Homilia do D. Henrique Soares da Costa – XV Domingo do Tempo Comum – Ano B

Am 7,12-15

Sl 84

Ef 1,3-14

Mc 6,7-13

Hoje, a santa Palavra que Deus nos dirige nos fala de duas realidades: nossa missão de profetas e a mensagem de devemos comunicar.

Primeiro, a vocação de profeta. Escutamos na primeira leitura como Amós não poderia se calar. Ele mesmo reconhece: “Não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo sicômoros. O Senhor chamou-me, quando eu tangia o rebanho, e o Senhor me disse: ‘Vai profetizar para Israel, meu povo!’” Amós não era profeta profissional nem era de uma família tradicional de profetas. E, no entanto, o Senhor o tirou de trás do rebanho, tirou-o da sua vida, e o mandou falar em seu nome ao povo de Israel. No evangelho, vimos Jesus chamando os Doze e os mandando em missão: sem levar nada, confiando somente em Deus, correndo o risco de serem incompreendidos e rejeitados, eles deveriam ir anunciando o Reino de Deus, que exige mudança de vida, conversão de pensamento, atitudes e modo de agir…

Meus caros, ainda hoje é assim; entre nós é assim! Deus continua falando, Deus continua escolhendo profetas, Deus continua dirigindo seu chamado ao mundo e a cada pessoa. Se escutarmos com atitude de fé a Palavra santa, se na oração nos abrirmos aos seus apelos, se estivermos atentos ao que ele nos fala no nosso coração, descobriremos que o Senhor também nos envia! Isso mesmo: todo cristão, pelo Batismo e a Crisma, participa da missão do Cristo Jesus, a missão de anunciar o Reino de Deus, revelando a face do Pai, que Jesus nos veio mostrar! É verdade que, na Igreja, há aqueles chamados para o ministério ordenado: Bispos, padres e diáconos que, em nome de Cristo, apascentam o rebanho e anunciam o Evangelho. Eles são os primeiros responsáveis pelo anúncio da Palavra de Deus. Mas, todo o povo de Deus, todos os batizados e crismados, cada um de nós, tem a missão de falar em nome do Senhor e, em nome de Cristo, levar a luz nas trevas, a paz nas tensões e angústias, a esperança no desespero, a vida nova nas situações de morte. Somos todos um povo de profetas, caríssimos e, se nos calarmos, se nos omitirmos, seremos culpados de escondermos e sufocarmos a Palavra do Senhor de que o mundo tanto necessita!

Aqui cabe um urgente exame de consciência. Quantas oportunidades temos de falar de Cristo, de anunciar a vontade e o plano de Deus, de dar testemunho do seu amor e da sua presença – e nos calamos, nos omitimos, como se Cristo não fosse uma questão nossa! Quantas vezes somos cristãos cansados, cristãos omissos, cristãos comodistas! Os pais aqui presentes têm anunciado Jesus a seus filhos, têm sido seus primeiros evangelizadores e catequistas? Têm rezado com eles? Têm procurado lavá-los à Igreja? Marido e mulher, têm sido um para o outro um sinal de Deus, uma palavra e uma presença de Cristo? Têm procurado construir o lar como um sinal do Reino dos Céus? E os jovens cristãos, têm sido sinal de Nosso Senhor no mundo em que vivem? Têm feito e vivido as várias experiências da vida como discípulos de Cristo? Eis, meus caros irmãos! Não esqueçamos que nós somos os profetas, nós somos os enviados do Senhor! É esta a primeira lição que hoje a Palavra de Deus nos dá. No trabalho, no amor, no descanso, no estudo, nas relações sociais somos as testemunhas do Senhor nosso! Um dia, certamente seremos cobrados por isso; o Senhor nos pedirá contas!

Um segundo aspecto para nossa meditação é o que diz São Paulo na segunda leitura. Aí ele apresenta de modo maravilhoso aquilo que devemos comunicar ao mundo com a palavra e com a vida, isto é, o conteúdo da nossa fé cristã, o grande sonho de Deus para o mundo e para a humanidade. O que nos diz o Apóstolo? Diz-nos que antes da criação do mundo, o Pai sonhou conosco! As montanhas ainda não existiam, as estrelas ainda não brilhavam e o Pai, em Cristo, já sonhava em criar tudo, em nos criar – a mim e a você – e nos mandar o seu Filho amado. Por ele, o Pai criou tudo, por ele, na força do Santo Espírito, o Pai, desde o princípio, cumulou de bênçãos a sua criação. Seu maior sonho era nos mandar Jesus, o Filho feito um de nós, para que Ele nos levasse à plenitude da amizade com o Pai na potência do Espírito. E quando nós pecamos, quando a humanidade, desde o princípio, fechou-se para Deus e para o seu sonho, o Pai nem assim desistiu do seu amor: na plenitude dos tempos ele enviou o seu Cristo para que, morrendo na cruz, ele nos libertasse do nosso pecado de teimosia e fechamento e, enchendo-nos do seu Espírito Santo, nos desse já o gostinho, as primícias da vida eterna. Essa vida, nós já a experimentamos aqui, em Jesus, ouvindo sua Palavra, convivendo com os irmãos como membros da Santa Igreja e, sobretudo, participando dos santos Sacramentos, de modo especial da Eucaristia, que é Pão do céu, alimento que nos traz já o sabor da vida de Deus.

Eis, caríssimos! Somos enviados por Jesus ao mundo para testemunhar o plano, o sonho de amor para toda a humanidade, que o Pai desde toda eternidade acalentou e realizou em Cristo Jesus, tornando-o presente para nós pelo ministério da Igreja! Estejamos certos de uma coisa: somos parte desse sonho, somos cooperadores desse sonho! Que nossa vida, nossas palavras, nosso compromisso, testemunhem e tornem presente esse sonho lindo de Deus!

Olhemos a Cruz, consequência do nosso pecado, e tomemos consciência do quanto somos caros a Deus, do quanto somos preciosos, do quanto somos amados e do quanto somos chamados a amá-Lo e participar da obra de salvação do mundo!

É esta a mensagem deste Domingo, é este o apelo do Senhor! Não sejamos surdos, mas como Amós, como os Doze primeiros, sejamos sementes do Reino de Deus. Amém.

Dom Henrique Soares da Costa

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