Homilia do Mons. José Maria – II Domingo da Quaresma – Ano C

Transfiguração: Desterrar o Escândalo da Cruz e Pensar no Céu!
O Evangelho (Lc 9, 28-36) apresenta a fé dos Apóstolos, fortalecida na Montanha, pela
Transfiguração de Jesus. São Lucas ressalta que Jesus subiu ao monte “para rezar” (9, 28),
juntamente com os Apóstolos Pedro, Tiago e João e, “enquanto rezava” (9, 29), verificou-se o
Mistério luminoso da Sua Transfiguração. Para os três Apóstolos, subir ao monte significou
serem incluídos na oração de Jesus, que se retirava com frequência em oração, especialmente
ao alvorecer e depois do pôr-do-sol, e, por vezes, durante toda a noite. A intervenção de
Pedro: “Mestre, é bom estarmos aqui” (9, 31) representa a tentativa impossível de deter esta
experiência mística. Comenta Santo Agostinho: “Pedro… no Monte…tinha Cristo como
alimento da alma. Porque deveria descer para voltar às dificuldades e aos sofrimentos,
enquanto lá em cima estava cheio de sentimentos de santo amor para com Deus e que por
isso lhe inspiravam um comportamento santo?” (Discurso 78). 
Meditando esse trecho do Evangelho, podemos tirar dele um ensinamento muito importante:
Antes de tudo, a primazia da oração, sem a qual todo o compromisso do apóstolo e da
caridade se reduz a ativismo. Na Quaresma, aprendemos a reservar o justo tempo à oração,
pessoal e comunitária, que dá alívio à nossa vida espiritual. Além disso, a oração não é isolar-se
do mundo e das suas contradições, como Pedro queria fazer no Tabor, mas a oração reconduz
ao caminho, à ação. “A existência consiste num contínuo subir ao monte do encontro com
Deus, para depois voltar a descer trazendo o amor e a força que disto derivam, de modo a
servir os nossos irmãos e irmãs com o mesmo amor de Deus” (Bento XVl, Mensagem para a
Quaresma, ano 2013).
Na Caminhada para Jerusalém, o primeiro anúncio da Paixão e Morte de Jesus abalou
profundamente a fé dos apóstolos. Desmoronaram seus planos de glória e de poder.
Para fortalecer essa fé ainda tão frágil… Cristo tomou três deles… subiu ao Monte Tabor e
“Transfigurou-se…”
A transfiguração de Jesus é uma catequese que revela aos discípulos e a nós quem é Jesus: O
Filho Amado de Deus.
Os discípulos já não estão diante de um rosto transfigurado, nem de uma veste cândida, nem
de uma nuvem que revela a Presença divina. Diante dos seus olhos está “Jesus sozinho” (Lc 9,
36).  Jesus ficou só, diante do seu Pai, enquanto reza, mas, ao mesmo tempo, “Jesus só” é
quanto é dado aos discípulos e à Igreja em cada época: é quanto deve ser suficiente para o
caminho. É ele a única voz que deve ser ouvida, o único que deve ser seguido, Ele que, subindo
a Jerusalém, entregará a vida e um dia “transformará o nosso corpo, humilhado, tornando-o
semelhante ao seu corpo glorioso” (Fl 3, 21).
Na nossa vida, também pode brilhar a glória de Cristo. A condição é ter presença de Deus, um
diálogo contínuo com Ele, a quem referimos toda a nossa vida e tudo o que nos rodeia. É a
vida de fé que podemos ter. Essa vida interior, vida de intimidade com Deus, é o prelúdio da
vida do Céu. Afinal, a nossa vida é uma caminhada para o Céu, que é a nossa morada. E o
pensamento da glória que nos espera deve animar-nos na nossa luta diária. Nada vale tanto
como ganhar o Céu!  
Em nossa caminhada para a Páscoa, somos também convidados a subir com Jesus a montanha
e, na companhia dos três discípulos, viver a alegria da comunhão com Ele. As dificuldades da

caminhada não podem nos desanimar. No meio dos conflitos, o Pai mostra-nos, desde já,
sinais da Ressurreição e, do alto daquele monte, Ele continua a nos gritar: “Este é o Meu Filho
Amado, escutai-O”.
Não desanimemos diante das dificuldades! Os Planos de Deus não conduzem ao fracasso, mas
à Ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim! Vale a pena seguir de perto o Senhor,
lutar contra as próprias tendências e misérias, vale a pena buscar a oração, vale a pena, e
podemos contar com todas as graças necessárias para chegar ao fim do caminho.
São Leão Magno diz que “o fim principal da transfiguração foi desterrar das almas dos
discípulos o escândalo da Cruz, para que a humilhação da paixão, voluntariamente suportada,
não abalasse a fé daqueles a quem tinha sido revelada a excelência da dignidade oculta de
Cristo”. Os Apóstolos jamais esquecerão esta “gota de mel” que Jesus lhes oferecia no meio da
sua amargura. Jesus sempre atua assim com os que o seguem. No meio dos maiores
padecimentos, dá-lhes o consolo necessário para continuarem a caminhar.
Esta centelha da glória divina inundou os Apóstolos de uma felicidade tão grande que fez
Pedro exclamar: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas…” Pedro quer
prolongar a situação! O que é bom, o que importa, não é estar aqui ou ali, mas estar sempre
com Cristo, em qualquer parte, e vê-Lo por trás das circunstâncias em que nos encontramos.
Se estamos com Ele, tanto faz que estejamos rodeados dos maiores consolos do mundo ou
prostrados na cama de um hospital, padecendo dores terríveis. O que importa é somente isto:
Vê-Lo e viver sempre com Ele! Esta é a única coisa verdadeiramente boa e importante na vida
presente e na outra. Desejo ver-Te, Senhor, e procurarei o Teu rosto nas circunstâncias
habituais da minha vida!
A vida dos homens é uma caminhada para o Céu, que é a nossa morada (2 Cor 5,2). Uma
caminhada que, às vezes, torna-se áspera e difícil, porque, com frequência, devemos remar
contra a corrente e lutar com muitos inimigos interiores ou de fora. Mas o Senhor quer
confortar-nos com a esperança do Céu, de modo especial nos momentos mais duros ou
quando se torna mais patente a fraqueza da nossa condição: “À hora da tentação, pensa no
Amor que te espera no Céu. Fomenta a virtude da esperança, que não é falta de generosidade”
(São Josemaria Escrivá, Caminho, nº 139).
O pensamento da glória, que nos espera, deve animar-nos na nossa luta diária. Nada vale
tanto como ganhar o Céu. Ensina Santa Teresa: “ E se fordes sempre avante com esta
determinação de antes morrer do que desistir de chegar ao termo da jornada, o Senhor,
mesmo que vos mantenha com alguma sede nesta vida, na outra, que durará para sempre, vos
dará de beber com toda a abundância e sem perigo de que vos venha a faltar” (Caminho de
Perfeição, 20,2).
“Este é o meu Filho amado, no qual pus o meu agrado. Escutai-O!” (Lc 9, 35). E Deus Pai fala
através de Jesus Cristo a todos os homens de todos os tempos. A sua voz faz-se ouvir em todas
as épocas, sobretudo através dos ensinamentos da Igreja…
Nós devemos encontrar esse Jesus na nossa vida corrente, no meio do trabalho, na rua, nos
que nos rodeiam, na oração, quando nos perdoa no Sacramento da Penitência (Confissão), e
sobretudo na Sagrada Escritura, onde se encontra verdadeira, real e substancialmente
presente. Devemos aprender a descobri-Lo nas coisas ordinárias, correntes, fugindo da
tentação de desejar o extraordinário.

Escutar e anunciar!
Não podemos ficar no Monte… de braços cruzados… O seguidor de Cristo deve descer do
monte para enfrentar o mundo e os problemas dos homens!
Cada domingo, ao participar da Santa Missa, subimos a Montanha, para contemplar o Cristo
transfigurado (ressuscitado) e escutar a sua voz.
Depois, ao descer a Montanha (sair da Igreja) devemos prosseguir a nossa caminhada, sendo
sal da Terra e luz do mundo.
Somos convidados a ser Missionários da Transfiguração!
A Transfiguração de Jesus é uma confirmação de que Ele é Deus que se fez homem, de que,
naquele corpo, igual ao nosso, se esconde a divindade. Foi como uma prévia do Céu. Essa
centelha de Glória divina inundou os Apóstolos de uma felicidade tão grande, que Pedro
queria reter: “Senhor, é bom ficar aqui.”
Na nossa vida, também, pode brilhar a glória de Cristo. A condição é ter presença de Deus, um
diálogo contínuo com Ele, a quem referimos toda a nossa vida e tudo o que nos rodeia. É a
vida de fé que podemos ter. Essa vida interior, vida de intimidade com Deus, é o prelúdio da
vida do Céu.
Para podermos contemplar o Deus invisível, o primeiro passo é ter vida de oração. Recolher-se
em oração, recolher-se, interiormente, para falar com Deus, mesmo vivendo no mundo.
Buscar, diariamente, essa quietude, essa solidão externa que é união interna com Deus,
especialmente, acompanhados pela leitura diária da Bíblia.
Rezemos com a Igreja: “Ó Deus, que nos mandastes ouvir o vosso Filho amado, alimentai -nos
com a vossa palavra, para que, purificado o olhar de nossa fé, nos alegremos com a visão da
vossa glória.” (Coleta da Missa). 
Mons. José Maria Pereira

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