalho semelhante ao nosso: empregados de escritório, comerciantes, empregadas domésticas, professores, secretárias, trabalhadores da cidade e do campo… Lutaram com dificuldades parecidas às nossas e tiveram que recomeçar, muitas vezes, como nós procuramos fazer.

Mas, “para que servem o nosso louvor aos santos, o nosso tributo de glória, esta nossa solenidade?” Com esta interrogação tem início uma famosa homilia de São Bernardo para o dia de Todos os Santos. É uma pergunta que se poderia fazer também hoje. E atual é, inclusive, a resposta que o Salmo nos oferece: “Os nossos santos, diz, não têm necessidade das nossas honras, e nada lhes advém do nosso culto. Por minha vez, devo confessar que, quando penso nos santos, sinto-me arder de grandes desejos”. Eis, portanto, o significado da solenidade de hoje: contemplando o exemplo luminoso dos santos, despertar em nós o grande desejo de ser como os santos: felizes por viver próximos de Deus, na sua luz, na grande família dos amigos de Deus. Ser santo significa: viver na intimidade com Deus, viver na sua família. Essa é a vocação de todos nós, reiterada com vigor pelo Concílio Vaticano ll, e hoje proposta de novo, solenemente, à nossa atenção.                                                                                                  

Todos fomos chamados a alcançar a plenitude do Amor, a luta contra as nossas paixões e tendências desordenadas, a recomeçar sempre que preciso, porque “a santidade não depende do estado – solteiro, casado, viúvo, sacerdote – mas da correspondência pessoal à graça que a todos nós é concedida” (São Josemaria Escrivá). A Igreja recorda-nos que o trabalhador, que todos as manhãs empunha a sua ferramenta ou caneta, ou a mãe de família, que se ocupa em seus trabalhos domésticos, no lugar que Deus lhes designou, devem santificar-se, cumprindo fielmente os seus deveres.

Agora podemos fazer nossa a oração de Santa Teresa, que ela mesma escutará: “Ó almas bem-aventuradas, que tão bem soubestes aproveitar e comprar herança tão deleitosa…! Ajudai-nos, pois estais tão perto da fonte; obtei água para os que aqui perecemos de sede”.

Nós somos, ainda, a Igreja peregrina que se dirige para o Céu; e, enquanto caminhamos, temos de reunir esse tesouro de boas obras com que um dia nos apresentaremos a Deus. Ouvimos o convite do Senhor: “Se alguém quer vir após Mim…”. Todos fomos chamados à plenitude da vida em Cristo. O Senhor chama-nos numa ocupação profissional, para que ali o encontremos, realizando as nossas tarefas com perfeição humana e, ao mesmo tempo, com sentido sobrenatural: oferecendo a Deus, vivendo a caridade com os nossos colegas, praticando a mortificação de um trabalho perfeitamente terminado, procurando já, aqui na terra, o rosto de Deus, a quem um dia veremos face a face.

“Para amar a Deus e servi-Lo, não é necessário fazer coisas estranhas. Cristo pede a todos os homens, sem exceção, que sejam perfeitos como o seu Pai celestial é perfeito (Mt 5, 48). Para a grande maioria dos homens, ser santo significa santificar o seu trabalho, santificar-se no seu trabalho e santificar os outros com o seu trabalho, e assim encontrar a Deus no caminho da vida” (São Josemaria Escrivá).

Vale a pena meditar as palavras de São João Paulo II, apontando a santidade ao alcance de todos: “ São Josemaria foi escolhido pelo Senhor para anunciar a chamada universal à santidade e mostrar que as atividades correntes que compõem a vida de todos os dias são caminho de santificação. Pode-se dizer que foi o santo do cotidiano. De fato, estava convencido de que, para quem vive sob a ótica da fé, tudo é ocasião de um encontro com Deus, tudo se torna um estímulo para a oração. Vista desta forma, a vida diária revela uma grandeza insuspeitada. A santidade apresenta-se verdadeiramente ao alcance de todos” (São João Paulo II).

O que fizeram essas mães de família, esses intelectuais ou operários…, para estarem no Céu? Pois bem, procuraram santificar as pequenas realidades diárias! E é isso o que temos de fazer: ganhar o Céu todos os dias com as coisas que temos entre mãos, entre as pessoas que Deus colocou ao nosso lado. O exemplo dos santos constitui para nós um encorajamento a seguir os mesmos passos, a experimentar a alegria daqueles que confiam em Deus, porque a única verdadeira causa de tristeza e de infelicidade para o homem é o fato de viver longe de Deus.

A festa de hoje procura nos animar a seguir em frente no caminho da santidade, com confiança e coragem. Em resumo, o Céu é a felicidade perfeita e para sempre. Devemos desejá-lo acima de tudo. O que Deus nos oferece é o bem supremo. Cristo une-nos ao seu mistério, que é mistério de vitória. Assim como os santos, se estivermos bem unidos a Cristo, a vitória está prometida. Que a intercessão e o exemplo dos Santos nos ajudem! Eles nos deixaram seus exemplos, intercedem por nós junto de Deus, e são a nossa torcida.

Encontramo-nos a Caminho do Céu e muito necessitados da misericórdia do Senhor!

A condição, para entrar no Céu, é fazer a vontade de Deus e do modo como Deus quer. Significa um combate espiritual até o fim da vida, luta pessoal constante em buscar a coerência da vida à fé nas opções a fazer, nas decisões a tomar. Significa empregar os meios, especialmente, oração e sacramentos. O principal é Deus quem realiza com a sua graça. O Céu é presente de Deus e está ao alcance da vontade de qualquer um que o queira.

Invoquemos, especialmente, Maria, Mãe do Senhor e espelho de toda a santidade. Ela é a Rainha dos santos, a Toda Santa, e que, portanto, faça-nos ser fiéis discípulos do seu Filho Jesus Cristo! No Céu, espera-nos a Virgem Maria, para estender-nos a mão e levar-nos à presença do seu Filho e de tantos seres queridos que nos aguardam. Que Ela nos ajude a caminhar com prontidão na vereda da santidade!

Mons. José Maria Pereira

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