Rezar pela Família: As Lições de Nazaré!
No Domingo, que segue o Natal do Senhor, celebramos com alegria a Santa Família de Nazaré. Podemos ainda identificar-nos com os pastores de Belém que, logo que receberam o anúncio do Anjo, acorreram apressadamente à gruta e encontraram “Maria e José, e o Menino deitado na manjedoura” (Lc 2, 16). O contexto é o mais adequado, porque o Natal é por excelência a festa da família. Demonstram-no tantas tradições e costumes sociais, especialmente o hábito de se reunir todos, precisamente em família, para as refeições festivas e para os bons votos e troca dos dons; e, como não frisar que nestas circunstâncias, o mal-estar e o sofrimento causados por certas feridas familiares são amplificados? Jesus quis nascer e crescer numa família humana; teve a Virgem Maria como mãe e José que lhe fez de pai; eles O educaram com imenso amor. A família de Jesus merece deveras o título de “santa”, porque está totalmente absorvida pelo desejo de cumprir a Vontade de Deus, encarnada na adorável Presença de Jesus. Por um lado, é uma família como todas e, como tal, é modelo de amor conjugal, de colaboração, de sacrifício, de entrega à divina Providência, de laboriosidade e de solidariedade, em suma, de todos aqueles valores que a família guarda e promove, contribuindo de modo primordial para formar o tecido de cada sociedade. Mas, ao mesmo tempo, a Família de Nazaré é única, diversa de todas, pela sua singular vocação ligada à missão do Filho de Deus. Precisamente com esta sua unicidade ela indica a cada família, em primeiro lugar às famílias cristãs, o horizonte de Deus, a primazia doce e exigente da sua Vontade, a perspectiva do Céu para o qual somos destinados. Por tudo isto, hoje, damos graças a Deus, mas também à Virgem Maria e a São José, que com tanta fé e disponibilidade cooperaram para o desígnio de salvação do Senhor.
Deus quis manifestar-se aos homens, integrado numa família humana. Ele quis nascer numa família, quis transformar a família num presépio vivo. Pode-se dizer que hoje celebramos o verdadeiro Dia da Família!
A Palavra de Deus em (Eclo 3, 3 – 7. 14 – 17) lembra aos filhos o dever de honrarem pai e mãe, de socorrê-los e compadecer-se deles na velhice, ter piedade, isto é, respeito e dedicação para com eles; isto é cumprimento da vontade de Deus.
São Paulo, em Cl 3, 12 – 21, enumera as virtudes que devem reinar na família: sentimentos de compaixão, de bondade, humildade, mansidão e paciência. Suportar-se uns aos outros com amor, perdoar-se mutuamente. Revestir-se de caridade e ser agradecidos. Se a família não estiver alicerçada no amor cristão, será muito difícil a sua perseverança em harmonia e unidade de corações. Quando esse amor existe, tudo se supera, tudo se aceita; mas, se falta esse amor mútuo, tudo se faz sumamente pesado. E o único amor que perdura, não obstante os possíveis contrastes no seio da família, é aquele que tem o seu fundamento no amor de Deus.
O Evangelho (Lc 2, 41 – 52) apresenta-nos a Virgem Maria e São José que, fiéis à tradição, vão a Jerusalém para a Páscoa, juntamente com Jesus, quando Ele tinha doze anos. Porém, quando seus pais regressam a Nazaré, acontece algo inesperado: Ele, sem dizer nada, permanece na Cidade. Por três dias, Maria e José procuram-no e encontram-no no Templo, em diálogo com os doutores da Lei (Lc 2, 46 – 47); e quando lhe pedem explicações, Jesus responde que não devem admirar-se porque aquele é o seu lugar, aquela é a sua casa, junto do Pai, que é Deus.
A preocupação de Maria e José por Jesus é a mesma de todos os pais que educam um filho, que o introduzem na vida e na compreensão da realidade. Portanto, hoje é indispensável dirigir uma oração especial ao Senhor por todas as famílias do mundo. Imitando a Sagrada Família de Nazaré, os pais se preocupem seriamente pelo crescimento e pela educação dos próprios filhos, a fim de que amadureçam como homens responsáveis e cidadãos honestos, sem nunca esquecer que a fé é um dom precioso que deve ser alimentado nos próprios filhos, inclusive com o exemplo pessoal. Ao mesmo tempo, rezemos para que cada criança seja recebida como dom de Deus, apoiada pelo amor do pai e da mãe, para poder crescer como o Senhor Jesus, “em sabedoria, idade e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52). O amor, a fidelidade e a dedicação de Maria e José sejam exemplo para todos os esposos cristãos, que não são os amigos ou os donos da vida dos seus filhos, mas os guardiães deste dom incomparável de Deus.
Este episódio evangélico revela a mais autêntica e profunda vocação da família: isto é, a de acompanhar cada um dos seus componentes pelo caminho da descoberta de Deus e do desígnio que Ele lhe predispôs. Maria e José educaram Jesus, em primeiro lugar, com o seu exemplo: nos seus pais, Ele conheceu toda a beleza da fé, do amor a Deus e à sua Lei, assim como as exigências da justiça, que encontra o seu pleno cumprimento no amor (Rm 13, 10). Deles aprendeu que antes de tudo é necessário realizar a Vontade de Deus, e que o laço espiritual vale mais que o vínculo do sangue. A Sagrada Família de Nazaré é verdadeiramente o “protótipo” de cada família cristã que, unida no Sacramento do Matrimônio e alimentada pela Palavra e pela Eucaristia, é chamada a realizar a maravilhosa vocação e missão de ser célula viva não apenas da sociedade, mas da Igreja, sinal e instrumento de unidade para todo o gênero humano.
A Sagrada Família é proposta pela Igreja como modelo de todas as famílias cristãs: na casinha de Nazaré, Deus ocupa sempre o primeiro lugar e tudo Lhe está subordinado.
Os lares cristãos, se imitarem o da Sagrada Família de Nazaré, serão lares luminosos e alegres, porque cada membro da família se esforçará em primeiro lugar por aprimorar o seu relacionamento pessoal com o Senhor e, com espírito de sacrifício, procurará ao mesmo tempo chegar a uma convivência cada dia mais amável com todos os da casa.
A família é escola de virtudes e o lugar habitual onde devemos encontrar a Deus.
Cada lar cristão tem na Sagrada Família o seu exemplo mais cabal; nela, a família cristã pode descobrir o que deve fazer e como deve comportar-se, para a santificação e a plenitude humana de cada um dos seus membros. Diz São Paulo VI: “Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho. Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e a penetrar o significado, tão profundo e tão misterioso, dessa muito simples, muito humilde e muito bela manifestação do Filho de Deus entre os homens. Aqui se aprende até, talvez, insensivelmente, a imitar essa vida”.
A família é a forma básica e mais simples da sociedade. É a principal escola de todas as virtudes sociais. É a sementeira da vida social, pois é na família que se pratica a obediência, a preocupação pelos outros, o sentido de responsabilidade, a compreensão e a ajuda mútua, a coordenação amorosa entre os diversos modos de ser. Está comprovado que a saúde de uma sociedade se mede pela saúde das famílias. Esta é a razão pela qual os ataques diretos à família (como divórcio, aborto, união de pessoas do mesmo sexo) são ataques diretos à própria sociedade, cujos resultados não tardam a manifestar-se.
O Messias quis começar a sua tarefa redentora no seio de uma família simples, normal. O lar, onde nasceu, foi a primeira realidade humana que Jesus santificou com a sua presença.
Hoje, de modo muito especial, pedimos à Sagrada Família por cada um dos membros da nossa família e pelo mais necessitado dentre eles.
Recordemos o verdadeiro significado da Festa da sagrada Família: Deus, que veio ao mundo no seio de uma família, manifesta que esta instituição é caminho certo para O encontrar e conhecer, assim como uma chamada permanente para trabalhar pela unidade de todos em redor do amor. Portanto, um dos maiores serviços que nós, cristãos, podemos prestar aos nossos semelhantes é oferecer-lhes o nosso testemunho sereno e firmes da família fundada no matrimônio entre um homem e uma mulher, salvaguardando-a e promovendo-a, porque ela é de máxima importância para o presente e para o futuro da humanidade. De fato, a família é a melhor escola na qual se aprende a viver aqueles valores que dignificam a pessoa e tornam grandes os povos. Nela também se partilham os sofrimentos e as alegrias, sentindo-se todos protegidos pelo carinho que reina em casa pelo simples fato de ser membros da mesma família.
Confiemos ao Senhor cada família, sobretudo as mais provadas pelas dificuldades da vida e pelas chagas da incompreensão e da divisão. O Redentor, que nasceu em Belém, conceda a todas as famílias a serenidade e a força para caminhar unidas pelas vias do bem.
Invoquemos a proteção de Maria Santíssima e de São José para cada família, de modo especial para as que estão em dificuldade. Que eles as sustentem, a fim de que saibam resistir aos impulsos desagregadores de uma certa cultura contemporânea, que debilita as próprias bases da instituição familiar. Ajudem as famílias cristãs a serem, em todas as partes do mundo, imagem viva do amor de Deus.
Jesus, Maria e José: esclarecei as famílias, socorrei as famílias, iluminai as famílias, salvai as famílias!
Maria, Rainha da Família, rogai por nós!
Mons. José Maria Pereira