Homilia do D. Henrique Soares da Costa – III Domingo de Páscoa

At 5,27b-32.40b-41

Sl 29

Ap 5,11-14

Jo 21,1-19

A Liturgia, neste santo Tempo Pascal, concentra nossa a atenção Naquele que por nós morreu e ressuscitou; na Glória que Ele agora possui, como Senhor do Céu e da terra: “O Cordeiro imolado é digno de receber o poder, a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor. Ao que está sentado no trono e ao Cordeiro, o louvor e a honra, a glória e o poder para sempre!”

Estejamos atentos, porém: afirmar a glória de Cristo, não é algo de folclórico ou triunfalístico, mas é uma proclamação convicta e clara do Seu senhorio sobre nós, sobre nossa pobre vida, sobre a vida da Igreja, sobre o mundo e sobre toda a história. A Igreja e cada cristão vivem desta certeza: Jesus ressuscitou dos mortos, é o Vivente, é o Senhor; nós existimos Nele e para Ele; Ele é o referencial último e absoluto da nossa existência! Disto nos dá um eloquente exemplo o testemunho dos apóstolos diante do Sumo Sacerdote e do Sinédrio de Israel: “É preciso obedecer a Deus, antes que os homens! O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus; tornando-O Guia Supremo e Salvador”.

É este Jesus vitorioso, que vem ao encontro dos Seus às margens do Mar da Galileia; é este Senhor nosso que os apóstolos experimentam no Evangelho de hoje. Cada detalhe deste texto de João é cheio de significado. Vejamos: os apóstolos pescam e nada conseguem apanhar… A pescaria é imagem da ação missionária da Igreja, da sua missão inarredável de proclamar a todos os povos, a toda a humanidade, Jesus Cristo como único Senhor e Salvador. Sem o nosso Senhor e Salvador, estamos sozinhos, sem Jesus a pescaria é estéril, as tentativas são vãs… Sem Jesus, pescamos na noite escura… Mas, pela manhã, o Senhor vem ao encontro dos Seus. Notemos que os discípulos não conseguem reconhecer o Ressuscitado. Somente quando Cristo Se dá a conhecer é que os Seus conseguem compreender e experimentar Sua presença viva e atuante. E Jesus dá-Se a conhecer sempre na Palavra e no Pão partido, na refeição em comum, isto é, na Celebração Eucarística. É aqui, é agora, nesta Eucaristia sagrada, que o Senhor nos fala e parte o Pão conosco. Toda Celebração eucarística é celebração pascal, é encontro com o Ressuscitado! Como seria bom que, a cada Domingo, revivêssemos esta experiência, esta certeza da presença do Senhor vivo entre nós!

Os discípulos ainda não haviam reconhecido Jesus. Este lhes ordenou: “Lançai a rede!” Eles a lançaram e já “não conseguiam puxá-la para fora, por causa da quantidade de peixes”. Notai, Irmãos: o Discípulo Amado, diante do sinal, reconhece o Ressuscitado: “É o Senhor!” Mas, é Simão Pedro, aquele que ama o Senhor mais que os outros, quem se faz ao mar, para encontrar Jesus. O Cristo ordena que arrastem a rede para a terra. Vede: o barco é um só, como uma só é a Igreja de Cristo; também a rede é uma só, como única é a obra da evangelização na Igreja: anunciar o Senhor Jesus Cristo, imolado e ressuscitado, único Salvador do mundo! E a rede não se rompe, apesar de cheia de 150 peixes grandes. O número é exagerado, significando a plenitude da obra evangelizadora. E, então, Jesus repete, diante dos discípulos, os gestos da Eucaristia: “tomou o pão e distribuiu entre eles”.

Depois, três vezes, o Ressuscitado pergunta a Pedro – e pergunta aos sucessores de Pedro, os Bispos de Roma, e a todos a quem chama a pastorear a Sua Igreja, sobretudo aos Bispos: “Simão, filho de João, tu Me amas mais do que estes?” Pedro responde que sim, e abandona-se no Senhor: “Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo!” Senhor, antes coloquei minha confiança em minhas próprias forças, em meu próprio amor e terminei Te traindo… Tu disseste que oravas por mim para que minha fé não desfalecesse, mas fui presunçoso, e contei mais com minhas forças que com Tua oração… Mas, agora, Te digo: “Tu sabes tudo; Tu sabes que Te amo,” apesar de minha fraqueza! É naquilo que Tu sabes, que Tu podes, que Tu em mim realizas que Te digo: amo-Te! – E três vezes, Jesus o incumbe, diante dos outros, de uma missão toda particular: “Apascenta as Minhas ovelhas!”

Que ninguém duvide – a menos que deseje fazer pouco da vontade do Senhor nosso – que Pedro não é o único, mas é o primeiro pastor do rebanho de Cristo. O rebanho é de Cristo, o Bom Pastor, e Cristo o confiou primeiramente a Pedro! Quem nega a necessidade da comunhão com o Sucessor de Pedro, certamente, age de modo contrário ao que Cristo desejou para a Sua Igreja e para Seus discípulos. De pouco adianta uma Bíblia debaixo do braço, se contrariando a Palavra de Deus, se nega a presença real do Cristo na Eucaristia ( Jo 6,53-57), o papel materno de Maria Virgem junto a cada discípulo amado do Senhor ( Jo 19,25-27), a indissolubilidade do matrimônio ( Mc 10,1-12), a sucessão apostólica e o papel de Pedro e seus sucessores na Igreja de Cristo (Mt 16,13-20)!

Estejamos atentos: não é a Pedro super-homem que o Senhor confia a Sua Igreja; mas a Pedro frágil, a Pedro que O negou, a Pedro humilhado, a Pedro que pode servir até de pedra de tropeço porque pensa como os homens e não como Deus (Mt 16,23), a Pedro que precisou ser repreendido por Paulo com firmeza “porque estava se comportando de modo censurável” (Gl 2,11).

Pedro é a pedra da Igreja, mas a Rocha inabalável é somente Cristo: só Ele é o Mestre, só Ele é o Guia (Mt 23,8-10)! A Igreja é de Cristo, não de Pedro, não dos apóstolos! É de Cristo, não nossa! E Cristo convida a Pedro, aos apóstolos todos e a cada um de nós a segui-Lo até o martírio, até levantar as mãos na cruz, dando a vida por Ele e como Ele…

Assim foi com Pedro, assim com os discípulos, assim, agora, conosco…  Não tenhamos medo! É possível que muitas vezes nos sintamos sozinhos, desamparados, pescando numa pescaria estéril de noite escura… Coragem: o Senhor está conosco: é Ele quem nos manda à pesca, é Ele quem pode encher nossas redes e dá-lhes consistência para que não se rompam, é Ele quem nos revela Sua presença e nos enche de coragem!

Recordemos dos nossos primórdios, da fidelidade e da coragem dos santos apóstolos que se sentiam “contentes por terem sido considerados dignos de injúrias por causa do Nome de Jesus.” É que eles sabiam por experiência que o Senhor estava vivo, que o Senhor caminhava com eles. Também nós, hoje, podemos escutá-Lo nas Escrituras e reconhecê-Lo entre nós no Pão partido da Eucaristia. É este Jesus que nos envia à pesca, é este Jesus que caminhará sempre com Sua Igreja, nossa Mãe católica, até o fim dos tempos!

A ele a glória e o louvor, a adoração, a riqueza e a sabedoria, a força e a honra para sempre.

 Amém.

Dom Henrique Soares da Costa

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