Homilia do Mons. José Maria – Solenidade da Imaculada Conceição

Mãe, sem Pecado!

Celebramos hoje uma das festas mais bonitas e populares da Virgem Maria: a Imaculada Conceição. Maria não só não cometeu pecado algum, mas foi preservada até da herança comum do gênero humano que é o pecado original. E isto devido à missão para a qual Deus a destinou desde o início: ser a Mãe do Redentor. Tudo isto está contido na verdade da fé da “Imaculada Conceição”. O fundamento bíblico deste dogma encontra-se nas palavras que o Anjo dirigiu à jovem de Nazaré: “Alegra-te, cheia de Graça, o Senhor está contigo!” ( Lc1, 28 ).

Caminhando para o Natal, somos convidados a olhar para Maria, a IMACULADA, e reconhecer nela o modelo de como acolher Jesus, que está chegando. No caminho do Advento brilha a estrela de Maria, “sinal certo de esperança e de conforto” ( Lumen Gentium, 68 ). Para chegar a Jesus, luz verdadeira, sol que dissipou todas as trevas da História, precisamos de luzes próximas de nós, pessoas humanas que reflitam a luz de Cristo e iluminam assim o caminho a percorrer. E qual pessoa é mais luminosa do que Maria? Quem pode ser para nós estrela de esperança, melhor do que ela, aurora que anunciou o dia da salvação?”( Enc. Spe Salvi, 49 ). Por isso, a liturgia nos faz celebrar hoje, na proximidade do Natal, a festa solene da Imaculada Conceição de Maria: o Mistério da Graça de Deus que envolveu desde o primeiro momento da sua existência a criatura destinada a tornar-se a Mãe do Redentor, preservando-a do contágio do pecado original. Olhando para ela, nós reconhecemos a altura e a beleza do projeto de Deus para cada homem: tornar-se santos e imaculados no amor ( Ef 1, 4 ), à imagem do nosso Criador.

Que dom grandioso ter como Mãe, Maria Imaculada! Uma Mãe resplandecente de beleza, transparente ao amor de Deus: a Mulher predestinada para ser a Mãe do Redentor, Mãe d’Aquele que se humilhou até ao extremo para nos reconduzir à nossa originária dignidade. Esta Mulher, aos olhos de Deus, desde sempre tem um rosto e um nome: “cheia de Graça” ( Lc 1, 28 ), como foi chamada pelo Anjo que a visitou em Nazaré. É a nova Eva, esposa do novo Adão, destinada a ser mãe de todos os remidos. Assim escrevia Santo André de Creta:  “A Theotókos Maria, o refúgio comum de todos os cristãos, foi a primeira a ser libertada da primitiva queda dos nossos progenitores” ( Homilia lV sobre a Natividade, 97, 880 ). E a liturgia de hoje afirma que Deus “preparou uma digna morada para o seu Filho e, em previsão de sua Morte, preservou-a de toda a mancha de pecado” ( Oração da Coleta).  

 Dizer que Maria é Imaculada, significa que ela, desde o primeiro instante de sua existência – no momento de sua concepção -, foi isenta do pecado original. Ensina o Concílio Vaticano II: “A Mãe de Jesus, dando à luz do mundo a própria Vida que tudo renova… foi adornada por Deus com dons dignos de uma tão grande missão… enriquecida desde o primeiro instante da sua conceição, com os esplendores de uma santidade singular” (LG 56). A saudação do Arcanjo Gabriel: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1,28), constitui o mais válido testemunho da conceição imaculada de Maria, pois não seria “cheia de graça”, em sentido pleno, se o pecado a tivesse manchado, ainda que fosse por um instante apenas.

A Igreja reza e ensina: “Ó Deus, que preparastes uma digna habitação para o vosso Filho, pela Imaculada Conceição da Virgem Maria, preservando-a de todo o pecado em previsão dos méritos de Cristo…”.

Deus preparou aquela que seria a Mãe do seu Filho com todo o seu Amor infinito.

Disse São João Paulo II: “Na Virgem puríssima, resplandecente, fixamos os nossos olhos, como a Estrela que nos guia pelo céu escuro das expectativas e incertezas humanas, especialmente neste dia em que, sobre o fundo da liturgia do Advento, brilha esta solenidade anual da tua Imaculada Conceição e te contemplamos na eterna economia divina como Porta aberta através da qual deve vir o Redentor do mundo” (Alocução, 8 -12-1982)

A festa da Imaculada nos toca profundamente se a compreendemos à luz das palavras de São Paulo: “Deus nos escolheu, em Cristo, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor” (Ef 1,4).

Entre os antigos cantores da beleza espiritual da Mãe de Deus, sobressai São Bernardo,   afirmando que a invocação: “Ave Maria, cheia de Graça” é “agradável a Deus, aos anjos e aos homens. Aos homens, graças à maternidade; aos anjos, graças à virgindade; e a Deus, graças à humildade” ( Sermo XLVll, De Annuntiatione Dominica, Roma 1970, 266 ). O diálogo entre o anjo Gabriel e a Virgem ( Ave, Cheia de Graça: o Senhor está contigo ), revela a identidade mais profunda de Maria, o “nome”, por assim dizer, com que o próprio Deus a conhece: “cheia de Graça”. Esta expressão, que nos é tão familiar, desde a infância, porque a pronunciamos todas as vezes que recitamos a “Ave-Maria”, oferece-nos a explicação do mistério que hoje celebramos. De fato, Maria, desde o momento em que foi concebida pelos seus pais, foi objeto de uma singular predileção da parte de Deus, o qual, no seu desígnio eterno, a escolheu para ser a Mãe do seu Filho feito homem e, por conseguinte, a preservou do pecado original. Por isso o Anjo dirige-se a ela com este nome, que literalmente significa: “desde o início cheia do Amor de Deus” e da sua Graça.

O mistério da Imaculada Conceição é fonte de luz interior, de esperança e de conforto. No meio das provações da vida e sobretudo das contradições que o homem experimenta dentro de si e à sua volta, Maria, Mãe de Cristo, diz-nos que a Graça é maior que o pecado, que a misericórdia de Deus é mais poderosa que o mal e sabe transformá-lo em bem.  

Todos somos chamados a ser santos e irrepreensíveis; é o nosso mais verdadeiro destino; é o projeto de Deus para nós!

Maria é o modelo de santidade para todos nós! Nós não nascemos imaculados como Maria nasceu, por singular privilégio de Deus; o mal, pelo contrário, está em todas as nossas fibras e nas mais variadas formas. Estamos cheios de rugas: ruga é nossa preguiça, ruga a soberba, ruga a sensualidade desordenada que torna o espírito tão refratário à visita de Deus. Eliminar estas rugas e purificar-nos é trabalho de toda a existência: trabalho difícil e extenuante, mas indispensável, já que nada de impuro pode comparecer diante de Deus.

Maria está diante de nós, como um auxílio poderoso, neste trabalho de purificação e de recuperação da imagem de Deus. Maria é modelo de santidade.

Sem dúvida, foi o Espírito Santo quem ensinou, em todas as épocas, que é mais fácil chegar ao Coração do Senhor por meio de Maria. Por isso, temos de fazer o propósito de buscar sempre um trato muito íntimo com a Virgem, de caminhar por esse atalho para chegarmos antes a Cristo: “conservai zelosamente esse terno e confiado amor à virgem. Não o deixeis esfriar nunca… Sedes fiéis aos exercícios de piedade mariana tradicionais na Igreja: a oração do Angelus, o mês de Maria e, de modo muito especial, o Rosário”, anima-nos São João Paulo II.

Se cumprirmos o nosso propósito de recorrer com mais frequência à Virgem, desde o dia de hoje, verificaremos que “Nossa Senhora é descanso para os que trabalham, consolo dos que choram, remédio para os enfermos, porto para os que encontram no meio da tempestade, perdão para os pecadores, doce alívio dos tristes, socorro para os que rezam” (São João Damasceno). Guie-nos a Virgem Maria a uma verdadeira conversão do coração, para que possamos fazer as opções necessárias para sintonizar as nossas mentalidades com o Evangelho.

A festa da Imaculada, que hoje celebramos, ilumina como um farol o tempo do Advento, que é tempo de vigilante e confiante expectativa do Salvador. Enquanto nos encaminhamos ao encontro do Deus que vem, olhamos para Maria que “brilha como sinal de esperança segura e de consolação aos olhos do Povo de Deus peregrino” ( Lumen Gentium, 68 ).

Caríssimos, em Maria Imaculada nós contemplamos o reflexo da Beleza que salva o mundo: a beleza de Deus que resplandece sobre a face de Cristo. Em Maria essa beleza é totalmente pura, humilde, livre de qualquer soberba e presunção. 

 

Mons. José Maria Pereira

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