Homilia do D. Henrique Soares da Costa – IX Domingo do Tempo Comum – Ano A

Dt 11,18.26-28.32
Sl 30
Rm 3,21-25a.28
Mt 7,21-27

Somos crentes! Cremos que há um Deus no céu e na terra, um Deus na nossa vida! Crer significa abrir-se para Ele, reconhecê-lo como Origem, Sentido e Destino da nossa existência…Para nós, viver é viver nele, morrer é ficar sem ele, pois já não teríamos um sentido para nossa vida! Crer é poder dizer: Deus é meu chão, é meu horizonte, é meu ambiente, é o ar que eu respiro!

É neste contexto e com estes pensamentos que devemos escutar as exortações do livro do Deuteronômio, na primeira leitura desta Eucaristia, ao nos falar de Deus e da sua Palavra: “Incuti estas minhas palavras em vosso coração e colocai-as como faixas sobre a testa”. Eis: o fiel aqui é convidado a envolver-se com a Palavra, a deixar-se abarcar por Deus, por sua vida, por seus mandamentos, por seu amor… O fiel é exortado a respirar Deus com toda a sua existência! Daqui depende a bênção ou a maldição de sua vida, de seu caminho neste mundo, daqui decorre o sentido ou ausência de sentido da sua existência neste mundo e na eternidade:“Escolhe, pois a bênção para que vivas! Façamos aqui uma pausa e,do fundo da nossa existência, tão débil e incerta – certa somente se for vivida em Deus – elevemos o coração ao Senhor com as palavras do Salmista:“Senhor, eu ponho em vós a minha esperança! Sede uma rocha protetora para mim, um abrigo bem seguro que me salve! Sim, sois vós a minha rocha e fortaleza: salvai-me pela vossa compaixão!”

Para nós, cristãos, a vida com Deus é mais que obedecer a preceitos: é crer, é abrir-se totalmente para Aquele que o Pai nos deu – Jesus! Somos todos tão incapazes de agradar a Deus, tão quebrados interiormente… Não somos bonzinhos, não somos tranquilamente abertos para Deus, disponíveis à sua vontade a nosso respeito… Não lhe somos fiéis como deveríamos! É em Cristo – e somente em Cristo -, no seu amor até a morte, que encontramos a vida com Deus e em Deus. É o que nos quer dizer São Paulo na segunda leitura de hoje: “Todos pecaram e estão privados da glória de Deus, e a justificação se dá gratuitamente por sua graça, em virtude da redenção realizada em Jesus Cristo”. Atentos à palavra do Apóstolo: todos somos pecadores, todos com a profunda tendência de nos fechar à graça, de viver como quem não crer, como se Deus não existisse! O único modo de nos abrirmos para Deus de verdade é acolher Aquele que morreu e ressuscitou para nos justificar, isto é, tornar-nos amigos de Deus, fazer-nos justos diante de Deus! Contemplando o quanto o Senhor Jesus deu-se por nós, sofreu por nós, por nós morreu e ressuscitou, somos convidados a nos reconhecer pecadores, sem-amor, indignos de Deus, e abandonarmo-nos à salvação que somente Jesus nos pode dar! Eis o que é crer em Jesus! Notemos que é o contrário do pensamento dominante hoje, quando a humanidade acha-se justa, santa, madura – até chegar ao ponto de julgar Deus e seus preceitos! O crente, remando contra a maré, reconhece-se indigno de Deus, pequeno ante ele e, cheio de confiança, nele se abandona. A fé é o contrário da vã confiança, da prepotência presunçosa e ilusória. Feliz era Francisco de Assis, que perguntava e respondia ao Cristo:“Senhor, quem és tu? Quem sou eu? Tu és o meu tudo; eu sou o teu nada!”

Mas, atenção! Esta fé em Jesus é mais que uma proclamação, que um sentimento: é uma abertura real, uma atitude de vida, um compromisso que envolve toda a existência nossa: “Nem todo aquele que me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas o que põe em prática a vontade do meu Pai que está os céus!” Que estejamos bem atentos – e estejam também aqueles que, de modo unilateral e ilusório, gritam que só a fé salva; as obras ao contam: não adianta nada, não é sinal de verdadeira fé gritar o nome do Senhor, profetizar em nome do Senhor, expulsar demônios em nome do Senhor, fazer muitos milagres em nome do Senhor! Tudo isso sem um compromisso eficaz e real de nossa vida com o modo de ser e viver que Jesus nos propõe, é inútil: “Jamais vos conheci! Afastai-vos de mim, vós que praticais o mal!”

Nestes tempos em que a fé virou show de televisão e o nome de Jesus é instrumento de alienação e lucro vil e ter fé é confundido com ser crédulo e ingênuo, o Senhor nos aponta o sentido da verdadeira fé: construir a casa da vida sobre a rocha que é Cristo, por ele perder-se e perder tudo, nele tudo apostar, nele absolutamente confiar, na sua Palavra viver e morrer e nele ter a certeza de que somente em Jesus o Pai nos disse Sim, um sim do qual ele não se arrependerá jamais!

Pois! Que Cristo, a Palavra última e única do Pai – Palavra que contém todas as palavras! – que Ele seja incutido em nosso coração e em nossa alma; seja um sinal em nossas mãos e um selo o nosso coração e na nossa vida! É esta a bênção verdadeira, esta, a vida, esta a salvação! Que o Senhor no-la conceda na sua misericórdia! Amém.

D. Henrique Soares da Costa

Facebook
Twitter
LinkedIn
Pinterest
Pocket
WhatsApp

Veja Mais