Homilia do D. Henrique Soares da Costa – XV Domingo do Tempo Comum – Ano A

Amados Irmãos no Senhor, neste Domingo começamos a escutar, na proclamação do Evangelho da Missa, o capítulo 13 de São Mateus, que ouviremos ainda pelos próximos dois domingos.

Do que trata? Prestai bem atenção: trata do Reino de Deus, que Mateus gosta de chamar de Reino dos Céus. Eis: nestes três domingos seguidos escutaremos o Sermão das Parábolas do Reino!

 Vede, caríssimos! Jesus, nosso Senhor, veio anunciar e implantar o Reino de Deus – esta foi a Sua missão; e assim Ele nos salvou! Tudo quanto fez, tudo quanto disse, os milagres que realizou, os exorcismos que praticou, Sua própria Morte e Ressurreição – tudo foi para implantar no coração de cada um de nós e do mundo o Reino do Pai do Céu.

Mas, curiosamente, o Senhor nunca definiu esse Reino! Pois bem, neste capítulo 13 do seu Evangelho, São Mateus, reúne sete parábolas de Jesus (sete: número perfeito, completo; sete: revelação perfeita), nas quais Ele, como um Mestre, sentado numa barca, imagem da Igreja, nos desvenda o mistério do Reino!

Atenção, portanto: nestes três domingos, o Senhor no dirá coisas estupendas sobre esse misterioso Reino!

– Fala-nos, pois, Senhor! Abre o Teu Coração e desvela-nos os mistérios do Reinado do Deus a Quem Tu chamas de Pai, Reino que trouxeste, Reino para o qual nos convidas!

Fala Senhor! Fala sentado na barca da Tua Igreja, nossa Mãe católica, eTe escutaremos atentos, com o coração na mão, pois Tu tens palavras de Vida eterna! É a Ti que se refere, é de Ti que fala, querido Jesus, aquele convite das Tuas Escrituras: “Ah! Todos vós que tendes sede, vinde à Água, vós que não tendes dinheiro, vinde! Comprai e comei; comprai sem dinheiro! Escutai-Me e vinde a Mim; ouvi-Me e vivereis!” (Is 55,1.3). Fala-nos, pois, santíssimo Salvador nosso, do Reino do Pai que vieste nos trazer pela Tua Encarnação, pela Tua pregação, pela Tua Paixão, Morte e Ressurreição! Fala-nos, Senhor: precisamos de Te escutar para compreender o sentido da vida, para saber os sonhos de Deus!

 Pois bem, a primeira parábola é-nos contada hoje: um semeador – que é Jesus mesmo e todos aqueles que em Seu Nome semearão enquanto o mundo for mundo –, um semeador saiu a semear a Palavra do Reino…

Atenção, irmãos: a Palavra semeada por Jesus, Senhor nosso, é o anúncio do Reino ou, melhor dizendo, o semeador saiu a semear o Reino de Deus feito Palavra! Assim, acolher a Palavra de Jesus é acolher o Reino, refutar a Palavra, refutar Jesus é refutar o Reino! Gravai bem isto na mente e no coração: a parábola do semeador é uma parábola do Reino dos Céus, é a parábola do semeador do Reino dos Céus!

Esta é a primeira lição sobre o Reinado de Deus: ele é semeado à mancheias, com generosidade e fartura por Jesus e Seus ministros, mas humildemente; e pode ser refutado!

Vede só que coisa: a Palavra de anúncio do Reino pode ser recebida sem compreensão. Que significa isto? Ela pode ser escutada com desprezo, sem que o ouvinte aceite compreender que se trata não de uma simples palavra humana, mas da própria Palavra que, acolhida com fé, faz Deus reinar no nosso coração, na nossa vida! O ouvinte assim, duro, descrente, que não compreende a Palavra como Palavra de Deus, mas a reduz ao nível de simples palavra humana, é presa fácil do Maligno, que vem de mil modos e leva embora essa Palavra santa, como os pássaros devoram as sementes caídas à margem do caminho…

 Há ainda tantos que acolhem com alegria e generosidade o Reinado de Deus anunciado na Palavra, mas infelizmente, são superficiais! Querem o Reino de Deus, mas não querem o Rei! Desejam o Reinado de Deus, mas não aceitam o trabalho de deixar realmente que Deus reine em suas vidas! Eita! que há tantos assim hoje em dia; tantos, tantos! Desejam um reinozinho à medida do homem, um reinozinho de si próprios!

Ora, acolher o Reino de Deus exige deixar que Senhor reine em minha vida com a Sua santa vontade, exige, pois, que eu me converta! Mas, esses são duros de coração: querem continuar no seu pecado, no seu comodismo, na sua vida pouco generosa e nada disposta à conversão; pensam que se pode acolher o Reino mantendo um coração cheio das pedras do mundo: “não tem raiz em si mesmo; é de momento: quando chega o sofrimento ou a perseguição, desiste logo!” Não esqueçais, Irmãos, a ilusão desses: querem o Reinado de Deus, mas sem Deus reinando na vida deles! Querem o Reino, mas não o Rei!

 Depois, aqueles cujo coração é um amontoado de espinhos de preocupações, de paixões, de apegos, de amores, de interesses… Num coração assim, o Reinado de Deus é sufocado! Reinam as paixões, reina a minha vontade, reinam os meus interesses, reina a minha imaturidade, reina o meu apego, reina o meu pecado… Deus fica em último lugar! A Palavra que anuncia o bendito Reinado do Senhor é, nesse espinheiro miserável, sufocada, o Reino murcha, mingua até desaparecer desse coração!

Por fim, um coração pobre e humilde, disposto como um campo fecundo e pronto! É aquele que, diante da Palavra que convida a deixar que Deus reine na nossa vida, diz: Podes reinar, Senhor! Sou Teu, para Ti nasci: que queres de mim? – Alguém assim é pobre, alguém assim é humilde, alguém assim dá espaço para que Deus reine na sua vida! De alguém assim é o Reino dos Céus! E nesse o Reino frutifica, dá fruto, se expande como uma semente fecunda e viçosa que dá trinta, sessenta, até cem por um!

 Ah, quantas lições, Irmãos meus! Vede só, resumindo tudo, três delas:

(1) O Reino é semeado generosamente, à mancheias pelo Senhor! Tão generoso é Aquele que deseja que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, que nem olha em que tipo de coração joga a semente! É para todos!

(2) O Reino de Deus é humilde, pede passagem, depende da nossa liberdade para acontecer em nós: pode ser acolhido ou refutado, como a semente! Assim, pode acontecer que, em mim, o Reino de Deus morra ou mesmo sequer chegue a nascer! Vede, Irmãos, tremamos, Irmãos: não é garantido que o Reino entrará e crescerá e frutificará em mim! Que poder, o meu: eu posso matar o Reinado de Deus em mim! Mas, atenção, porque se o Reino não entrar em mim, eu não entrarei no Reino!

(3) O Reino, mesmo para aqueles que o acolhem, terá fecundidades diferentes, dependendo do modo, da generosidade, com que ele é acolhido: pode dar muito fruto ou pouco fruto: trinta, sessenta, cem por um… Que fruto está dando na tua vida, Irmão amado em Cristo, o divino Semeador?

 Por fim, como é misteriosa a justificativa de Jesus para falar em parábolas: é para que falando de modo poético e figurado, fique sempre o espaço para que os de boa vontade se encantem e acolham e compreendam, e os de má vontade, de vez, virem o rosto, e se fechem e se afastem! Que mistério, que encontro: a graça do Deus que semeia largamente e a liberdade do homem em acolher ou refutar!

Uma coisa é certa, amados: esse Reino, semeado agora humildemente, entre as dores e tribulações de uma humanidade e de uma criação em dores de parto, como diz a segunda leitura, um dia desabrochará na plenitude de sua potência e de sua glória, de modo que toda a criação e nós mesmos no nosso corpo, seremos totalmente transfigurados pelo Espírito Santo de Cristo, que é a Força mesma da semente do Reino, a Energia mesma que faz a semente brotar, crescer e frutificar em fruto de Vida eterna!

 Assim, caríssimos, não duvidemos da força do Reino: tão humilde agora, um dia, no Dia de Cristo, ele desabrochará com toda a força da Glória de Deus!

Não nos esqueçamos: a Palavra do nosso Deus é viva e eficaz, como a chuva que, descendo do céu, irriga a terra e faz brotar a semente!

 Que nos resta dizer?

Venha, Senhor Deus, o Teu Reino!

Dá-nos um coração pobre, humilde, disponível para acolher a boa semente da Palavra do Teu Cristo, de modo que, escutando a Sua santa Palavra, Tu possas reinar em nós e demos frutos de Vida eterna, pois Teu é o Reino, o Poder e a Glória para sempre. Amém!

 

Dom Henrique Soares

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