Homilia do D. Henrique Soares da Costa – IV Domingo do Advento – Ano C

Mq 5,1-4a

Sl 79

Hb 10,5-10

Lc 1,39-45

Estamos no último domingo do Advento e a Palavra de Deus, na ânsia de bem nos preparar para o santo Natal, apresenta-nos o Mistério de modo estupendo. E quando o Mistério é grande, antes, infinito, como é difícil falar dele!

Comecemos nossa meditação com a Epístola aos Hebreus, que de modo impressionante nos desvela os sentimentos do Filho eterno do Pai no momento da sua Encarnação: Pai, “Tu não quiseste vítima nem oferenda”, aquelas do Templo, aquelas vítimas simplesmente rituais, “mas formaste-me um corpo”, tu me fizeste humano, deste-me uma natureza humana! Não foram do teu agrado os sacrifícios de animais irracionais, os ritos meramente formais, “por isso eu disse: ‘Eis que eu venho! Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade’”. Eis o primeiro aspecto que nos é dado hoje meditar! O Filho eterno, igual ao Pai, Deus igual a Deus, luz gerada pela luz, por puro amor, por pura obediência ao Pai que tanto nos amou, dignou-se fazer-se homem! Sem deixar de ser Deus verdadeiro, ele realmente se tornou homem verdadeiro, em tudo igual a nós, menos no pecado. Mas, como pode? Como é possível? Aquele que é a luz, assumiu a escuridão humilde do seio materno; Aquele que abarca o universo, foi abarcado pelo útero de uma Virgem; Aquele que é a Palavra eterna do Pai, passou nove meses no silêncio da gestação! Como pode ser? Num mundo que se contenta com mentirinhas, com fábulas, mitos e lendas, eis uma realidade que nos deixa maravilhados! E tudo isso por nós, para nossa salvação, para nos elevar! Ele veio viver em tudo nossa aventura humana, em tudo, nossas angústias, em tudo, nossas procuras, em tudo, nosso sonho de ser felizes! “É graças a esta vontade que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas!”. O Filho eterno, fazendo-se um de nós, assumindo nosso corpo, isto é, nossa humanidade, nossa história, nossas limitações, foi homem perfeito, perfeitamente dedicado ao Pai, perfeitamente obediente, perfeitamente abandonado nas mãos do Pai, e, assim, nos salvou, mereceu-nos o perdão para a humanidade que Adão havia estragado!

Ó Cristo Deus, ó Cristo homem! Bendito sejas, porque te fizeste um de nós! Bendito sejas, porque em tudo viveste como nós, para encher de novo sentido a nossa pobre vida, para iluminar nossas trevas, para nos mostrar o caminho, para em nosso nome seres totalmente obediente ao Pai e, assim, nos fazer também a nós, obedientes como tu! Bendito sejas, hoje e sempre, pelo teu Advento, pelo mistério da tua Encarnação! Tu és a razão da nossa esperança, tu és o fundamento do nosso sorriso, tu és o nosso consolo, tu és a nossa paz! Em ti, Santo Emanuel, cumpriu-se a profecia de Miquéias: “Tu, Belém de Éfrata, pequenina entre os mil povoados de Judá, de tu sairá aquele que dominará em Israel; sua origem vem de tempos remotos, desde os dias da eternidade. Ele não recuará, apascentará com a força do Senhor e com a majestade do nome do Senhor seu Deus… ele estenderá o poder até aos confins da terra, e ele mesmo será a Paz!” Ó Santo Messias, nossa paz, rei eterno! Bendito sejas para sempre porque vieste!

Mas, há mais, no Mistério deste IV Domingo! Além do “sim” eterno e divino do Filho que disse “ó Pai, eis que eu venho para fazer tua vontade”, nas montanhas da Galiléia, em Nazaré, um outro “sim” ecoou: o sim de uma criaturazinha frágil, o sim apaixonado e total à proposta inaudita de Deus: “Gabriel, vai dizer Àquele que te enviou que eu sou a Serva, que se faça conforme a tua palavra!” Que mistério tão impenetrável, que inteligência alguma humana poderá compreender plenamente! O sim do Filho eterno somente realizou-se no nosso mundo graças ao sim de uma pobre Virgem de Nazaré! Como pode o Criador depender da criatura? Que mistério tão grande o plano eterno de Deus depender de nós! A Virgem disse sim: sim total, sim sem condições, sim absoluto, sim sem reservas, sim de corpo e alma! E, depois do sim, ela corre para a região montanhosa de Judá, para ver o sinal que o anjo havia dado: a parenta idosa e estéril havia concebido! Como a arca da aliança, contendo as tábuas da Lei, foi transportada para a região montanhosa de Judá (cf. 2Sm 6,1-8), também Maria, contendo em si Aquele que é a nova Lei, vai para a região de Judá, como Davi admira-se e exclama: “Donde me vem que a arca do meu Senhor fique em minha casa?” (2Sm 6,9) Isabel também derrama-se em júbilo admirado: “Donde me vem que a Mãe do meu Senhor venha visitar-me?” Como a arca ficou três meses na casa de Obed-Edom (cf. 2Sm 6,11), a Virgem ficou três meses na casa de Isabel! Que projeto admirável de Deus, que sim tão bonito da Virgem! Quanta generosidade, quanta fé, quanta entrega, quanto abandono!

Ó Virgem toda santa e toda pura! Obrigado pelo teu sim, obrigado pelo sim que é eco no tempo do sim que o Filho pronunciou na eternidade! Como poderíamos te saudar, ó Toda Santa? Saudamos-te como a Escritura nos ensina: saudamos-te Cheia de Graça, saudamos-te Bendita entre as mulheres, saudamos-te Arca da Aliança, saudamos-te Mãe do Senhor, saudamos-te portadora do Salvador, saudamos-te Causa da nossa alegria, saudamos-te Esposa do Espírito, saudamos-te Bendita por ter acreditado! Saudamos-te assim, Mãe de Jesus, e toda a saudação do mundo ainda seria pouca para exprimir a grandeza do teu sim e nossa gratidão pela tua disponibilidade! Ensina-nos, Virgem Maria, a dizer o sim como tu disseste; ensina-nos a tornar nossa vida disponível ao plano do Senhor; ensina-nos a viver em nós a obediência do Filho, como tu viveste!

Mas, há ainda um terceiro aspecto do Mistério que é necessário ponderar. É da Belém pequenina entre os mil povoados de Judá que sairá o Dominador de Israel; é de uma Virgem pobre, frágil e humilde que virá o Salvador, aquele que “estenderá o poder até aos confins da terra”. Deus é assim: onde não há vida, onde não há esperança, onde não há grandeza aos olhos do mundo, ele faz a vida brotar, a esperança surgir, a grandeza aparecer! Não é esta uma das maiores lições do Natal? Um Deus que escolhe o caminho da fraqueza, da pobreza, da humildade, da debilidade? Convertamo-nos ao modo de agir de Deus, tão distante dos nossos modos magalomaníacos, dos nossos projetos grandiloqüentes! Para nossa vergonha e confusão, para nossa conversão, é preciso dizer sem medo: Deus não está primeiro no que é forte, mas no que é fraco; Deus não está antes no que é potente, mas no que não pode nada; Deus não está na riqueza, mas na pobreza; Deus não está em cima, mas embaixo; Deus não está com os vencedores, mas com os vencidos; Deus não está com os que riem pelas glórias do mundo, mas com os que choram porque se sentem sós, pisados, humilhados e triturados pela vida!

Ó Santo Messias, converte-nos pela graça do teu bendito Advento! Converte-nos com as lições do teu Natal! Ajuda-nos a cantar, com a tua Mãe Santíssima, que enches os pobres de bens, que dispersas sem nada os ricos, que exaltas os humilhados e humilhas os soberbos! Ó Santo Messias, pelas preces da Toda Santa e de São José, seu castíssimo esposo, pelas preces de todos os santos pobres e humildes do mundo, dá-nos a graça do teu Natal, a certeza da tua presença e a vida eterna. Amém.

 

D. Henrique Soares da Costa

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