Pange língua… Cante, ó língua, o mistério glorioso do Corpo e Sangue de Cristo! Assim propõe o tradicional canto eucarístico. Sim! Durante os séculos – no silêncio das catacumbas, nos coros das catedrais, nos campos e cidades, nos conventos e nas capelas familiares, na voz do jovem ou dos idosos, no canto chão, no polifônico e no popular – a língua católica louva alegre o mistério da Eucaristia. Deus não só institui seu sacrifício do altar e se faz alimento, Ele quer permanecer em nosso meio, dentro de nossos sacrários para que pudéssemos tê-lO sempre conosco de modo real. Deus imenso e todo poderoso, acha sua alegria em estar com os filhos dos homens (Cf. Pr 8,31).
A consciência do tesouro eucarístico foi desenvolvendo na Igreja, com a contribuição das culturas, dos tempos e dos sinais, um respeito e modo de celebrar o culto eucarístico que ornou esse sublime sacramento de gratidão, de amor e normas de carinho e cuidado. São João Paulo II, na Mane Nobiscum Domine, recorda que a consciência da presença real de Jesus na Eucaristia faz “necessário que todo o modo de tratar a Eucaristia por parte dos ministros e dos fiéis seja caracterizado por um respeito extremo.”, e isso se faz concreto “com o tom da voz, os gestos, os movimentos, o comportamento no seu todo.” (n. 18).
Jesus que é Deus e que também é homem, tendo, portanto, um coração humano, que elogia o agradecimento do leproso (Cf. Lc 7,17-19), o beijo e o perfume em seus pés pela pecadora arrependida (Cf. Lc 6,36-37) e a atenção de Maria, irmã de Marta, às suas palavras (Cf. Lc 10,41-42), se alegra com o amor reverente prestado por seus fieis nesse divino sacramento. É um gesto de amor e respeito sagrado celebrar a eucaristia decorosamente e segundo as normas da Igreja (Cf. Mane Nobiscum n. 17), lembra o Papa Bento XVI que “A simplicidade dos gestos e a sobriedade dos sinais, situados na ordem e nos momentos previstos, comunicam e cativam mais do que o artificialismo de adições inoportunas.” (Sacramentum Charitatis n.40). Por sua vez, o Papa Francisco assevera: “A Missa não é um espetáculo: significa ir encontrar a paixão e a ressurreição do Senhor.” (Audiência 08/11/17) Desse modo, como um dos propósitos desse dia santo, poderíamos pensar como temos vivido, no que depende de nós, a Missa e o culto Eucarístico em geral, não só nos sentimentos, nem só no entendimento teológico, mas nos gestos, na disposição concreta, no amor manifestado nos sinais.
São João Paulo II afirma: “A presença de Jesus no sacrário deve constituir como que um polo de atração para um número cada vez maior de almas enamoradas d’Ele, capazes de permanecerem longamente a escutar a sua voz e, de certo modo, a sentir o palpitar do seu coração (…) Permaneçamos longamente prostrados diante de Jesus presente na Eucaristia, reparando com a nossa fé e o nosso amor as negligências, esquecimentos e até ultrajes que o nosso Salvador Se vê obrigado a suportar em tantas partes do mundo.” (Mane Nobiscum n. 18). Ver o Senhor que vem aos altares e às ruas de nossas cidades nesse dia, pode nos fazer pensar se temos ido a Ele, se valorizamos sua presença. Constatar a secularização de nossos tempos que, inevitavelmente, fere o respeito eucarístico, deve provocar em nós, mais que revoltas militantes ou comentários ofensivos na internet, um real desejo de amor, desejo de estar com Ele, de adorá-lO.
De modo bem direto e simples, prega São Josemaria – “o amor se dá pelo trato”! É preciso que devoção eucarística entre na prática do dia a dia. Ter o sacrário como “polo de atração”, deve motivar em nós visitas ao Santíssimo, se unir espiritualmente a Jesus no sacrário mais próximo para rezar no meio das atividades, ajudar a comunidade a ornar as capelas e altares, comungar com frequência, e, principalmente, buscar o quanto possível a Santa Missa!
Quantas graças recebemos ao estar na presença de Jesus! Creiamos em seu poder! Esse rei paga bem a visita de seus súditos, ninguém sai de sua presença sem algo de seu Coração, pois Ele é generoso. Se até as plantas diante do sol, sem nada dizer ou pensar, porque não falam nem pensam, desenvolvem vida por seus processos naturais, quanto mais o ser humano diante do Sol divino – Cristo Eucarístico – não desenvolverá vida da graça? Nos deixemos transformar pela Eucaristia!
São Pedro Julião Eymard, Apóstolo Eucarístico, parafraseando São Paulo dizia: “Nós pregamos Cristo, Cristo sacramentado”! O amor ao Sacramento do altar, torna o fiel um apóstolo dessa devoção. Na família, os pais, pelo exemplo, gestos e ensino, podem insuflar no coração das crianças o respeito, amor e desejo da presença de Jesus. No trabalho, escola, faculdades e nos círculos de amizade em geral, pela postura de devoção e reverência, por um convite para uma formação ou celebração, com naturalidade e sem esquisitices, pode o fiel ir propagando com amizade e bom humor a alegria de ter um Deus que se faz presente, se faz sacramento. Até mesmo na própria comunidade eclesial, o fiel cheio de amor eucarístico incentiva esse amor, com atenção e boa postura na Missa, com presença diante do sacrário, com gestos de respeito e adoração, como genuflexões bem feitas, fazendo-as como transbordamento de um coração enamorado.
Como é belo pensar na piedade do povo que vê Nossa Senhora, tendo S. João de companhia, viver sempre da Eucaristia que este celebrava. A ajuda dela seja pedida por nós para amar o Senhor e propagar esse amor no mundo. Amém!