Homilia do D. Anselmo Chagas de Paiva – Santíssima Trindade – Ano C

Meus caros irmãos e irmãs,

Celebramos neste domingo a Solenidade da Santíssima Trindade, que, em certo sentido, recapitula a revelação de Deus advinda dos mistérios pascais: morte e ressurreição de Cristo, sua ascensão à direita do Pai e a efusão do Espírito Santo. 

Depois do tempo pascal, culminado na festa de Pentecostes, a liturgia prevê estas três solenidades do Senhor: a Santíssima Trindade; na próxima quinta-feira, o dia de “Corpus Christi”; e finalmente, na sexta-feira sucessiva, a festa do Sagrado Coração de Jesus. Cada uma destas celebrações litúrgicas evidencia uma perspectiva a partir da qual se abrange todo o mistério da fé cristã:  ou seja, respectivamente a realidade de Deus Uno e Trino, o Sacramento da Eucaristia e o centro divino-humano da Pessoa de Cristo. Na verdade são aspectos do único mistério da salvação, que num certo sentido resumem todo o itinerário da revelação de Jesus, da encarnação à morte e ressurreição até à ascensão e ao dom do Espírito Santo.

Como sabemos, a Trindade divina passa a habitar em nós a partir do dia do Batismo: “Eu te batizo – diz o ministro – em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. O nome de Deus, no qual fomos batizados, é lembrado por nós toda vez que fazemos o sinal da cruz. Também iniciamos cada Celebração Eucarística em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo.  O mesmo ocorre no final, ao concluir, com a bênção do Pai e do Filho e do Espírito Santo.  Também no decorrer da Santa Missa fazemos a nossa profissão de fé dizendo: “Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso… e em um só Senhor, Jesus Cristo… e no Espírito Santo”.   No sinal da cruz está também o anúncio que gera a fé e inspira a oração.

No texto evangélico, Jesus promete aos Apóstolos: “Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade” (Jo 16, 13).  A missão do Espírito Santo será iluminar os discípulos para que eles entendam de maneira correta aquilo que o Cristo ensinou e possam conduzir a comunidade dos discípulos de Jesus ao caminho da verdade. Assim também ocorre na liturgia dominical, quando os sacerdotes oferecem, semanalmente, o pão da Palavra e da Eucaristia. 

Neste domingo, as leituras nos falam da Santíssima Trindade, para nos revelar o amor que Deus tem por nós e nos mostrar o seu projeto de salvação. A primeira leitura ressalta o projeto do Pai na criação, a fonte e a origem de tudo. A segunda leitura nos revela que o projeto de Deus, prescrito na primeira leitura, se realiza em Jesus Cristo, o Filho unigênito de Deus, escondido desde a eternidade no seio do Pai e que estava com ele no momento da criação, mas somente com a intervenção do Espírito Santo é que saberemos compreender e aderir plenamente ao projeto de Deus para nós à obra salvadora do Filho, ou seja, do Cristo Jesus.  Cabe ao Espírito Santo iluminar as mentes e os corações dos homens a respeito dos ensinamentos do Evangelho e colocar em prática as recomendações que ele nos apresenta.

Todas as celebrações são sempre em honra de Deus, Uno e Trino.  Os sacramentos são realizados e celebrados mediante a invocação das três pessoas divinas. Pode-se ressaltar ainda a doxologia que conclui todos os salmos na Liturgia do Ofício Divino: “Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre”.  E quando nos dirigimos a Deus com uma oração de impetração, podemos concluir com estas palavras: “Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus, e vive e reina convosco, na unidade do Espírito Santo, por todos os séculos dos séculos”.

A Santíssima Trindade está, pois, incessantemente nos lábios e no coração dos cristãos.  E neste domingo nós a adoramos de modo especial. Com esta solenidade, quer também a Igreja mostrar de modo mais intenso a sua devoção à Trindade Santíssima e proclamar de forma mais expressiva a sua fé.

Todas as nossas obras devem ter uma única finalidade: que o nome de Jesus seja glorificado em nós.  O Pai e o Espírito Santo glorificam a Jesus e nos dão com Ele uma norma a nos orientar sempre.  O lema, como que a síntese de nossa vida, deverá ser aquela significativa oração no final das preces eucarísticas da Santa Missa, onde apresentamos o Corpo e o Sangue de Jesus na patena e no cálice: “Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a vós, Deus Pai todo-poderoso, toda a honra e toda a glória, agora e para sempre, na unidade do Espírito Santo”.  E, acompanhando esse momento forte de oração que brota do íntimo de nosso ser, possamos dizer com fé, mesmo que não consigamos atingir a grandeza que o mistério encerra: “Amém”.

E ao colocar esta solenidade no domingo seguinte à solenidade de Pentecostes, a Igreja vem nos lembrar que cada domingo é uma festa da Santíssima Trindade, pois o domingo é o dia do Senhor, dia em que Jesus ressuscitou e que o Espírito Santo nos santificou, descendo sobre a igreja nascente. Neste sentido, todo domingo devemos contemplar este mistério Trinitário!

Assim como Jesus, em quem vivia “a plenitude Deus” (Cl 2,4) e só fazia a vontade do Pai (cf. Jo 4,34; 5,36), assim, em nós, Deus quer ser a meta e o impulso de todas as nossas vontades, nas provações e nos momentos de esperança.

Possamos invocar a Bem-aventurada Virgem Maria, primeira criatura plenamente enriquecida pela Santíssima Trindade.  Na sua humildade ela se fez serva do Senhor e acolheu a vontade do Pai e concebeu o Filho por obra do Espírito Santo. Que ela interceda sempre por nós e nos ajude a crescer na fé no mistério trinitário. A ela pedimos a sua proteção materna, para que possamos prosseguir bem a nossa peregrinação terrena.  Assim seja. 

D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB
Mosteiro de São Bento/RJ.

Facebook
Twitter
LinkedIn

Biblioteca Presbíteros